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Mais uma barraca do Francês é derrubada

A Gerência de Patrimônio da União cumpriu mais um mandado judicial de reintegração de posse, na manhã de hoje, e derrubou mais uma das barracas localizadas na Praia do Francês, distante 14 quilômetros, área pertencente ao município de Marechal Deodoro. A decisão foi tomada pelo juiz da 7° Vara, Frederico Wilson.

A Gerência de Patrimônio da União cumpriu mais um mandado judicial de reintegração de posse, na manhã de hoje, e derrubou mais uma das barracas localizadas na Praia do Francês, distante 14 quilômetros, área pertencente ao município de Marechal Deodoro. A decisão foi tomada pelo juiz da 7° Vara, Frederico Wilson.

Desta vez foi derrubada a Barraca do Sol. O estabelecimento pertence a Lourinete Mizael de Lima, irmã de Maria Mizael, a Maria Baixinha, que já teve sua barraca derrubada pela Gerência de Patrimônio da União em Alagoas. Esta é a terceira barraca derrubada. A previsão é que todas tenham o mesmo destino.

Conforme o gerente do Patrimônio da União em Alagoas, Carlos Barromeu, as derrubadas fazem parte de um projeto nacional para reurbanização das orlas de todo o país, além de regulamentar o espaço urbano. “O projeto vai reorganizar a orla, permitindo acessibilidade e maior visibilidade, por parte dos moradores. Assim que for derrubada a última barraca, serão implantados comércios padronizados, com acesso garantido a praia”, colocou Barromeu.

De acordo com Carlos Barromeu, toda a região da Marinha em Alagoas passará pelo processo de revitalização, incluindo áreas como Barra Nova, Coruripe e Paripueira e Praia da Sereia. “Os imóveis dentro da área pertencente à Marinha estão atrapalhando o ir e vir do cidadão. Toda esta área é de domínio da união, portanto estamos cumprindo um projeto visando o bem-comum”, destacou.

Barromeu revelou ainda que os comerciantes que perderam as suas barracas terão prioridade, quando for iniciado a construção dos estabelecimentos padronizados. O gerente não soube precisa prazo, pois – segundo ele – a derrubada completa depende da Justiça. A barraca de hoje, por exemplo, aguardava parecer judicial desde 2002.

Enquanto isto, conforme a proprietária da Barraca do Sol, a economia local amarga perdas, já que há uma diminuição significativa dos postos de emprego – direta ou indiretamente – e conseqüentemente das rendas das famílias. “É muita gente que depende destas barracas, desde quem de fato trabalha nelas até todo o comércio que ocorre em volta dos bares, como os ambulantes, flanelinhas etc”, destacou Mizael.

De acordo com a comerciante, Ivete Vicente, 46, proprietária de uma das barracas que está na lista de demolição, “os trabalhadores estão submetidos a uma lista de espera e sofrimento, já que todos sabem que terão que deixar o local”. “Eu sustento duas famílias, a minha e do meu filho, e só tenho isto aqui, já que não recebo pensão ou sou aposentada. É da minha barraca que sobrevivo. Quando ela for derrubada, só vai me restar orar para Deus e pedir que rapidamente surja estes estabelecimentos padronizados, que tanto eles falam”, salientou.

O mandado da Justiça foi cumprido pela oficial Ilma Sabino. A Polícia Militar deu apoio logístico, mas – apesar do sofrimento dos comerciantes – não houve resistência e a reintegração de posse ocorreu de forma pacífica.

Assim como ocorreu nas demolições passadas, os comerciantes – que pedem para não ser identificados – denunciam que as derrubadas são na verdade para atender a empresários que sobrevivem da especulação imobiliária. “Grupos portugueses já estiveram aqui e há empresários alagoanos envolvidos na compra de terrenos para construir empreendimentos de grande porte, que ferem a lei ambiental”, destacou um dos comerciantes locais.

Os comerciantes alegam que a área só seria do interesse da Marinha, em caso de guerra no Brasil, como prevê a lei. No entanto, os mandados estão apoiados num projeto nacional de reorganização do litoral brasileiro. “Eles se apoiaram na decisão federal para mexer os pauzinhos, tanto que os processos estão sendo julgados aqui em Alagoas a revelia, enquanto nós tentamos reverter a situação em Recife”, disse um dos comerciantes.

Indagado sobre quais seriam os empresários, o comerciante se limitou a dizer: “Só é vocês da imprensa procurarem saber quem anda comprando os terrenos que ficam próximos às barracas. Eu que não vou dizer. Tenho uma filha para ver crescer e o jogo aqui é pesado. Por esta razão, quero meu nome fora disto. Cansei de bater de frente com esta gente”, desabafou.

“Estes e empresários não ligam para o caos social que vai se formar na Praia do Francês, caso estas barracas deixem de existir. Ninguém aqui quer o ilegal. Queremos trabalhar. Se houvesse realmente um projeto de revitalização e reurbanização, estaríamos todos envolvidos, como participamos da única reunião que teve para discutir as mudanças na orla do Francês”, concluiu.