A dica de língua portruguesa de hoje trata da regência do substantivo "remédio" e do uso adequado das expressões "ao invés de" e "em vez de".
“Farmácia indeniza por vender remédio para piolho ao invés de emagrecedor”
O título acima encabeça notícia publicada na revista jurídica “Última Instância”. Foi escolhido para o comentário de hoje por permitir a abordagem de dois temas que são constante objeto de dúvida.
Em primeiro lugar, a questão de regência nominal (uso da preposição entre nomes), que está atrelada a uma questão semântica. Usa-se a preposição “para” depois das palavras “remédio” ou “medicamento” quando o complemento indica aquilo que se beneficia destes. Assim: “remédio para o fígado”, “medicamento para a garganta”.
Se o complemento indicar aquilo que se pretende combater, a preposição indicada será “contra”. Assim: “remédio contra a gastrite”, “medicamento contra a tosse”.
Além disso, o título acima soa engraçado: alguém poderia entender que o piolho é o comprador do remédio!…
A outra questão suscitada pelo título selecionado diz respeito à expressão “ao invés de”, muitas vezes confundida com “em vez de”. As duas existem, mas há uma pequena distinção de sentido entre elas. “Ao invés de” significa “ao contrário de”; “em vez de” significa “em lugar de”.
Ora, “em vez de” é expressão que pode ligar quaisquer termos, pois exprime relação de substituição. É possível fazer uma coisa no lugar de outra ou “em vez de” outra. “Ao invés de”, entretanto, só estabelece relação entre contrários (“Ao invés de subir, desceu”). Atente para o fato de que nem sempre as palavras têm antônimo. Por esse motivo, na maioria das vezes, o correto será “em vez de”.
Abaixo, o texto corrigido:
Farmácia indeniza por vender remédio contra piolho em vez de emagrecedor
Thaís Nicoleti de Camargo, autora dos livros “Redação Linha a Linha” (Publifolha), “Uso da Vírgula” (Manole) e “Manual Graciliano Ramos de Uso do Português” (Secom- Governo de Alagoas), apresenta o programa “Português Linha a Linha” na TV Pajuçara.