A dica de língua portuguesa de hoje trata do correto emprego das formas do futuro do subjuntivo e de uso do vocabulário.
“Segundo o secretário Coordenador de Planejamento, Gestão e Finanças, Sérgio Dória, os resultados sobre a retenção só poderão ser avaliado depois que haver o julgamento da liminar.”
O fragmento acima reproduzido foi extraído de notícia publicada no periódico “O Jornal”. O assunto em pauta é a retenção pelo governo federal da cota de R$ 45 milhões do Fundo de Participação dos Estados a ser repassada ao Estado de Alagoas.
O redator do texto, ao resumir aquilo que disse o secretário, fez uso equivocado da regência nominal (“resultado sobre”) e, sobretudo, da forma verbal “haver”.
Observe que a forma “haver” aparece numa oração encabeçada pela locução “depois que”. Essa locução indica tempo futuro, o que requer o uso do verbo no futuro do subjuntivo. Dizemos, por exemplo, “quando eu fizer”, e não “quando eu fazer”. Do mesmo modo, devemos dizer “depois que houver”, e não “depois que haver”.
A confusão, todavia, não ocorre por acaso. Tomemos verbos como “comprar” ou “empregar”: “Depois que eu comprar”, “Depois que eu empregar”. A forma do futuro do subjuntivo coincide com a do infinitivo na maioria dos casos. Esse é um comportamento dos chamados verbos regulares.
O verbo “haver” e o verbo “fazer”, entre muitos outros, são verbos irregulares, isto é, sua conjugação não segue o modelo predominante. Entre os verbos irregulares, não há, por exemplo, essa coincidência com a forma do infinitivo impessoal.
Para encontrar a conjugação correta do futuro do subjuntivo (para qualquer verbo), basta conjugar o verbo em questão no pretérito perfeito do indicativo (o passado simples) na terceira pessoa do plural (eles). Assim: “eles houveram”, “eles fizeram”. Feito isso, a etapa seguinte é retirar dessas formas a terminação “-am”. Com isso, obtemos a primeira pessoa do singular (eu) do futuro do subjuntivo. Assim: “depois que eu houver”, “depois que eu fizer”. Obtidas essas formas, a conjugação completa do verbo é feita com o acréscimo das desinências (terminações) que indicam as pessoas gramaticais (“depois que tu houveres”, “depois que ele houver”, “depois que nós houvermos”, “depois que vós houverdes”, “depois que eles houverem”; “depois que tu fizeres”, “depois que ele fizer”, “depois que nós fizermos”, “depois que vós fizerdes”, “depois que eles fizerem”).
Cuidado redobrado devemos tomar com os verbos derivados de “ter” e de “pôr” no futuro do subjuntivo. Dizemos “quando eu mantiver” (e não “manter”) e “quando eu repuser” (e não “repor”).
Abaixo está o texto corrigido. Foi feita também uma sugestão de substituição da palavra “resultado” por “conseqüência”. “Resultado” é termo que carrega certa conotação positiva, pouco indicada no contexto. O erro de concordância (“os resultados só poderão ser avaliado”), também corrigido, deve ser creditado a lapso no momento da digitação.
“Segundo o secretário Coordenador de Planejamento, Gestão e Finanças, Sérgio Dória, as conseqüências da retenção só poderão ser avaliadas depois que houver o julgamento da liminar.”