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A revolução cubana

Às vezes teve acertos, às vezes não. É muito fácil julgar a história depois que acontece. É o que os franceses chamam de “pensamento ao pé da escada”, quando você sai da festa e pensa: “Eu deveria ter respondido tal coisa...”

– “A revolução cubana nasceu de dentro, das profundezas de sua terra, e cresceu como se deve, de baixo para cima. Às vezes teve acertos, às vezes não. É muito fácil julgar a história depois que acontece. É o que os franceses chamam de “pensamento ao pé da escada”, quando você sai da festa e pensa: “Eu deveria ter respondido tal coisa…”

– “Tem acontecido coisas boas no mundo, como o desenvolvimento da cultura comunitária, os movimentos de reivindicação dos direitos da mulher, pelo reconhecimento da diversidade sexual, os movimentos pacifistas… E a mobilização gigantesca contra a guerra do Iraque antes dela acontecer que mostrou a contradição entre o que os povos queriam e os governos decidiam e que as grande mudanças sociais não estão centradas nos partidos e nos sindicatos.”

As coisas negativas

– “A incapacidade de escutar o outro; a negativa em aceitar a diversidade de idéias; a perpetuação da religião disfarçada de política, onde os dirigentes políticos se vestem de teólogos intérpretes da vontade divina. Outra parte negativa destes últimos anos é uma tendência a aceitar como inevitável a pior das heranças coloniais que é a cultura da impotência.

Os meios de comunicação de massa e a cultura da impotência

– “Eles transmitem que você tem o direito de assistir se aceitar que sua assistência será uma obediência. Os meios de comunicação estão a serviço de uma visão conformista. Mas surgiu a internet que é uma coisa incrível, ela permite vincular os desvinculados num mundo onde a prática cotidiana conduz ao desvinculo e ao divórcio entre a memória e a realidade. Foi graças a esse sistema moderno de comunicação que Aznar perdeu a eleição na Espanha.

A política de consumo, aliada a tecnologia, tornam o mundo mais injusto?

– “A sociedade de consumo está convidando as pessoas ao crime, emitindo suas mensagens publicitárias em direção a um massa de jovens sem nenhuma possibilidade de consumir aquilo que lhes é oferecido. Diz: “Se você não tem, você não é”. Quem não tem sapatos de marca não é ninguém. Para ter isso precisam roubar, matar, estuprar, seja o que for. Quem não consome não tem o direito de existir. A sociedade de consumo estimula a delinqüência tanto quanto as estruturas sociais injustas”.

A revolta do jovens negros francesas nas periferias de Paris

– “Existem contradições reais no sistema capitalista que tem como conseqüência uma marginalização crescente que vai continuar estourando. (…) A esperança que temos é que isto desemboque em coisas que abram perspectivas. Por enquanto é testemunho de uma situação insuportável que o sistema vinha dissimulando.

Um francês me disse que banlieu vem de “bannir”, que é jogar fora, castigar, punir, e de “lieu”, que é lugar. Banlieu (os subúrbios parisienses) então seria o lugar do castigo. Investigar a origem das palavras é encontrar chaves para explicá-las. O que faço na minha profissão? Textos. Qual a origem desta palavra? Vem do latim textum, ou seja, tecido. Ah, então sou um tecelão e as palavras são meus fios de cores. Meu ofício é tecer palavras.

Banidos de nós mesmos, quem somos?

– “Nossa concepção de nós mesmos é mutilada. Fomo treinados para que o espelho não nos devolva cara nenhuma. A mídia, o ensino oficial, o cotidiano, suprimem nossa identidade. A herança africana não existe. Da África só sabemos o que nos ensinou o professor Tarzan que nunca esteve lá. Tarzan foi escrito por um aposientado inglês que nunca pôs os pés na África.

A herança indígena foi reduzida ao pitoresco. Não se diz que temos uma herança de comunhão com a natureza, que somos irmãos de todos os que tem pernas mas também de todos que têm patas, asas, raízes. A cultura maia tem uma herança de relações comunitárias que sobreviveu a cinco séculos de perseguição.

