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Transplante de córnea cai em 44% no Brasil

Divulgação

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Os levantamentos anuais da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) mostram que nos últimos 10 anos o  número de  candidatos a transplante de córnea caiu 44% no Brasil. Isso porque, em 2004 a ABTO registrou 6,5 mil transplantes e 24,6 mil pessoas na fila de espera, totalizando 31,1 mil candidatos a transplante. Comparado ao levantamento de 2014  que aponta 13 mil transplantes realizados e 8,6 mil na fila de espera, ou seja, um total de 21,6 mil brasileiros com necessidade de transplante, indica um salto de qualidade nos tratamentos oftalmológicos neste período.

Para o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, a queda de 44% na busca por transplante  está relacionada ao aperfeiçoamento do tratamento do ceratocone. Isso porque, a  doença caracterizada pelo afinamento e deformação da córnea, responde por 70% dos transplantes no Brasil. Geralmente aparece em alérgicos que têm hábito de coçar os olhos.

Terapias

Um avanço no tratamento  apontado pelo médico é o diagnóstico precoce do ceratocone através da tomografia. O exame, explica,  avalia as duas faces da córnea. Por isso, permite detectar a doença antes de aparecerem alterações na curvatura externa e os primeiros sintomas: troca frequente do grau dos óculos, visão de halos noturnos, aversão à luz do sol, maior fadiga visual e olhos irritados.

Outra terapia que para ele reduziu as indicações de transplante  é o maior acesso ao  crosslink, único tratamento capaz de interromper a progressão do ceratocone. “Consiste no aumento da resistência das fibras de colágeno da córnea em até 3 vezes, através da aplicação de vitamina B2 (riboflavina), associada à radiação ultravioleta”. afirma. Para Queiroz Neto o transplante de córnea  só não  teve uma redução maior porque muitos pacientes só descobrem o ceratocone quando a córnea já está com espessura menor que 400 micras e não pode ser submetida ao crosslink.

O especialista ressalta que a lente de contato escleral que se apoia na esclera, invés de se apoiar na borda da córnea, também diminuiu a indicação de transplantes motivados dificuldade de adaptação às lentes de contato.  “Também é muito comum o conforto da  lente escleral evitar o retransplante em quem já passou pelo enxerto de córnea e permanecem com alto grau de astigmatismo. Muitos pacientes afirmam que não sentem esta lente nos olhos”,  comenta.

Plug evita rejeição

O médico adverte que não é fácil conseguir uma córnea. Segundo a ABTO a doação é negada por 46% das famílias abordadas. Por isso,  embora o número de cirurgias tenha dobrado em 10 anos, passando de 6,5 mil para 13 mil, 8.602 brasileiros aguardavam por doação em dezembro do ano passado.

A boa notícia é que um novo dispositivo evita a rejeição do transplante. O especialista diz que se trata de um plugue feito de colágeno que é colocado no olho durante a cirurgia para liberar a medicação necessária após o procedimento, sem risco de contaminação ou descontinuidade do tratamento. O material é compatível com as estruturas internas do olho. Por isso, dissolve e é absorvido sem causar efeitos colaterais. Queiroz Neto afirma que no Brasil o mau uso dos colírios é a maior causa de rejeição de transplantes de córnea. Um estudo com cobaias que acaba de ser divulgado pela Universidade Johns Hopkings, nos Estados Unidos, mostra que o uso de um dispositivo para garantir a medicação,  evitou a falência em 100% dos transplantes.

O especialista ressalta que este plugue também pode ser utilizado no pós cirúrgico de catarata ou de  cirurgia refrativa,  durante a gestação para evitar a absorção sistêmica de colírios que podem fazer mal ao bebê, tratamento de glaucoma e outras doenças oculares.