A companhia aérea TAM anunciou ontem que vai reduzir as operações no mercado doméstico entre 8% e 10% e deve demitir até 2% do seu quadro de pessoal. A justificativa da presidente, Claudia Sender, é que a companhia “está tomando esta medida para enfrentar um contexto econômico difícil no Brasil”. Com a decisão, Brasília perderá dois voos da aérea um de ida e outro de volta de Recife, pelo Aeroporto Internacional de Guararapes Gilberto Freyre a partir de setembro. Para especialistas do setor de aviação civil, a empresa está criando um factoide para justificar o aumento no preço das tarifas.
No primeiro trimestre deste ano, a Latam — TAM e Lan —, registrou um prejuízo líquido de US$ 40 milhões. “Diante de um cenário econômico desafiador no país, provocado pelo aumento da inflação e pela alta do dólar em relação ao real, resultando numa desaceleração do setor aéreo, a TAM começa, a partir de agora, uma redução gradual de suas operações no mercado doméstico que será, aproximadamente, de 8% a 10%. Isto implica revisão do crescimento em 2015, de 0% para contração de 2% a 4% em comparação com 2014”, afirmou a companhia em nota.
A empresa garantiu que não vai deixar de operar em nenhum dos destinos onde está presente. Conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a TAM solicitou a exclusão de 23 voos, seis internacionais ( entre idas e voltas de Milão e Santiago do Chile), 13 nacionais e quatro regionais. A estimativa é que o quadro total de funcionários seja reduzido em menos de 2%, incluindo a rotatividade da empresa. “Não haverá impacto nas equipes de tripulação, dado os planos de crescimento de médio prazo”, promete a nota.
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abraer) afirmou que não se pronuncia sobre decisões estratégicas das empresas. Contudo, por meio da assessoria de imprensa, informou que ainda trabalha com a projeção para este ano de desempenho igual ao de 2014, ou seja, crescimento de 6% sobre o ano anterior.
Para um especialista do setor, que preferiu não se identificar, o que a TAM está fazendo é uma ameaça. “A empresa poderia reduzir suas operações sem qualquer anúncio. Essa redução 10%, significa um número considerável de aeronaves paradas no chão ou voando muito pouco, o que aumenta os custos operacionais. O tiro vai sair pela culatra. É uma justificativa para vender passagens domésticas até R$ 3 mil, como já está ocorrendo”, lamentou. Ele lembrou ainda que não há nenhum dado de retração no mercado e que o período é de alta temporada.
Claudia, presidente da TAM, ressaltou que segue acreditando na retomada do crescimento do Brasil. “Essa adequação não afeta a estratégia de longo prazo da empresa, que inclui a renovação da frota, o projeto de estudo de viabilidade do Hub Nordeste e de contínuo fortalecimento dos hubs (centro de conexões) de Brasília e São Paulo/Guarulhos”, disse.
A Azul garantiu que não tem cortes previstos. “A empresa está confiante na retomada do crescimento do Brasil e no desenvolvimento do setor. Seguiremos investindo na ampliação da frota e da malha, dentro e fora do país. Firmamos contratos para inclusão de mais de 120 novos aviões ao longo dos próximos cinco anos”, disse a companhia em nota.
Procuradas, a Gol disse que não vai se pronunciar sobre o assunto e a Avianca não respondeu até o fechamento desta edição. A Anac informou que a oferta de voos por parte das companhias aéreas acompanha o movimento da economia com adequação do nível de oferta ao da demanda. “Sobre o impacto na oferta de voos das outras companhias, cabe destacar que normalmente é observado que, conforme uma empresa reduz as suas operações, as demais tendem a ampliar sua oferta como um movimento natural da concorrência do mercado.”