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EXCLUSIVO: Júnior Pagão fala com a imprensa pela primeira vez

Em entrevista exclusiva ao Alagoas 24 horas, no escritório do seu advogado, por telefone, o vereador por Rio Largo nega autoria dos crimes que lhe são atribuídos e afirma que O delegado Marcílio Barenco- titular de Rio Largo- tem problemas pessoais com ele.

Alagoas24Horas

Advogado Bruno Cardoso defende inocência do cliente Júnior Pagão

O vereador de Rio Largo, Alexandre Cardoso, o Júnior Pagão, concedeu – agora há pouco – entrevista exclusiva ao Alagoas 24 Horas. O vereador é foragido da Justiça e acusado – pela Polícia Civil – em 19 crimes, onde figura como indiciado. Pagão alega inocência e diz que foi vítima de uma “armação política”, apesar de não saber atribuir a quem.

O vereador alega, ainda, que o delegado de Rio Largo, Marcílio Barenco, conduziu o inquérito pelas emoções, devido a uma desavença pessoal. “Uma vez aconteceu um protesto contra a violência em Rio Largo, do qual eu e algumas autoridades participamos, entre elas o deputado Gilberto Gonçalves. Na ocasião, cobrei o empenho do parlamentar na segurança pública que é uma responsabilidade do Estado de Alagoas. No mesmo dia, o delegado Marcílio Barenco me ligou pedindo para que eu fosse à delegacia”.

“Eu fui até lá. Ele (o delegado) me perguntou se eu tinha falado mal dele durante o protesto. Eu respondi que não. Disse ao Barenco que tinha falado da responsabilidade de todas as autoridades na luta contra a violência, mas que em momento algum tinha falado mal dele. Foi então que o delegado falou: ‘o deputado Gilberto Gonçalves me ligou e disse que você falou mal de mim, vou apurar esta história’”, declarou Pagão.

O vereador disse que a partir daí surgiu um desentendimento pessoal com Barenco, provocado pelo próprio delegado. Na conversa – segundo Pagão – Barenco teria dito que “já estava acostumado a colocar vereador na cadeia”. “Eu venho de uma cidade onde já fiz isto”. “O delegado levou para o lado pessoal. Nunca falei mal dele, apenas disse que havia em Rio Largo um desrespeito com as autoridades policiais. Estava se matando a 100 metros da delegacia”.

Júnior Pagão disse que na época se sentiu ameaçado. Ele acredita que Barenco cometeu um erro ao indiciá-lo e que agora não possuía humildade suficiente para voltar atrás. “É preciso que a Justiça apure com responsabilidade e que a imprensa noticie os fatos com isenção. Como é que eu sou o culpado pelos homicídios e seqüestros, se a maioria dos membros foram presos e a situação de violência em Rio Largo continua a mesma. Eu fui considerado um dos vereadores mais atuantes da cidade. Sou pobre e fui eleito sem gastar dinheiro, como é que eu sou um dos homens mais temidos da região”, indaga Pagão.

Segundo o vereador, a família Pagão – caracterizada como violenta e truculenta pelas autoridades policiais – nunca esteve envolvida em crimes. “Estivemos envolvidos em uma rixa pessoal com os Olivença, mas não houve esta história de crimes, seqüestros e outras coisas que estão imputando à família Pagão. Isto é uma armação política. Se sou bandido, por que não descobriram antes? É estranho que apareça logo agora, em época de política. Vários vereadores estão sendo perseguidos. Peço até a atenção da União dos Vereadores de Alagoas (Uveal) para o que vem acontecendo em épocas de eleição”, defendeu.

“Como vereador eu levantei uma bandeira contra os seqüestros que estavam acontecendo da cidade de Rio Largo. Por conta disto devo ter incomodado poderosos. Sempre lutei contra a violência”, disse Pagão, que afirmou ser aliado político da prefeita de Rio Largo, Vânia Paiva (PMDB), mas disse não ter contato direto com Ricardo Sacavuzzi, ex-coordenador de finanças da Prefeitura Municipal. “Minha ações de combate à criminalidade feriram os interesses dos reais seqüestradores”. Pagão diz não saber os nomes de quem supostamente esteja por trás das redes de seqüestros.

Indagado se possui inimigos políticos, ele alega “não ter inimizades”. “Possuo adversários políticos, não inimigos. O principal deles é o deputado Gilberto Gonçalves, que ligou para o delegado Barenco para me acusar de ter falado mal dele”. O vereador falou também sobre a falta de credibilidade da testemunha-chave dos inquéritos que o acusam. “Todos os inquéritos são baseados em uma única testemunha que estava em Rio Largo desde 2004. Ele cita crimes que aconteceram em 2002 e me acusa, como é que pode?”, indaga.

