As causas da morte ainda estão nebulosas mas apontam para suicídio ou acidente com arma de fogo.
O Exército brasileiro confirmou a morte do general brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacellar, comandante militar da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), encontrado hoje com um ferimento causado por arma de fogo em seu quarto de hotel em Porto Príncipe – capital do país.
As causas da morte ainda estão nebulosas mas apontam para suicídio ou acidente com arma de fogo.
O assessor de informações públicas da força brasileira no Haiti, tenente-coronel Fernando da Cunha Matos, declarou à Agência Brasil que o general teria sido vítima de um acidente, quando manuseava uma arma no hotel. No entanto, a hipótese de suicídio foi considerada como motivo em um relatório da missão emitido na tarde local.
"O general brasileiro foi encontrado morto em seu quarto de hotel aparentemente devido a um disparo contra o próprio corpo", dizia o relatório mais recente da Minustah, emitido pouco depois do drama por militares filipinos que estavam encarregados da segurança.
"Ele disparou uma bala na boca", frisou para a AFP uma fonte militar da Minustah, que pediu anonimato. Por sua vez, o porta-voz da missão, Damian Onses-Cardona, rejeitou explicar as circunstâncias da morte do oficial.
"As circunstâncias que rodeiam esta tragédia estão sendo investigadas", destacou para a imprensa.
Em um curto comunicado, o Comando do Exército brasileiro "lamentou profundamente" a morte de Bacellar, de 57 anos, no hotel Montana da capital do Haiti. As primeiras imagens de televisão mostraram que o brasileiro vestia sandálias e um short branco e foi encontrado na varanda do hotel.
Em Brasília, o Exército também confirmou a morte de Bacellar, mas não divulgou as causas, destacando que estas seriam investigadas. Após a morte de Bacellar, o general chileno Eduardo Aldunate Herman assumiu como chefe interino da Minustah, informou em Santiago o Ministério da Defesa.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, se disse emocionado com a morte do militar das forças de paz da organização no Haiti, segundo seu porta-voz.
"O secretário-geral ficou emocionado e entristecido ao se inteirar da morte do comandante militar brasileiro", disse o porta-voz de Annan em um comunicado.
Nos últimos dias, os capacetes azuis da Minustah tinham sido alvos de fortes críticas no Haiti devido à crescente insegurança local, que é sentida especialmente na capital.
Pelo menos nove pessoas foram assassinadas no país desde o início do ano. Além disso, a Polícia haitiana registrou 40 seqüestros em Porto Príncipe, onde grupos armados atuam em completa impunidade em alguns bairros pobres da capital de 2,5 milhões de habitantes.
Na quarta-feira, os partidos políticos acusaram a Minustah de passividade e tolerância frente aos grupos armados.
Segundo uma fonte governamental, que solicitou o anonimato à AFP, há relações de cumplicidade entre os contingentes da Minustah e os grupos armados que operam no Haiti, um dos países mais pobres do mundo.
Novas agremiações políticas, reunidas no Acordo pela Democracia e Modernidade, exigiram uma revisão do mandato das forças da ONU posicionadas no Haiti desde 2004, que incluem 1.987 policiais internacionais e 7.500 militares de 14 países. O Brasil tem o maior contingente, com 1.213 homens, seguido de Nepal, Jordânia e Sri Lanka, com 750 militares cada. Argentina, Chile, Uruguai, Peru, Espanha e Marrocos contribuem também com tropas.
A Câmara de Comércio e Indústria do Haiti, com respaldo dos partidos políticos, convocou esta semana os haitianos a realizar uma jornada de greve e protesto para expressar sua rejeição à situação de insegurança do país.
"Uma das maiores causas de fracasso na transição, que deve trazer segurança e eleições sérias para o país, é a falta de vontade das autoridades políticas das Nações Unidas", disse na quinta-feira o presidente da Câmara do Comércio do Haiti, Réginald Boulos.
Inicialmente programadas para 13 de novembro de 2005, as eleições foram sucessivamente adiadas para 20 de novembro, 27 de dezembro e 8 de janeiro em função dos persistentes problemas técnicos.
As eleições deste domingo, dia 8, foram da mesma forma adiadas para uma data ainda não definida, mesmo que segundo uma fonte próxima ao Governo do Conselho eleitoral estejam programadas para 7 de fevereiro.
Segundo a Constituição haitiana, o novo presidente deve assumir as funções em 7 de fevereiro, mas este prazo já não pode ser respeitado.
O primeiro-ministro haitiano Gérard Latortue, que dirige o Governo interino, confirmou na quinta-feira que renunciará no dia 7 de fevereiro, apesar do adiamento das eleições. Contudo, a autoridade continuará encarregada dos assuntos do país até que haja um Governo legítimo.
Na sexta-feira, o Conselho de Segurança da ONU e o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) exigiram do Governo provisório a fixação de uma data definitiva para as eleições e a convocação do primeiro turno o mais tardar em 7 de fevereiro.
O Conselho de Segurança expressou seu apoio sem reservas à Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah) e ao representante especial do secretário-geral, o chileno Juan Gabriel Valdés.
A Minustah foi convocada pelo Conselho de Segurança da ONU e assumiu no dia 1 de junho de 2004 sob o comando brasileiro, substituindo a Força Multinacional Interina que havia sido liderada pelos Estados Unidos.
Ambas as forças foram convocadas devido aos distúrbios de 2004, que levaram à saída do país do ex-presidente Bertrand Aristide.
O primeiro comandante da Minustah foi o general brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que foi substituído por Bacellar em 31 de agosto passado. Horas mais tarde ao anúncio da morte do brasileiro, o general chileno Eduardo Aldunate Herman assumiu como chefe interino da Minustah, segundo o Ministério da Defesa de Santiago.