Existe um lugar de completo terror associado à imagem do Brasil no resto do mundo: suas prisões.
Se por décadas o cinema americano divulgou estereótipos assustadores de presídios e campos de trabalhos forçados “soviéticos”, ou cenas temerosas ligadas à Ásia e ao Oriente Médio (como no filme “Expresso da Meia Noite”, mostrando a Turquia), nos últimos anos é o Brasil que tem se destacado negativamente na imprensa internacional como um dos piores lugares do mundo para prisioneiros do Estado. Enquanto o Brasil se mobiliza contra a pena de morte a brasileiros na Indonésia e o mundo inteiro se choca com a exposições de prisioneiro do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), a imagem do Brasil também está sendo regularmente manchada por conta da violência dos presídios do país.
É comum ouvir um discurso simplista de que não há “pessoas de bem” dentro das prisões, alegando que a brutalidade do local e o castigo são merecidos para criminosos. Entretanto, o respeito aos direitos humanos é parte fundamental do funcionamento de um país realmente democrático. Dentro de uma democracia que tem relações com o resto do mundo, garantir os direitos humanos para todos os cidadãos, inclusive criminosos, é uma exigência importante. “A forma como uma sociedade cuida de sua população prisional é um bom índice dos seus valores e da sua civilidade. Uma inspeção cotidiana do sistema penal do Brasil revela uma cultura que beira o sadismo”, diz uma reportagem do jornal “Los Angeles Times”, de 2014 (leia o texto, em inglês).
Reportagens publicadas em alguns dos principais veículos de comunicação do mundo mostram o terror das prisões brasileiras. “Bem-vindo à Idade Média”, dizia o título da revista “The Economist” em janeiro do ano passado, descrevendo os presídios brasileiros como lugares infernais (leia o texto, em inglês). “A punição ainda é vista pela sociedade brasileira como uma forma de vingança”, explicava o site da rede Al Jazeera sobre a barbaridade dessas prisões em dezembro do ano passado (leia o texto, em inglês).
Além de notícias em veículos sérios, o Brasil aparece com destaque negativo em sites bem populares especializados em listas. Quando se busca por “prisões mais perigosas do mundo” em inglês no Google há vários rankings que colocam o país na ponta. O site Criminal Justice, por exemplo, diz que o Carandiru, fechado na década passada, é a “prisão mais violenta e mortal do mundo”, em primeiro lugar na lista (veja a lista, em inglês). O Carandiru também aparece no topo das “dez prisões mais mortais” do site Top Tenz, que ressalta que o presídio foi fechado em 2002, mas alega que ainda assim ela continua como sendo um símbolo do sofrimento de presos no mundo inteiro (veja a lista completa, em inglês). Já o site List 25 diz que o Carandiru é a segunda “prisão mais brutal do mundo”, perdendo para o Campo 22, da Coreia do Norte (veja a lista, em inglês).
Em meio a dezenas de protestos, o sistema prisional brasileiro acabou virando também piada internacional nas últimas semanas, em críticas não apenas sobre a brutalidade das prisões, mas à competência das autoridades no assunto.
Uma das histórias mais populares no jornalismo internacional neste começo de ano fala sobre o caso da fuga quase cinematográfica de presos brasileiros usando a ajuda de mulheres, que “seduziram” e distraíram os guardas enquanto os criminosos saíam da cadeia.
Reportagens sobre o caso foram publicadas mais de uma centena de vezes, dos EUA à China, passando por Rússia, França, Japão em quase todos os idiomas. Boa parte das publicações usaram o caso para fazer piada com o Brasil, falando em “festa”, “sexo” e “orgias” na prisão (veja reportagem da rede CNN sobre o caso).
A crítica internacional e a imagem negativa associada às prisões brasileiras mancham a forma como o país é visto no resto do mundo e fazem com que questões de direitos humanos como estas deixem de ser apenas do interesse de grupos ligados à sua defesa. Garantir a integridade de prisioneiros do Estado é algo que é regularmente cobrado de países que querem ter relevâcia no cenário internacional – inclusive países que querem opinar a respeito como presos são tratados em outras localidades, como a Indonésia.