Pagão fala que possui uma “antiga desavença” com a testemunha – que já trabalhou como motoboy e vigilante em Rio Largo. “Eu o expulsei da Associação de Motoboys da cidade porque ele estava envolvido em roubos e calotes no comércio da cidade. É um criminoso. Se eu tivesse rabo preso com ele e caso ele soubesse de algo que me incriminasse, será que eu teria feito isto? Claro que não. Agora, é óbvio que esta testemunha tem raiva de mim. Outra coisa estranha deste inquérito é que todo mundo acusa o chefe da quadrilha. Todo mundo entrega. É estranho isto”, colocou o vereador.

Durante a entrevista, concedida por telefone, foram mostrados diplomas de “vereador mais atuante” e trechos de depoimentos onde os acusados – entre eles o de José Joaquim dos Santos, o Cow – afirmam que teriam sido torturados a mando do diretor-geral da Polícia Civil, Robervaldo Davino, para que fossem dadas versões incriminando Pagão. Davino negou a prática de torturas, desde a primeira vez que estas informações saíram na imprensa. Para o vereador faltam provas racionais para que ele seja acusado como mentor e patrocinador de uma rede de crimes organizados em Rio Largo.

“Como posso ser chefe dessa rede? É contraditório. Eu fui o vereador mais votado, sempre estive ao lado da população e isto sem precisar – como já citei – gastar dinheiro”. Pagão afirmou, ainda, que a Operação Mata do Rolo – desencadeada no dia 31 de janeiro deste ano – foi falha. “As pessoas presas durante aquela ação da Polícia Civil não possuem o perfil de criminosos. São trabalhadores, possuem famílias. Erraram feio. Eles têm que voltar atrás, neste erro que cometeram”.

“Creio na justiça de Deus e faço um apelo à Justiça de Alagoas para que não se deixem guiar por alguns setores parciais da imprensa. Eu não generalizo, não são todos, mas nunca se procurou saber a minha versão para os fatos. Fui acusado, sem ninguém me ouvir”. Indagado sobre o fato de não ter sido ouvido por estar foragido e com destino ignorado, Pagão diz que sempre esteve à disposição pelo telefone, basta ligar para o advogado Bruno Cardoso.

Júnior Pagão confirma que ainda é vereador por Rio Largo e está licenciado da Câmara Municipal. “Tentaram me cassar, mas eu tenho direito à licença e ao afastamento. É preciso que primeiro eu seja julgado”. Pagão disse, também, que permanece no Partido Verde (PV). “Quero aproveitar para elogiar a postura da nossa presidente estadual Sandra Menezes. Foi uma mulher consciente. Disse, na mídia, que eu só seria expulso caso ficasse comprovado alguma denúncia feita contra mim. Está esperando ser provada alguma coisa. Se todos tivessem a coerência desta mulher seria ótimo. Um dia ainda quero conversar com ela pessoalmente e agradecer por isto”, colocou Pagão.

Durante a entrevista, o advogado Bruno Cardoso solicitou que não fosse feita nenhuma pergunta sobre onde o vereador se encontra ou quando ele pretende se entregar, mas o próprio Júnior Pagão alegou que “se entregar é um desejo”. “Pensei nisto assim que tive a prisão decretada, mas temo pela minha segurança. Só me entrego se for garantida a minha integridade. Vejo o caso destas pessoas acusadas que foram presas, como Alexandre Berto e o Cow, que fugiram, mas ninguém sabe como, nem de que forma. Tenho medo de morrer, por esta razão me encontro foragido”.

“Sinto-me isolado. Minha situação é muito difícil e constrangedora. Estou não só isolado, mas sendo julgado pela sociedade. Sem a presença física da minha família, sem os meus amigos. Passo por momentos de depressão, que até me recupero às vezes, mas é muito complicado passar por isso. Espero que no final de tudo a Justiça de fato seja feita. Quero que as pessoas reconheçam os seus erros e voltem atrás, por uma questão de humildade. Minha família não é isto que estão colocando, nem eu sou”, defendeu-se.

Ao encerrar a entrevista, Pagão disse ainda que não perdeu a confiança na Polícia Civil. “Não podemos generalizar. Eu confio na Polícia Civil, mas esta armação é tão absurda, que temo pela minha vida. Posso morrer – caso me entregue – em uma delegacia, principalmente pelo momento político”, finalizou Pagão.

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