É uma sobrevivência pobre, calada, anônima, mas em Yucatán, Chiapas, Honduras e Guatemala existem comunidades camponesas muito democráticas pois descendem de um povo que não tinha reis nem chefes guerreiros. Da herança islâmica então nem se fala!

O Reino do Bem e os novos Demônios

– “O Reino do Bem necessita ter demônios para se justificar e os istâmicos são os novos demônios. A indústria militar está gastando US$ 2.300.000.000 por dia na fabricação da morte! É difícil até de visualizar…. Com tanta criancinha morrendo de fome e as doenças curáveis isso é escandalosamente injusto.

Então inventam demônios que justifiquem isso. Hugo Chávez é um demônio porque alfabetizou dois milhões de venezuelanos usando a riqueza natural mais importante do mundo que é o petróleo. Na Venezuela havia dois milhões de crianças que não podiam ir à escola porque não tinham documentos. Então esse governo demoníaco fez uma coisa elementar: “Uma criança deve ser aceita na escola com ou sem documentos”.

E com isso se cai o mundo! Que desastre! Para que servem então os documentos? É a prova de que Chávez é um malvado, malvadão. A presença de médicos cubanos na Venezuela, sendo pagos com petróleo para atender aos bairros pobres, é outra prova de que Chávez está na Terra de vista, pois pertence mesmo ao inferno. E assim todo islâmico é um terrorista em potencial. Antes eram os comunistas. No tempo da inquisição eram as mulheres, todas suspeitas de serem bruxas…

O mundo se tornou mais democrático?

– “Não. Tornou-se mais mentiroso. Quando eu era criança minha mãe sempre me dizia: “La mentira tiene patas curtas”. Coitada da minha mãe, era muito inocente, não fazia idéia deste mundo cruel onde a mentira tem pernas longuíssimas. Tão longas são as pernas das mentiras que estas correm mais rápido que os mentirosos. Por exemplo: Blair e Bush reconheceram que mentiram, pois o Iraque não tinha armas de destruição em massa. O que acontece? Foram re-eleitos.

O povo, ao invés de castigar a mentira, a recompensa. Para mim está claríssimo que o mundo hoje não é democrático, está sendo dirigido por alguns organismos internacionais e são estes que decidem. Há um super-governo que governa os governos. Por exemplo: o Banco Mundial decidiu que em 16 países a água deve ser propriedade privada de empresas.

Esses 16 países foram obrigados a aceitar a privatização da água. O FMI decide o ritmo das chuvas, a velocidade das focas, a intensidade do amor dos amantes. Quantos países dirigem o FMI? Cinco, de dentre estes, sobretudo um. O Banco Mundial é mais democrático: são oito países. Por isso o nome “Mundial”. Quem decide as coisas dentro das Nações Unidas? A Assembléia Geral onde cinco países tem direito a veto.

Esses cinco países que velam pela paz no mundo são os cinco principais produtores de armas. Ou seja: os que lucram com a tragédia humana são os anjos guardiões da paz mundial. E a Organização Mundial do Comércio? No GATT – nome anterior do OMC – havia um estatuto que reconhecia o direito ao voto. Votou-se uma vez só.Como o resultado não foi bom, nunca mais se repetiu a experiência. Na OMC as decisões se tomam por consenso. Ou seja: nas organizações que dirigem o mundo o voto é visto com desconfiança. Enquanto o mundo não for capaz de mudar essa estrutura de poder não será democrático. E tampouco haverá paz, pois se as guerra necessitam de armas, as armas também precisa de guerras.

Aproximação Sul-Sul da política exterior brasileira, unindo Brasil, África do Sul e Índia

– “Isso é a melhor coisa que Lula está tentando fazer. Ou nos unimos ou estamos fritos. Se o Brasil, um país imenso, não pode fazer nada, imagina o Uruguai, um país pequeninho. Chegou uma força progressista ao poder no Uruguai, a Frente Ampla, mas aí se encontra numa situação impossível pois tudo lhe é vetado. Nada é possível! Isto alimenta a cultura da impotência. Todos somos pequenos ante essa estrutura mundial de poder onipotente. A única salvação que temos é a solidariedade entre os países excluídos.”

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