Para especialistas, “um sinal amarelo está aceso” na região. Segundo eles, nos horários de pico, o sistema de abastecimento de água chega a operar no limite..
A crise hídrica que atingiu o Sudeste do país – principalmente São Paulo – serviu de alerta para as demais regiões. No Distrito Federal (DF), a atual preocupação das autoridades é encontrar alternativas para aumentar a captação de água. A redução das perdas no sistema e a conscientização da população também estão entre as prioridades.
Para especialistas, “um sinal amarelo está aceso” na região. Segundo eles, nos horários de pico, o sistema de abastecimento de água chega a operar no limite. A previsão é que, com o aumento da população e, consequentemente, da demanda, o DF poderá sofrer com a falta do recurso a partir de 2018, caso não sejam tomadas medidas que aumentem a disponibilidade de água.
De acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), a capacidade atual de produção do sistema é 9,5 mil litros por segundo. Em média, na época da seca, o consumo chega a 7 mil litros por segundo. Nas épocas mais frias, cai para 5,5. Em horários de pico, entretanto, o consumo fica próximo à marca de produção, mas, segundo o órgão, isso dura cerca de uma hora e é amortecido pelos reservatórios.
“Teríamos uma crise em 2018, mas não em função da quantidade de chuva, mas em volume de água que a gente tem nos reservatórios para abastecimento. Além dos fatores climáticos, do uso e da ocupação do solo, acho que um dos fatores mais importantes é o crescimento da população do DF. A própria demanda por água é crescente”, explica o coordenador do curso de engenharia ambiental e sanitária da Universidade Católica de Brasília, Marcelo Gonçalves Resende, integrante do Conselho de Recursos Hídricos do DF.
Brasília cresceu em um ritmo duas vezes maior ao das demais cidades brasileiras de mesmo porte no último ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as capitais, é o quarto município mais populoso, com 2,85 milhões de habitantes – somadas as populações das regiões administrativas. O crescimento da área urbana e a ocupação irregular também geram desafios para o abastecimento.
Segundo o portal da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), 81,27% da água produzida na região são utilizados. “O que vai acontecendo é que, se não se injeta novos aportes de água e a população gasta muito, é lógico que a oferta não vai atender ao consumo e pode ocorrer a falta em alguns pontos”, acrescenta o diretor da Adasa, Diógenes Mortari, perguntado sobre uma possível crise de falta de água no prazo de três anos.
A projeção de falta de água em 2018 leva em consideração a capacidade do atual sistema de produção e a expectativa de crescimento da população. A questão é debatida no Conselho de Recursos Hídricos do DF. “Brasília pode enfrentar uma crise muito séria de demanda porque com os nossos mananciais, de onde se tira água para tratamento, e com o crescimento da população, a gente iria entrar em colapso”, prevê Resende.
Para o conselho, a solução para aumentar a quantidade de água disponível está na conclusão de três projetos liderados pela Caesb: a captação de água do Lago Paranoá, localizado no centro de Brasília, do reservatório Corumbá 4, localizado no estado de Goiás, e do Ribeirão Bananal, ao norte da capital. Segundo a Caesb, quando concluídas as obras para captação nesses locais, será possível obter mais 6,5 mil litros de água por segundo para o DF – o suficiente para abastecer a população até 2040.
A obra de Corumbá 4 já está em execução e é feita em parceria com a Saneamento de Goiás S/A (Saneago). A expectativa é que, ao final da obra, no segundo semestre de 2017, segundo previsões da Caesb, seja possível gerar um adicional de 2,8 mil litros por segundo. A captação do Bananal, que gerará em etapa única mais 700 litros por segundo, deve estar concluída ainda este ano. As obras no Paranoá deverão ser licitadas no primeiro semestre de 2015 e gerar 2,8 mil litros de água por segundo. O abastecimento aumentará de forma gradativa, a partir de 2018. A capacidade total demorará até seis anos para ser atingida.
Para o presidente da Caesb, Maurício Ludovice, não há indicativo de crise de abastecimento. “Estamos nos precavendo, não existe indicativo de crise de água ou coisa parecida, não neste momento”, destacou.
Ele avalia que a preservação de rios e nascentes e o uso consciente da água são fundamentais. Outra preocupação da companhia é reduzir as perdas de água tratada, que chegam a 27%. O valor é inferior a outras regiões do país, mas o objetivo é que seja reduzido para 20% em cinco anos.