Depois de um período de descanso, Ronaldo Lessa (PDT), volta à cena política. Em entrevista à Rádio CBN Maceió, o ex–governador faz análises sobre as sucessões eleitorais no País e no Estado, fala de sua campanha ao Senado Federal e "dispara" críticas contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Depois de um período de descanso, Ronaldo Lessa (PDT), volta à cena política. Em entrevista à Rádio CBN Maceió, o ex–governador faz análises sobre as sucessões eleitorais no País e no Estado, fala de sua campanha ao Senado Federal e "dispara" críticas contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O senhor ficou algum tempo afastado dos "holofotes" da política. Esse afastamento foi só para descansar?
Ronaldo Lessa: Foi isso mesmo. O mês de abril foi um mês que eu tirei para recarregar as baterias. E também para deixar o Abílio à vontade, isso é muito importante. Mesmo que os dois governos sejam do mesmo partido. Esse tempo foi bom por que serviu para sedimentar essa nova administração. E esse tempo também me vez bem. Eu passei muito tempo no Executivo. Mas agora já estou planejando como irei montar a minha campanha para o Senado.
E a agenda como pré–candidato à Presidência da República pelo PDT?
Lessa: Eu tenho cumprido uma agenda nacional, mas eu não quero sair candidato à Presidência. Meu desejo é disputar o Senado. Em todos os encontros do PDT eu tenho dito isso. Ao meu ver o candidato do PDT à Presidência da República é o senador Cristovam Buarque (DF).
Mas há alguma insistência por parte do PDT para que o senhor seja candidato a presidente?
Lessa: Não. Já há um consenso de que deve ser o Cristovam, é melhor para o partido. Por que ele já está no meio do mandado, ele está querendo isso, ele está entusiasmado com a idéia. O que poderia acontecer de novo é com a coligação com outros partidos, meu nome vir de novo à tona. Vou torcer para que isso não ocorra porque acho melhor eu ser senador por Alagoas.
E como será a estratégia do partido para lançar Cristovam à Presidência?
Lessa: Veja bem, o documento do PPS lança o deputado federal Roberto Freire, mas ele, no dia 1º de maio teve uma conversa com o Lupi (Carlos Lupi, presidente do PDT) e deixou bem claro que não há nenhum problema da frente que nós estamos tentando montar, com PHS, PV, PDT e PPS, lançar o nome do Cristovam. Eu tenho verbalizado várias vezes que preciso passar por Brasília, para ter essa experiência do Senado. Por isso estou apostando, ou que seja o Roberto Freire, numa coligação com o PPS, ou o Cristovam Buarque, o nosso candidato.
Essa coligação tem chances de bater o Lula?
Lessa: Eu acho que tem. Apesar do Lula mostrar que tem "fôlego de gato", porque o Lula tem sete vidas, por que a cada dia tem um escândalo. Eu não imaginava que ele pudesse resistir, por exemplo, a queda do Palocci (ex–ministro da Fazenda, Antônio Carlos Palocci), e ele resistiu, e ele disse que não tirava o Palocci. Isso mostra que o Lula tem uma blindagem. Agora eu acho que ninguém é imbatível, tudo na vida tem um limite, por exemplo essa nova faceta que o Silvio (ex-secretário geral do PT, Silvio Pereira), traz à tona, ela pode ser fulminante, ela pode ser um míssil que destrua o presidente. Mas ainda não podemos avaliar, acho que o quadro ainda está indefinido. Não concordo com as pessoas que acham que eleição está decidida, como é o caso do senador Renan Calheiros, que conta como favas contadas a reeleição do Lula, ele acha que o Lula é imbatível. Eu acho que o Lula é um grande líder popular, está mostrado e está provado, mas eu não arriscaria dizer que o Lula é imbatível, vai depender muito das circunstâncias.
Falando das eleições em Alagoas, o senhor ainda não começou sua campanha, por quê?
Lessa: Gato escaldado tem medo de água fria. Ainda não houve as convenções, eu sempre faço as coisas dentro da lei e ainda sou punido aqui em Alagoas. Porque os outros desrespeitam tudo e não tem nenhum problema. Tem gente que já está em campanha a quatro anos e nada é feito contra essa pessoa, nada! Então eu vou continuar devagar, sendo mais rigoroso do que o rei, para cumprir a legislação e esperando que efetivamente a Justiça cumpra o papel dela, espero que ocorra isso. Por enquanto vou planejar a campanha, depois das convenções eu boto ela na rua.
