A dica de língua portuguesa de hoje mostra como construir frases empregando corretamente o verbo "esquecer".
“Ao levar energia ao povoado de Mucuri em Murici, na semana passada, a Ceal esqueceu de mandar uma eletricista para ligar a chave.”
O trecho reproduzido acima foi extraído de uma nota publicada no periódico “O Jornal” sob o título “Gafe da Ceal”. Vale a pena lembrar o significado da palavra “gafe”, cuja origem é francesa: “ato e/ou palavra impensada, indiscreta, desastrada; indiscrição involuntária”.
De fato, a falha da companhia de eletricidade pode ser considerada uma gafe, mas o redator da nota também comete a sua gafe, uma espécie de “gafe gramatical”, quando deixa de empregar o pronome “se” com o verbo “esquecer”.
O verbo pronominal “esquecer-se” rege complemento iniciado pela preposição “de”, ou seja, é correto dizer que as pessoas se esquecem de alguma coisa. Isso significa que algo lhes fugiu à memória involuntariamente.
Também se usa o verbo “esquecer” sem o pronome “se”, é verdade. Nesse caso, porém, seu complemento é um objeto direto, ou seja, uma expressão que dispensa qualquer preposição. Assim: “Esqueceu o livro sobre a mesa”.
Quando o complemento é uma oração (como se verifica no fragmento destacado), o verbo deve aparecer em sua forma pronominal. Assim: “Esqueceu-se de dizer algo”, “Esqueceu-se de trazer algo” etc.
Com o verbo “esquecer” também se podem elaborar frases em que o objeto do esquecimento passa a ser o sujeito da oração. Temos, assim, construções como as seguintes: “Esqueceu-me a data de seu aniversário”, “Esqueceu-me o ocorrido assim que ela chegou”. “A data de seu aniversário” e “o ocorrido”, respectivamente, exercem a função de sujeito das orações. Essa construção é menos corriqueira na linguagem cotidiana, mas pode ser encontrada na literatura. Observe que essa sintaxe, de uso mais erudito, fixa a idéia de que o esquecimento é necessariamente algo involuntário, independente de nossa vontade. Na verdade, nós somos “vítimas” de nosso esquecimento…
Bem, para remendar as gafes, precisamos de um eletricista e de um pronome! Aliás, no texto publicado, foi empregado o artigo “uma” antes do substantivo comum de dois gêneros “eletricista” – o que leva à interpretação de que só uma mulher seria capaz de resolver o problema! Como se vê, um deslize na digitação do texto pode levar a um sentido diverso daquele pretendido.
Veja, abaixo, o texto reformulado. Observe que a expressão “em Murici”, denotadora de lugar, deveria estar entre duas vírgulas (a idéia é dizer “ao levar energia elétrica ao povoado de Mucuri, que fica em Murici,…”).
“Ao levar energia ao povoado de Mucuri, em Murici, na semana passada, a Ceal esqueceu-se de mandar um eletricista para ligar a chave.”