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Abertura do Pan arrepia com ídolo voador e Cirque du Soleil

Toronto inaugura Jogos Pan-Americanos de 2015 com lenda local "voadora" que "saltou" da CN Tower e com espetáculo do Cirque du Soleil.

Jonne Roriz/Exemplus/COB / Divulgação

Cirque du Soleil encantou os torcedores na Cerimônia de Abertura do Pan

Ainda era dia no Canadá, onde tem escurecido às 21h30 (local), mas dentro do Rogers Centre o breu tomava conta da arena multiuso totalmente fechada. Exatamente às 20h desta sexta tinha início a abertura dos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015. Não, não teve Rainha, James Bond, Mr. Bean ou aspectos do tipo como na cerimônia olímpica de Londres 2012 – é completamente utópico comparar os dois eventos. Mas o show realizado em Toronto, comandado pelo Cirque du Soleil em uma de suas maiores apresentações e que contou com a entrada de uma lenda local do atletismo “voando” com a tocha, foi o suficiente para encantar e causar arrepios no público presente. A cerimônia ainda foi fechada com linda queima de fogos na gigante CN Tower, maior ponto turístico da cidade.

Para chegar a esta sexta, foram 22 semanas de ensaio (com um total de 1000 horas) em uma cerimônia que contou com 625 atores, sendo 569 da própria cidade-sede. A abertura, provavelmente, será um dos poucos eventos com estádio praticamente lotado no Canadá – por causa do circo, claro – ao que tudo indica, em um Pan marcado pela apatia local antes do evento.

Mesmo assim, os organizadores entregaram um show competente à altura do Pan. Em muitos momentos, houve o velho clichê de apresentações dos países, mas as surpresas e as acrobacias do Cirque du Soleil cativaram a galera. A aposta na companhia, que inclusive é canadense, foi certeira para o sucesso e a saída das “mesmices” de aberturas. A cerimônia de Toornto só irritou com longo discurso de Julio Maglione, presidente da Odepa, que fez até os sempre simpáticos canadenses se incomodarem nas arquibancadas.

Antes de a abertura ser televisionada para milhões de espectadores, o público que entrava no Rogers Centre pode acompanhar uma espécie de pré-show, com apresentadores locais e comediantes. A ação, contudo, quase não empolgou o público com um roteiro fraco. O único momento que fez a galera interagir foi quando o mascote do evento Pachi, uma espécie de porco-espinho, dançou a música Kuduro (oi oi oi!).

Balada de índios?

Como toda cerimônia de abertura, Toronto queria contar um pouco de sua história. E assim foi no início, com uma espécie de “rave indígena” com atores representando nativos e música eletrônica nas potentes caixas de som.

Arrepios com equipe de revezamento

Um dos ápices da cerimônia foi logo em seu início: a equipe de revezamento 4×100 m canadense campeão na Olimpíada de 1996, considerada lenda local, simulou uma prova com a tocha como bastão. A pista? Simplesmente a borda da CN Tower, cartão postal local com 560 m de altura. Do alto dela, de repente um vídeo de Donovan Bailey, um dos grandes corredores olímpicos local, pulando de paraquedas (lembram da Rainha em Londres?) em direção ao palco causou gritos e arrepio do público. E eis que o atleta entra por uma plataforma no alto do palco e entrega a tocha para Faith Zacharias, esportista local novata.

Brasil ovacionado sob batuta de Thiago Pereira

Jonne Roriz/ COB / Divulgação

Thiago Pereira foi o porta-bandeira do Brasil

O desfile das delegações contou com, mais uma vez, ovação ao Brasil, em traje chamativo com as cores verde, amarelo e azul. Thiago Pereira, o Mr. Pan, foi o porta-bandeira, enquanto muitos atletas tiravam fotos e faziam vídeos com celulares e pau de selfie. O país atrai simpatia em muitas partes do mundo, e não foi diferente do Canadá. Os aplausos para os brasileiros só foram comparáveis aos dedicados a Estados Unidos e México, ambos da América do Norte – obviamente, os canadenses, que fecharam o desfile, foram os mais louvados com um barulho que chegou a Montreal.