O senhor continua com uma grande aceitação popular é isso que a gente vê nas pesquisas que estão circulando nos meios políticos na disputa ao Senado, no qual já aparecem alguns adversários seus na disputa, como o senhor avalia isso?
Lessa: Independente de quem seja o meu adversário, a minha plataforma será a mesma. O que eu tenho para apresentar? A minha vida e o que fiz pelo Estado são as minhas credenciais, que o povo pode confiar de que eu vou para Brasília para defender Alagoas e vou lutar pelo País também. No Senado da República, eu vou lutar muito por Alagoas mas vou querer fazer esse País um pouco melhor. E vou lutar contra as desigualdades sociais, eu acho que nós continuamos vítimas, não é só o Nordeste, o Norte continua sendo colonizado pelo Sul de forma desumana. E aí eu critico as políticas federais, e não tiro o governo Lula disso. Acho que o governo Lula tem tido com os outros países uma política melhor do que ele tem dentro de casa com os irmãos. Acho que o tratamento que é dado a gente, é um tratamento desigual, perverso, não é diferente do que vinha sendo dado antes, às vezes acho que tem até certos agravantes.
Eleito senador essa será uma de suas "bandeiras" ?
Lessa: Sim. Eu quero trabalhar no Senado com relação a isso, acho que para construir essa pátria e discutir melhor essa questão de Estado federado, acho que o Brasil ainda não conseguiu compreender isso. Eu tenho muitas reservas com relação aos Estados Unidos, mas uma coisa que eles aprenderam e que lá existem estados federados. Aqui se estabelece normas para Roraima iguais para São Paulo. Eu quero ir para o Senado para a gente também ter um País, um país pai, um país pátria, nação, que entenda as diferenças da gente e nos respeite como nós somos.
E os outros candidatos ao Senado?
Lessa: Respeito todos eles, o candidato do PFL já foi lançado, que é apoiado pelo PTB, o PSOL já indicou um nome que é um companheiro meu da época de estudante, por enquanto são os dois nomes que eu sei que estão postos. Eu vou colocar minha vida e minha história para o julgamento da população, e evidentemente pedir o voto e a confiança do povo para que eu possa continuar o meu trabalho político no Senado.
O Instituto GAPE em sua última pesquisa mostrou uma diferença de 20 pontos percentuais entre João Lyra e Teotonio Vilela Filho, que é do PSDB, partido que está sendo apoiado pela coligação que tem o PDT como um dos integrantes. Téo creditou o mau desempenho ao fato de ainda não ter colocado a campanha na rua, e que o quadro deve ser alterar quando isso acontecer, o senhor concorda com essa opinião?
Lessa: Concordo. Depois das convenções, durante a campanha, nós mostraremos para a população a importância da unidade Teotonio, Ronaldo e Renan, as forças políticas que nos acompanham, prefeitos, deputados, vereadores, a população que tem acompanhado o trabalho da gente. Todo muito viu o esforço que eu fiz durante o meu governo, mas o êxito da minha administração se deve muito a união dessas lideranças, garantindo os recursos e fazendo a interlocução com Brasília. No passado era o Téo, no governo Fernando Henrique, agora é o Renan, com o governo Lula. Tem sido importantíssimo para Alagoas essa força política, esse entendimento, esse entrosamento. Eu não tenho receio, acho que o Teotonio está agindo com bastante tranqüilidade, acredito que o processo seja esse mesmo. A corrida ao Palácio Marechal Floriano ainda não começou.
O senhor tem saído vitorioso das últimas disputas eleitorais, muitas vezes até revertendo quadros desfavoráveis. Para as vitórias existe alguma receita? O senhor pretende dar alguma "dica" para Teotonio vencer as eleições?
Lessa: Cada eleição é uma eleição. Não existe uma regra geral. Agora, primeiro, ninguém ganha de véspera, não tem eleição ganha, nem eleição perdida. Por isso quando dizem que eu estou eleito eu digo: "Vote em mim". No caso do senador Teotonio Vilela, ele tem uma vida pública que precisa ser mostrada e tudo o que vez por Alagoas. Foi fundamental a interlocução do senador durante o período em que o Fernando Henrique foi presidente. A Unidade de Emergência de Arapiraca, as escolas que nós construímos, o projeto Alvorada para construção de casas populares, só foram possíveis graças a determinação de Teotonio Vilela de ajudar esse Estado.
