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Alagoas perdeu Nonô

O público na galeria, os colegas no plenário, as taquigrafas, os funcionários e até os seguranças nesse momento vacilam desviando o olhar para a tribuna;

O público na galeria, os colegas no plenário, as taquigrafas, os funcionários e até os seguranças nesse momento vacilam desviando o olhar para a tribuna; lá, gesticulando, está o deputado que tem o poder de fazer a Câmara Federal parar para ouvi-lo.

Que pena! O deputado federal de Alagoas cortejado, respeitado e reverenciado não vai mais voltar para Brasília; aventurou-se numa candidatura para o Senado e foi atropelado pelos acontecimentos e pelos “amigos” – ou por quem julgava sê-los.

Até o fim

Abandonado à própria sorte, foi até o final e dizem que teve o gesto nobre de liberar os correligionários para votarem em quem quisessem para senador – no que acredito.

Não dá mais para falar sobre a malograda aventura; para o candidato foi uma experiência amarga e, para Alagoas, será uma tragédia ter de conviver quatro anos com a mediocridade que nos persegue há muitas e muitas legislaturas.

A pauta

Em 1979 o jornalista Márcio Canuto era editor da Gazeta – editor mesmo; editava texto, fotografia e a diagramação; comandou a passagem da Gazeta para o sistema “off set” e pensava o jornal como fazem os grandes editores.

Na segunda-feira o Márcio chegava à redação já com a pauta do jornal de domingo, que é o dia de maior tiragem, vendagem e leitores. O Márcio, mesmo sem a concorrência brutal da Internet, que não existia na época, cuidava para que a Gazeta de domingo fosse inédita, com especiais.

O desafio

O sucesso da televisão na época era o seriado “O homem de 6 milhões de dólares” e o Márcio pensou numa matéria com o secretário estadual da Fazenda, que havia tomado posse. O novo secretário da Fazenda teria de arranjar 6 milhões de cruzeiros para pagar a folha de pessoal do funcionalismo.

O secretário da Fazenda era o então promotor José Thomaz Nonô, que não queria dar entrevista; mas, o Márcio já tinha a manchete: “O homem de 6 milhões de cruzeiros”, que ele mandou o Nóbrega vazar sobre a foto do Nonô para matéria de página inteira.

– “Baixinho, se vire, eu quero a matéria.”

Ufa! Consegui

Sai com a pauta cabreiro porque o Nonô não havia recebido o Teófilo Lins, que fazia Economia e já era veterano – quanto a mim, com cinco anos de profissão, talvez não tivesse acesso sequer à secretária.

Mas, tive acesso e foi com a secretária que consegui entrar; contei-lhe uma mentira daquelas. Disse-lhe que estava disputando o emprego na Gazeta e o teste era a entrevista com o secretário da Fazenda; falei que precisava do emprego e pedi ajuda.

A entrevista

Consegui entrar; o Nonô me recebeu entre papéis e, enquanto assinava documentos, disparou:

-“Quer dizer que a Gazeta tá dando emprego a quem me entrevistar?”

– O senhor é importante.

– “Importante? Importantes são os pepinos que eu tenho para resolver aqui”.

– O senhor é o homem de 6 milhões de cruzeiros…

– “Que história é essa?”

E assim conheci José Thomaz Nonô. Em 1993, em Brasília, vou com o jornalista Jorge Oliveira ao gabinete dele no Anexo IV da Câmara e saí empregado como assessor; passava o dia na Câmara e à noite ia para o Jornal de Brasília.

-“Nunca preenchi meus cargos todos, porque sempre pensei que um dia poderia chegar aqui um alagoano maluco igual a você procurando emprego”.

Em 94 ele assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa, e naquele ano deu-se o escândalo dos “anões do Orçamento”. Nonô ganhou destaque nacional.

O luto político

Sou testemunha do respeito e do prestígio que Nonô desfruta no Congresso Nacional; sou testemunha também da convivência harmoniosa em seu gabinete, o 812 do Anexo IV da Câmara.

Lá estão os funcionários que o acompanham há seis legislaturas; conheço muito bem a todos e sei o quanto estão sinceramente sentidos com a perda, com a dissolução dessa família que entendia perfeitamente o chefe – e gostam dele.

A Suely, chefe de gabinete; a Neide, secretária; o Carlos, digitador; o Chico, que faz-tudo; e o André, da informática, estão nesse momento lamentando essa separação traumática.

Todos eles aprenderam a trabalhar com Nonô e não reconhece nele qualquer dificuldade de convivência. Estamos todos de “luto político” por esta perda irreparável no Congresso Nacional – Alagoas está condenada a ser órfã por quatro anos.

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