Apoio para nanicos, muita música eletrônica e LED sem sentido

Jonne Roriz/Exemplus/COB / Divulgação

Jonne Roriz/Exemplus/COB / Divulgação

Os torcedores no Rogers Center ainda davam aplausos especiais para países com poucos presentes na abertura, como Belize, com três integrantes. Na música, um DJ fazia batidas diferentes para cada nação – o Brasil ganhou um “samba eletrônico”, e muitos ritmos latinos diferentes foram dançados. A parada contou com uma ação pouco eficaz: à frente da delegação, uma placa de LED identificava o país. Contudo, como o caminho era iluminado, ficava quase impossível de ler o conteúdo. O fim do desfile já era cansativo – se você vai à abertura do Rio 2016 , com muitos mais países, pode aproveitar o momento para cochilar.

Olha o Cirque du Soleil aí!

O espetáculo tinha começado. A razão que a maioria das pessoas havia comprado ingresso fez uma apresentação digna da responsabilidade. Com vários efeitos especiais e danças, o Cirque du Soleil mostrou por que é o maior grupo circense do mundo. Houve até corredor de fogo, do qual era possível sentir o calor da chama na arquibancada. Tudo isso com representações de esportes , ao som de muita música eletrônica – em uma parte chamada “ondas”, o estádio funcionou como um dial do rádio, com diversas estações e canções locais, além da oficial dos Jogos e Alegria, a mais famosa do circo. Era a evolução da transmissão esportiva.

Vai ter acrobacia sim!

Mas nós estamos falando do circo mais famoso do mundo, né? Pois bem: acrobacias incríveis de atores que despencavam do teto do palco fizeram flashes dispararem tanto das arquibancadas quanto do espaço dos atletas. Cada momento da apresentação representava algum esporte, mas na prática pouco havia da modalidade na arte: o que valia era o show para o público.

Virou BMX?

O público em Toronto foi cativado por um momento especial da apresentação: ciclistas invadiram o palco e usaram estruturas em meio aos atletas para fazer acrobacias com as bike. Enquanto isso, no palco: mais acrobacias no ar! O espetáculo do Cirque du Soleil, nem tantas vezes com o simbolismo que pretendia oferecer, foi encerrado com aplausos de pé dos 50 mil presentes.

Entrada de bandeiras celebra… hóquei.

A cerimônia passou para sua reta final com a entrada da bandeira dos Jogos e o símbolo olímpico do COI com personalidades locais, entre medalhistas olímpicos, jogadores de beisebol, escritor de “A Vida de Pi”, astronauta, líderes comunitários e a lenda do hóquei Mark Messley (o mais celebrado junto ao também astro do hóquei Bobby Orr). Curiosamente, o hóquei no gelo, um dos esportes mais populares do Canadá, não faz parte do programa do Pan.

Discursos sem vaias e que irritam público

Toronto tem questionado bastante os gastos do Pan, mas o discurso de autoridades locais não contou com vaias, como costuma acontecer no Brasil. Apesar dos Jogos no Canadá, o presidente da Organização Esportiva dos Países Americanos, Julio Maglione, fez longo discurso em espanhol, que irritou o público pela duração. Finalmente os Jogos foram declarados abertos, já com muitos lugares vazios no estádio – afinal, quem se importa com o Pan no Canadá, né?

Tchau, Soleil! Vem, Pan!

A cerimônia foi fechada com mais uma apresentação do Cirque du Soleil recheada de acrobacias e estruturas que fizeram o olho do público saltar. Faith Zacharias, a mesma jovem atleta canadense do início da abertura que recebeu a tocha da equipe de revezamento, voltou ao centro do estádio e compartilhou o fogo com outros atletas – uma delas até se perdeu no caminho rapidamente -, até, por fim, o astro do basquete Steve Nash acender a pira pan-americana e dar início a uma queima de fogos na CN Tower, que fica logo ao lado do estádio e é o maior ponto turístico de Toronto.