O promotor Flávio Costa, da 61ª Promotoria de Justiça da capital recebeu, na tarde desta segunda-feira, 22, a cantora Elaine Kundera e a proprietária de um bar, no bairro de Mangabeiras, onde ocorreu um atentado na última sexta-feira (19). As duas protocolaram uma denúncia contra a sargento da Polícia Militar, Léa Soares e seu esposo, coronel Francisco de Assis, por crime de homofobia.
Em entrevista à imprensa, o promotor adiantou que tudo leva a crer que se trata de um caso de homofobia, no entanto, irá ouvir testemunhas sobre o episódio, que ele está tratando inicialmente como violência. “Se ficar configurado que houve tráfico de influência, pedirei abertura de inquérito criminal, na corregedoria da Polícia militar e apuração rigorosa do Conselho Estadual de Segurança Pública”, disse o promotor, acrescentando que o Ministério Público não fará vista grossa para o caso.
Visivelmente abalada, a cantora Elaine Kundera relembrou o fato e disse temer por sua vida e de seus familiares. Ela explica que vive de música em Maceió e depois do fato está com medo de se apresentar. “Será que eu vou ter que ficar anônima para me proteger? Como é que vou sobreviver?”, questionou sobre sua segurança. A cantora, que recebeu um tiro de raspão no braço, conta que está bem, mas não se recuperou do susto de ter sido ameaçada de morte e ter sofrido humilhações por parte da acusada.
O presidente do Grupo Gay de Alagoas, Nildo Correia, cobrou do Estado uma reposta enérgica ao caso e reitera que para o movimento esse é um caso típico de homofobia. “Lamento que a greve da Polícia Civil tenha impedido a proprietária do bar de efetuar a primeira denúncia contra os policiais, porque talvez tivesse conseguido evitar esse dano maior. O Estado e a OAB precisam garantir a segurança da vítima e mostrar que é maior que uma patente”, observou Correia.
Ameaças
A proprietária do bar, Neide Lima, conta que as ameaças começaram no dia em que abriu o bar, 12 de junho. Ela disse que o coronel Assis entrou no estabelecimento reclamando de barulho e, sem se identificar, ordenou que ela desligasse o som e fechasse o estabelecimento. Ao ser questionado por clientes, o policial disse que “se pegasse o revólver e atirasse, saberiam que ele era”, relatou.
Com medo, Neide Lima fechou o bar e foi até o Code para registrar queixa, mas foi impedida em função da greve da Polícia Civil. A proprietária contratou um segurança e disse que chegou a abrir o bar no dia seguinte, mas não houve público. Nesse dia, recebeu inúmeras abordagens de policiais militares, conferindo se o bar possuía licença para funcionar. O bar só reabriu, de fato, na última sexta-feira (19). Por esta razão e pelo tom preconceituoso usado pelos policiais, Neide acredita que o problema não tenha sido o som, mas o fato de ser um bar GLS.
Atentado
A cantora Elaine Kundera conta que faltava pouco tempo para encerrar sua apresentação quando a sargento chegou ao estabelecimento reclamando do barulho e chamando as pessoas de “animais” e algumas expressões pejorativas e agressivas.
O mais grave é que nenhuma viatura da PM teria aparecido ao local, quando acionada pelas vítimas. “Se fosse um problema de som alto, outros vizinhos teriam reclamado, mas ao contrário, conseguimos as gravações de prédios próximos para auxiliar na denúncia”, concluiu Neide Lima.
Comissão de Minorias da OAB
O presidente da Comissão de Minorias da OAB-AL , Alberto Jorge, disse que vai cobrar do Comandante da Polícia Militar um pronunciamento e providências em relação à postura dos militares envolvidos no caso. “A OAB está apreensiva. Como vai ser agora, ninguém poderá ter um bar GLS? Sabemos que os acusados podem alegar lesão corporal, mas todo mundo sabe que o ato de apontar uma arma para alguém configura tentativa de homicídio”, completou o advogado.