Segundo uma testemunha, PM Aldair Gonçalves Fonseca liderava três equipes que atuavam em assaltos, extorsão e homicídios na região do Tabuleiro do Martins.
O Núcleo de Combate ao Crime Organizado (NCCO) do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas acatou o pedido de Prisão Preventiva contra o Policial Militar (PM) e líder comunitário do conjunto Village Campestre, Aldair Gonçalves Fonseca.
O pedido de prisão foi aceito depois que uma testemunha resolveu contar tudo o que sabia para dois promotores do Ministério Público (MP) Estadual e um delegado da Polícia Civil. O militar está sendo acusado de ser o líder de uma quadrilha especializada em roubo de carros, assaltos, extorsões e grupo de extermínio. A trama envolve policiais militares e civis que eram “comprados” para liberarem presos, facilitar fugas e usar a “maquina administrativa” para cometer assaltos na região da Grande Maceió, segundo declarou a testemunha em depoimento ao MP.
A principal testemunha, o autônomo José Cícero dos Santos, conhecido como “Tota”, revelou detalhes de como agia a quadrilha, por isso foi inserido no Programa Federal de Proteção a Testemunhas. Ele se apresentou no final da noite da última quarta-feira, na Delegacia de Plantão 2, no Conjunto Salvador Lyra, pedindo proteção policial, já que segundo ele, o militar Aldair Gonçalves estava atrás de eliminá-lo, já que ele sabe de mais.
Semana passada, “Tota” foi levado para a sede do MP, no bairro do Poço, em Maceió, onde foi ouvido pelos promotores Marluce Falcão de Oliveira e Givaldo de Barros Lessa, além do delegado do 10º Distrito Policial, Denisson Albuquerque. O depoimento só foi finalizado na tarde de sexta-feira, depois que o delegado e os promotores foram até o NCCO e pediram a prisão do acusado.
Em depoimento, José Cícero contou que Aldair, que é policial do Batalhão de Rádio Patrulha (BPRP) e lotado no gabinete do deputado estadual Francisco Tenório, tinha três equipes que atuavam em assalto, extorsão e homicídios na região do Tabuleiro do Martins (conjuntos Gama Lins, Santa Helena, Lucila Toledo, Denisson Menezes e Village Campestre I e II). “Tota” deu detalhes de como agia o grupo, do qual fazia parte. Ele contou às autoridades que resolveu “abrir o bico” depois que membros do grupo estavam sendo eliminados de forma misteriosa.
O que chamou a atenção no depoimento do autônomo foi que, segundo ele, o bando teria pago R$ 2 mil reais para três policiais civis do 10º DP, para liberarem uma “peça” importante para o bando, que não podia ficar preso. A fuga ocorreu na madrugada de 23 de março deste ano, onde quatro presos conseguiram escapar. Outra afirmação do protegido da justiça foi de que o mesmo grupo chegou a oferecer R$ 5 mil para os policiais “emprestarem” a viatura da delegacia para a realização de “alguns serviços”.
Ainda segundo a testemunha, Aldair Fonseca tem uma equipe de “vigilantes” que fazem Serviço de Proteção a residências e estabelecimento comerciais na região do Tabuleiro. Nas fachadas das residências e pontos comerciais consta um adesivo escrito: “Aldair é a Força da Gente”. O comerciante que não aceitar os “serviços”, segundo a testemunha, recebe “visitas” de assaltantes, que seriam homens do mesmo grupo, forçando a comunidade a aceitar os serviços de “segurança” do militar.
O grupo também teria “poderes” de liberar membros que fossem pegos pela PM. Ele relatou um caso de que um assaltante que foi preso em flagrante, por uma guarnição do BPRP, e liberado minutos depois, quando os militares foram até a residência do acusado pegar seus documentos. No trajeto, Aldair teria ido ao encontro dos militares e dito que o acusado era seu “funcionário”, sendo liberado prontamente por uma oficial, que conduzia a operação.
José Cícero dos Santos revelou que nos últimos meses membros do grupo estavam sendo eliminados de foram misteriosas, e citou o caso do caminhoneiro Cícero Sales de Belém “o Cícero Belém, morto no dia 1º de novembro do ano passado; do comerciante José Cícero Ribeiro, o “Cícero Pitu”, ocorrida no dia 17 de junho deste ano e de outros componentes do bando”. Ele lembrou que recentemente o motoqueiro Saulo Silvio da Costa Santos, 23, foi atingido por cinco tiros de pistola 380 e faleceu no local. Seu pai, Benedito Sebastião dos Santos, 53, conhecido como “Seu Biu” também ficou ferido. “Tota” disse haver possibilidade do envolvimento do militar nos crimes.
Não é a primeira vez que o militar Aldair Gonçalves Fonseca é denunciado ao Núcleo de Combate ao Crime Organizado. Em setembro deste ano, o também militar Jonherson Simões Marcelino denunciou ao NCCO que Aldair era líder de um grupo de extermínio, que atuava na região do Tabuleiro. Ele afirmou na época que seu irmão, Jesperson Simões Marcelino e a namorada dele, Jaqueline dos Santos, foram executados a mando de Aldair, em junho deste ano. A denuncia também foi feita no 10º DP e também na Corregedoria da PM.
A polícia investiga um “rosário” de crimes envolvendo ação de pistoleiros ligados ao grupo do PM Aldair Gonçalves na região do Tabuleiro do Martins e Grande Maceió. Ainda segundo informações da testemunha, vários crimes “sem solução” estão se arrastando em vários DPs de Maceió, que teria participação do grupo de Aldair, e envolveria um confronto com outra facção de policiais (civis e militares) que também atua em Maceió.
Durante todo o dia de ontem, diversas guarnições da PM e Polícia Civil, com o mandato de busca e apreensão, expedida pelo NCCO, tentaram prender o militar, que conseguiu foragir.
Na manhã de hoje, Aldair se apresentou no Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), onde prestou depoimento e posteriormente foi encaminhado para o quartel-geral da Polícia Militar, onde está preso.