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Justiça impede mãe de visitar filha de dois anos em hospital de Porto Alegre

Mulher de 38 anos não vê a criança desde maio; advogada recorreu.

Arquivo Pessoal

Mãe diz que está há mais de 30 dias
sem ver a filha

Valentina tem apenas dois anos e dois meses e não vê a mãe há mais de 30 dias. Desde maio, Neusa Padilha, de 38 anos, está impedida pela Justiça de entrar nas dependências do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, onde a filha está internada na UTI por conta de uma doença pulmonar.

Ao G1, a instituição divulgou um comunicado oficial sobre o caso, em que diz que “a decisão da proibição da entrada da mãe foi tomada com respaldo judicial, conforme a legislação vigente”. O hospital alega que a mulher tem um “comportamento inadequado”, mas não deu mais detalhes e limitou-se ao comunicado para falar sobre o assunto. A advogada da mãe espera reverter a situação nos próximos dias.

“Me proibiram de ficar com ela. De março a maio, eu ficava só no horário de visita. Agora nem isso. É triste. É muito revoltante”, desabafa a mãe. Sem poder ir ao hospital, ela espera em casa por notícias da filha, levadas pelo marido, que pode entrar na UTI. O casal é de Santa Catarina e se mudou para Canoas, na Região Metropolitana, no fim do ano passado.

Gisele Dias, advogada da mãe de Valentina, diz que a cliente tinha o hábito de questionar médicos e enfermeiros sobre o estado de saúde da filha, “como qualquer mãe”. Diante da proibição de visitas, a defensora ingressou com medida cautelar pedindo que elas fossem retomadas, mas a Justiça aceitou os argumentos do hospital e indeferiu o pedido. A advogada já entrou com recurso.

Nascida em abril de 2013, Valentina viveu a maior parte do período em uma cama de hospital. No nono dia de vida, teve uma bronquiolite e foi internada em uma instituição em Itajaí. Logo o quadro evoluiu para pneumopatia fibrosante crônica: os pulmões pararam, e ela só consegue respirar com auxílio de aparelhos.

Transferida para a capital gaúcha em 26 de dezembro de 2014 por ordem judicial, Valentina está em tratamento e atualmente tem quadro estável. Ela está em uma área de isolamento na UTI e está bem, embora inspire cuidados. A menina precisa de um transplante de pulmões, mas médicos dizem que a pouca idade é um risco.

Impasse financeiro
Desde a determinação judicial sobre a transferência de Valentina, a vida do casal mudou. O pai, que trabalhava como pedreiro, largou o emprego para acompanhar a rotina da menina no hospital. A família diz passar por dificuldades financeiras e enfrenta outro impasse envolvendo a instituição.

Segundo a advogada Gisele Dias, a menina teria de ser internada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital da Criança Santo Antônio, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Entretanto, à época os leitos estavam lotados, e a menina foi parar no Moinhos de Vento, que é particular.

“Ela deu entrada no hospital em dezembro do ano passado, como paciente particular, mas estava no período de carência do plano de saúde. Isso gerou uma dívida milionária, que agora o hospital está cobrando”, detalha ela. O valor gira em torno de R$ 397 mil.

A defensora diz que a família não tem como quitar a dívida. “Em 27 de fevereiro encerrou o plano de carência e agora o plano de saúde está custeando”, completa.

Em função do impasse, o hospital tentou uma transferência para uma instituição de São Paulo, mas a mãe não aceitou. “Na ocasião, a menina estava em estado grave, entubada. Havia ainda outros custos, de transporte, habitação”, justifica a advogada.

Corrente na web tenta ajudar
Comovidos pelo caso de Valentina, um grupo organizou ações para levantar recursos para a família. Uma página no Facebook (Ajuda a Valentina) foi criada e já conta com mais de 73 mil curtidas. Famosos como o cantor e apresentador Netinho e o ex-técnico do Grêmio e da seleção brasileirão Luiz Felipe Scolari entraram na campanha. O treinador campeão do mundo pelo Brasil fez um vídeo para ajudar a menina.

“Abraço, Valentina. Te cuida, te recupera, a gente está torcendo por ti. Assinei um abrigo meu, com um autógrafo, e a gente vai fazer uma rifa, vai tentar te ajudar dessa forma”, disse o treinador ainda quando dirigia o Grêmio.