De acordo com Renan, é função desse Parlamento aproximar as culturas, desfazer eventuais desconfianças e debater os diferentes interesses de cada integrante do bloco
Ao conduzir, nesta quinta-feira (14), a sessão de instalação do Parlamento do Mercosul, o presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que o Brasil não tem pretensões hegemônicas na América Latina, como alguns países chegam a suspeitar. Ele definiu a inauguração desse fórum como um momento histórico e anunciou o grande desafio que essa instituição terá pela frente: legitimar a integração, representar seus povos e trazer a debate os grandes temas regionais.
De acordo com Renan, é função desse Parlamento aproximar as culturas, desfazer eventuais desconfianças e debater os diferentes interesses de cada integrante do bloco. Ele recomendou que Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil não esmoreçam na consolidação desse bloco econômico. Para ele, a vontade de integração deve prevalecer acima de qualquer divergência.
O presidente do Senado reconheceu que há momentos, na América Latina, em que o Mercosul parece não progredir. Mas explicou que são assim os processos de integração: "paulatinos e necessariamente adaptáveis às circunstâncias históricas, para que possam ser irreversíveis".
Na opinião de Renan, todo processo de integração é lento e se faz com avanços e retrocessos. Isso porque cada nação tem seus próprios interesses internos, e, naturalmente, há setores da sociedade que se sentem prejudicados pelos produtos concorrentes ou por decisões tomadas por países vizinhos.
Ao referir-se à desconfiança com que, muitas vezes, o Brasil é visto por outros países sul-americanos, em razão de suas dimensão geográfica e de sua força econômica, Renan assegurou que o país não tem o propósito de preponderar sobre outras nações.
– Temos sempre deixado claro que não possuímos qualquer pretensão hegemônica. Os contenciosos não deixarão de acontecer. Novas divergências poderão surgir em nossa União. O Parlamento do Mercosul será, entretanto, o grande espaço para que todas as questões regionais sejam intensa e livremente estudadas e discutidas, com a legitimidade dos representantes de nossos povos.
Renan disse que o Brasil sonha com uma integração completa, com moeda única, e livre trânsito, não só de mercadorias e empresas, mas também de pessoas, que haverão de ter cidadania única, a cidadania sul-americana.
– Por que somos países unidos, com interesses comuns diante do mundo. Esse é um sonho ainda distante, mas possível. Um sonho que nos cumpre realizar. Caberá ao Parlamento do Mercosul, como fórum de debates e troca de idéias, de busca de consenso, de aproximação e de avanços institucionais na integração sul-americana, tornar nossa aspiração realidade.
Renan definiu como uma dádiva do destino reservar, aos que se encontravam no plenário, a honra de participar dessa iniciativa fundamental para a consolidação da integração sul-americana. "Trata-se de um passo da maior importância na consecução do ideal de integração regional que nos move a todos: um símbolo concreto de nosso firme compromisso com a democracia, com a liberdade e com a paz".
Depois de dizer que esse Parlamento desempenhará papel decisivo na consolidação democrática e no amadurecimento político-institucional dos países que compõem o bloco, ele explicou que, ao final de 2010, na segunda fase da transição, entrará em vigor a "representação cidadã", iniciativa pela qual cada país elegerá diretamente, pelo voto popular, seus representantes no Parlamento, conforme a legislação de cada estado-membro.
O presidente do Senado também disse que a instalação desse Parlamento é uma demonstração cabal de que a integração regional da América Latina é irreversível e desejada por todos nós. Para ele, essa união vai além da parceria econômico-comercial, pois será também científico-tecnológica, cultural, jurídica, social e estratégica.
– O Parlamento do Mercosul constituirá seguramente o fórum político de debates e de busca de consenso nos temas que interessam a nossa região. Com o Parlamento, conseguiremos acelerar o processo de internalização das normas do Mercosul a nossos ordenamentos jurídicos internos. E com o peso de sua representatividade, ele servirá à nossa determinação de promover os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável da região, com inclusão e justiça social, bem como o respeito à diversidade cultural de nossos povos – ressaltou Renan.