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Cajueiro: um lugar onde ousadia e criatividade viraram fonte de renda

No centro do Vale do Paraíba, na zona da Mata de Alagoas, há um lugar onde a arte está ajudando famílias a superar limites e garantir o sustento de quem dependia da monocultura da cana-de-açúcar para ter o que comer.

Brasil… país de clima tropical, rico em praticamente tudo que move o mundo, mas muito pobre em geração de renda.

Alagoas, um dos berços do turismo brasileiro, sobrevive aos tempos graças a monocultura da cana-de-açúcar.

Cajueiro – no centro do Vale do Paraíba – na Zona da Mata de Alagoas. Três histórias e praticamente uma realidade: faltam opções para a população ter uma vida digna.

No caso deste último exemplo, podemos dizer que a ousadia, aliada á criatividade, somada a vontade de vencer, com mais uma pitada de perseverança, rendeu uma receita caseira que vem mudando a vida de dezenas de famílias que, em sua maioria, dependiam da monocultura da cana-de-açúcar para tirar o sustento.

A pedagoga Gedalva Messias conta que, para muitos, o exemplo constatado em Cajueiro começou como brincadeira. Sobre tal afirmação ela diz ter uma tese: “tudo que é novo promove encantos e a arte, por si só,é um encanto para quem tem sensibilidade”.

A tese chega a parecer uma profecia, mas ela tem motivos para ter certeza no que fala. Como secretária municipal de Educação do município, na gestão do então prefeito Fernando Toledo (PSDB) – 1996 a 2004 – o apoio do Sebrae foi determinante. “Tínhamos apenas mão-de-obra e vontade de fazer acontecer. Procuramos o Sebrae e começamos a receber uma série de cursos de capacitação através do Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger). A partir daí a Prefeitura nos apoio no que foi necessário e começamos a formar um grupo vitorioso”, diz Gedalva.

A virada de mesa

As primeiras 40 famílias que tinham sua economia baseada na produção canavieira e dependiam do plantio, colheita e moagem da cana de açúcar, como sendo a única alternativa de ocupação passaram a perceber que algo novo poderia mudar o percurso de suas vidas.

Na verdade essa história havia começado há mais de 20 anos. “Por isso que muitos dizem que tudo começou como uma brincadeira”, argumenta Gedalva. O que nós não sabíamos é que uma iniciativa própria acabaria se transformando em uma nova modalidade de emprego e renda, principalmente no período da entre safra, quando o desemprego aumenta no município”, diz Fátima Santos, presidente da Associação São Francisco de Assis.

Com a técnica cada vez mais aprimorada o reaproveitamento das sobras de tecido das confecções, começava a dar origem as cochas de retalhos e a vida de mais de 40 pessoas passou por um processo de transformação.

Percebendo que a nova atividade já começava a chamar a atenção de compradores de outros municípios, as artesãs formaram uma oficina de trabalhos manuais para dar mais agilidade ao processo. Constatando que o produto para ser bem aceito no mercado deveria ser fabricado com maior qualidade, elas iniciaram um processo de capacitação com a ajuda da Prefeitura local e o capital humano começou a ser valorizado.

Há seis anos elas já trabalham para atender exclusivamente as encomendas e, além do expediente durante a semana em suas residências, se reúnem todos os sábados na sede da Associação São Francisco de Assis, que possui cerca de 150 sócias.

Apoio

Por meio de um contrato com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a produção começou a ser comercializada no Armazém Sebrae em Maceió e já é vendida para a Bahia e o Paraná, ale de ser exportada para os Estados Unidos.

Com um número cada vez maior de encomendas, as “fuxiqueiras” de Cajueiro necessitavam de capital de giro para comprar os retalhos nas confecções e atender a demanda que não pára de crescer, por isso, o apoio da Fundação Ação Feminina da Asplana (Fafeplal) foi decisivo para que a situação começasse a melhorar, uma vez que a instituição repassa mensalmente o valor de R$ 4,00 por cada associado, ajudando nas despesas.

Segundo a presidente da Associação São Francisco de Assis, Fátima dos Santos, o maior problemas ainda é o capital de giro, mas há expectativas que a situação possa melhorar. “Como trabalhamos por produção e temos que comprar o material e pagar o salário das meninas sobra muito pouco para investirmos, mas como sabemos que essa atividade mudou para melhor a vida de muitas famílias em Cajueiro, iremos persistir com esse sonho”, garante, destacando que o valor pago mensalmente varia de R$ 80 a R$ 220, dependendo da produção.

Reciclagem

Mas para a ex-presidente da associação e uma das maiores incentivadoras do projeto, Gedalva Messias, o trabalho com os retalhos além da contribuição social que está promovendo entre as famílias, serve, também, para reciclar os restos de tecido que eram anteriormente destinados ao lixo. Além disso, a atividade tem sido terapeutica, principalmente para as mulheres que chegaram a melhor idade.

“Através desta atividade estamos gerando emprego e renda, reciclando um material que antes era desperdiçado e possibilitando uma terapia àquelas que estavam ociosas, sem uma perspectiva e se achavam impossibilitadas de contribuir à sociedade”, salienta, destacando que a pretensão é investir também na recreação das associadas, promovendo passeis de lazer a exemplo do realizado mês passado para Garanhuns, em Pernambuco.