Reintegração de posse atende à decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região; religiosa alega não ter recebido atenção especial.
Entre marretadas, destroços e o vaivém de máquinas que realizam o trabalho de desocupação da Vila dos Pescadores, em Jaraguá, uma moradora ilustre, Mãe Vitória, chora ao ver seu templo religioso de umbanda sendo destruído paulatinamente.
A reintegração de posse atende à decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, mas a casa, que atendia fiéis da religião de matriz africana, estava estabelecida na localidade há 30 anos, sendo uma das referências na crença. “Isso parece a Quebra do Xangô… Entendo o que vai ser feito, mas não da maneira como está sendo”, argumenta ao citar o ato de violência enraizado na cultura alagoana ocorrido em 1912. Na época, casas religiosas foram destruídas durante um período de intolerância e repressão a mando do Estado.
Em entrevista ao Alagoas 24 Horas, Mãe Vitória afirma ser pertencente a uma das 35 famílias originárias da população ribeirinha e que, segundo a Prefeitura de Maceió, devem receber moradia provisória na Escola Rui Palmeira e posteriormente aluguel social.
Mesmo com todas as promessas governistas, a religiosa duvida do cumprimento e alega não ter recebido a atenção especial que esperava durante a reintegração, assim como prometeram, um dia, que o templo não seria removido. “Essa casa não foi construída ao acaso meu filho, tenho documentação da União e do próprio IMA [Insituto de Meio Ambiente], busquei ajuda política, contratei advogado, mas quando fui informada da desocupação pedi um prazo até a próxima sexta-feira (19) para que não ocorresse isso”, lamenta.
Dentro do templo religioso, funcionários da Guarda Municipal recolhem as imagens dos orixás, móveis e animais, que são colocados em caminhões de mudança.
A Prefeitura de Maceió informou por meio da sua assessoria que não houve nenhuma conotação religiosa na demolição da casa de mãe Vitória e que ela ocupava o local de forma irregular, a exemplo dos demais moradores.