PT e PCdoB entregaram os seus cargos no governo, como o senhor vê essa atitude?
Lessa: Eu queria que isso não ocorresse. Eu trabalhei para que eles não saíssem. Mas o PCdoB já tinha tomado a decisão, eu cheguei a conversar com o Bomfim (Eduardo Bomfim, ex–secretário de Cultura) e com o vereador Marcelo Malta, mas era irreversível a posição deles. O ideal era que a gente não tivesse isso. O PT alega que precisa de um palanque para o Lula aqui no Estado, e que a Lenilda é uma novidade, é uma mulher vinda do sindicalismo, eles tem a suas justificativas para tomar essa decisão. Eu preferia tê–los conosco mesmo que isso exigisse a gente fazer um palanque diferente quando o Lula viesse. Montava–se um palanque com o PT, o PSB e os partidos que estão apoiando ele. Mas isso não foi possível e eu respeito essa decisão.
O senhor já está há algum tempo afastado do governo do Estado, como o senhor avalia a atual relação entre os governos estadual e federal. Alagoas continua com seu nome na lista de inadimplentes do Tesouro Nacional?
Lessa: É lamentável que o governo federal não tenha com os Estados federados o comportamento que tem até com o exterior. Todo mundo sabe que durante muito tempo eu lutei para o PDT apoiar o governo Lula, eu achava que a era Lula não tinha acabado e que nós tínhamos que apoiar. Mas hoje em dia já não penso assim, não estou na oposição só por que meu partido está, estou por que meus argumentos foram por terra, em função do comportamento que a equipe de governo tinha e ainda tem com Alagoas. Outra coisa que impressiona é o engessamento do presidente. Do que adiantou a gente ir lá, isso já fazem cinco meses, e ele dizer que ia colocar o dinheiro para o Canal do Sertão. Daqui a pouco o dinheiro não poderá vir mais por que nós estaremos no período eleitoral. Aí vem para cá dizer que mandou mais dinheiro que o governo passado. Não venham com brincadeira. É lamentável isso, e digo isso constrangido porque votei quatro vezes no Lula. Apostei demais nesse projeto
E o PT, até esses dias, fazia parte do governo comandado pelo senhor.
Lessa: Sempre que pude trouxe o PT para o governo para trabalhar, pelo respeito e pela competência que eles tem. Lamento que a gente esteja sendo tratado desse jeito. Eu nunca vi uma coisa tão difícil quanto está sendo para Alagoas esse relação com o governo federal.
Como o senhor acha que o governador Luis Abílio irá conduzir essa questão?
Lessa: Ele tem paciência, ele é uma pessoa talhada para ir conversar com o Lula, de novo, com o Mantega. O Abílio tem calma, conhece todos os nossos projetos, está preparada para enfrentar essa situação. Ele está fazendo tudo como eu esperava, e espero que faça até melhor em alguns pontos.
Independentemente de quem seja o novo governador em que condições ele encontrará Alagoas?
Lessa: Vai encontrar um Estado que está pronto para crescer, aliás que está crescendo. Os adversários ficam insistindo afirmando que nós não trouxemos empregos e indústrias para cá. Essa é uma visão totalmente ultrapassada. Até 2004 nós já tínhamos dobrado o PIB, sem nenhuma Volkswagem ter vindo se instalar aqui. Ora, se dobrou o PIB e nenhuma grande indústria se instalou aqui, nós diminuímos a pobreza. Quer dizer, a geração de renda está vindo de baixo para cima. Nós criamos o fundo de combate à pobreza, estamos emprestando dinheiro a quem nunca entrou nesse mercado de trabalho. É o cidadão que agora tem como sobreviver. E tem um outro investimento que eles também não contam que é o investimento em educação. Criamos mais 200 mil vagas nas escolas, transformamos a Ciências Médicas em universidade, a Funesa, que não tinha os cursos reconhecidos, este ano também será transformada em universidade.
Mas o trabalho ainda não está completo.
Lessa: Mas já não somos exemplo do que há de pior no País. O alagoano mostrou mais uma vez que vence os desafios, que se ele tiver um governo minimamente sério, a sociedade dá resposta. O próximo governador vai encontrar um Estado em pleno desenvolvimento, mas com muita coisa a fazer.