Em situação financeira extremamente complicada, o Corinthians teve de recorrer ao arquiteto da sua arena, Anibal Coutinho, para fazer os pagamentos de salários dos jogadores do mês de janeiro. O autor do projeto do estádio alvinegro emprestou cerca de R$ 7 milhões ao clube para que os vencimentos fossem depositados para os atletas. À época, o presidente ainda era Mario Gobbi, que terminou o mandato no início de fevereiro, dando lugar para Roberto de Andrade, eleito com a maioria dos votos.
A ajuda de Anibal foi confirmada pela antiga diretoria e também por Andrés Sanchez, superintendente de futebol da nova gestão, quem até pouco tempo cuidava diretamente dos assuntos ligados à Itaquera.
A operação, no entanto, foi mais complexa do que um simples empréstimo.
De acordo com informações apuradas pela reportagem, o final de ano no Parque São Jorge foi bastante turbulento pela questão financeira. Com auxílio até de Carlos Leite, empresário de vários jogadores do elenco, por exemplo, a cúpula alvinegra conseguiu parte de recursos que precisava no final do ano. Para janeiro, no entanto, a situação estava mais complicada. Sem mais opções de onde conseguir encontrar recursos, a solução foi Anibal Coutinho.
Com contrato pelo projeto da arena, o arquiteto ainda não havia recebido tudo que lhe era de direito. A grana do pagamento, no entanto, vinha da Odebretch.
Qual foi a proposta do alvinegro: que Anibal recebesse da construtora e, por sua vez, repassasse para os cofres corintianos, ajudando o clube a honrar os compromissos.
Coutinho, no entanto, resistiu a aceitar. Segundo Luís Paulo Rosenberg, que foi chamado para ajudar na negociação e também confirmou a ação, o arquiteto viu nessa operação a oportunidade de, enfim, receber o que esperava.
“Eu não liguei para convencer ninguém a nada. Me chamaram para ajudar e falar com o Anibal. O que me passaram é que ele estava resistindo pelo formato da operação. Ele tinha algumas dúvidas em relação a isso. E eu apenas expliquei qual era a situação, da forma que me foi falada. Era uma situação extrema, a diretoria precisava urgente do dinheiro para pagar os salários. Acho que eram R$ 8 milhões”, afirmou Rosenberg, em contato com a reportagem.
“Eu jamais diria a ele para ficar tranquilo nessa operação. Acontece que ele não estava recebendo da Odebrecht e não sabia mais se ia receber. Havia um problema ali. Então, ele (Anibal) avaliou que era mais negócio assumir o risco com o Corinthians do que ficar esperando para sempre um dinheiro da construtora. Mas eu sempre disse que seria um negócio extremamente arriscado. Ele topou esse risco”, completou.
Até mesmo a oposição ficou ciente do acordo, já que concorria à eleição, e também teve de se comprometer.
Com a operação, Anibal Coutinho passou a ser mais um na fila dos credores que esperam receber dinheiro do Corinthians. Há um acordo para pagamentos intermediários ao arquiteto, mas o grosso sairia no meio do ano, segundo o combinado.
Nesta quarta, o alvinegro conseguiu cerca de R$ 6 milhões emprestados com uma instituição financeira. Todo o recurso foi destinado aos jogadores do atual elenco com direitos de imagem atrasados: Ralf, Renato Augusto, Emerson Sheik, Paolo Guerrero e Elias. Alexandre Pato, hoje no São Paulo, segue sem receber.
A cúpula do Parque São Jorge espera que mais um empréstimo saia na semana que vem, de cerca de R$ 8 milhões, para quitar outros débitos. Além de atletas, há ainda empresários e ex-treinadores entre as pendências.
Apesar de confirmar que houve essa participação do arquiteto na ajuda de pagamento do mês de janeiro, Andrés diz discordar da utilização da palavra “empréstimo” para explicar a negociação.
Segundo o cartola, foi apenas uma extensão no atraso do pagamento de Anibal, com a troca de credores (antes Odebrecht, agora Corinthians).
Procurado, Anibal Coutinho não quis falar com a reportagem sobre o assunto. Por meio de uma mensagem de celular, apenas negou que houvesse qualquer tipo de operação. Mario Gobbi, por sua vez, não atendeu aos telefonemas do ESPN.com.br.