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Partido na Argentina quer ‘hackear a política’ com voto de cidadãos na web

Promessa é que políticos votem segundo opinião da população em fórum. Software ligado ao partido permitiu criação de aplicativo para São Paulo.

Membros do Partido de la Red, na Argentina, posam para foto em frente a representação de um cavalo de troia, símbolo do partido na campanha legislativa de Buenos Airesde 2013 (Foto: Reprodução/ Facebook/ Partido de la Red)

Um novo partido na Argentina pretende usar a internet e as tecnologias colaborativas para aumentar a participação social nas questões das cidades. Fundado há três anos por um grupo de jovens programadores, o Partido de la Red tem uma única promessa: seus candidatos se comprometem a legislar de acordo com o que os cidadãos definirem em uma plataforma online, desenvolvida pelos próprios fundadores do partido.

A ideia é que, em vez de apenas eleger representantes a cada dois anos, os portenhos possam opinar sobre as propostas que tramitam na câmara de Buenos Aires e que a decisão deles seja levada à casa legislativa. Os projetos de lei são postados na plataforma, chamada DemocracyOS, onde os usuários discutem o que está em pauta e dão o seu voto.

“Como programadores, consideramos que cada sistema é hackeável em algum ponto. E a política não é uma exceção. A proposta do partido é hackear o sistema político”, diz ao G1Santiago Siri, um dos fundadores do partido e o responsável pela programação do software livre. Santiago está em São Paulo para participar de um debate sobre a relação entre internet e democracia que será realizado nesta quinta-feira (23) no Centro Cultural São Paulo.

Partido de la Red recebeu doações de ativistas locais e empreendedores da internet, e estreou nas eleições de 2013, quando teve 1,2% dos votos. Apesar de não ter eleito nenhum candidato, hoje o partido está presente em outras cidades argentinas e a plataforma chegou a outros países, como Chile, Índia e Brasil.

Sua campanha teve como símbolo um cavalo de troia – símbolo da Guerra de Troia, quando um grande cavalo de madeira levou guerreiros gregos ao território inimigo, e também de um programa que invade computadores.

“O deputado troiano não é um deputado qualquer, mas sim aquele pelo qual as vozes de todos são melhor representados, pelo fato de usar a tecnologia moderna”, diz Santiago, que é portenho, mas atualmente mora em São Francisco, perto do Vale do Silício, onde trabalha para aprimorar o software. “Nossa proposta não vai contra o sistema, mas permite construir um novo nível de representação, mais ágil e mais dinâmico”.

Para os criadores da plataforma, os eleitores estão preparados para participar na política da cidade desta maneira. No entanto, ainda é prematuro ampliar a influência da discussão online para níveis federais.

“No congresso federal, onde se debate questões que afetam a minoria, ainda temos que entender os prós e contras do sistema para poder proteger as minorias e fazer um debate mais maduro pela sociedade. Sabemos que há muita responsabilidade dessa forma de fazer política. Por isso começamos pelas cidades”, diz Santiago, que também defende o acesso à tecnologia como um direito universal.

Santiago e os ativistas do Partido de la Red trabalham com militantes que têm como bandeira a democracia direta e transparência pública, como os integrantes do Partido Pirata, criado em 2006 na Suécia. “Estamos abertos ao diálogo, sempre trocamos notas. Todos que entendemos a política dessa maneira estamos conectados em rede, colaborando e respondendo a tratar de inovar onde ninguém vai inovar: na política”, diz Santiago.

América Latina
As tecnologias de colaboração cidadã impactam primeiro e mais rapidamente as regiões onde há grande desigualdade e maior urgência por alternativas à maneira de se fazer política, como a América Latina, diz Santiago. Dois exemplos: a inflação na Argentina permitiu a rápida adesão ao bitcoin, moeda digital independente de um governo ou banco, e a falta de liberdade de expressão na Venezuela fez com que o país seja um dos que mais têm usuários no Twitter.

Programadores participam de maratona de programação promovida pelo Partido de la Red, na Argentina (Foto: Reprodução/ Facebook/ Partido de la Red)

“Com a internet temos uma forma de nos vincular econômica e politicamente sem intermediação de nenhuma elite política, banqueira ou de nenhum tipo. Com esse poder nas mãos, literalmente porque é com um computador nas mãos que nos conectamos dessa maneira, não vejo razão para que não vejamos no século XXI a consolidação de uma superestrutura, como a rede, que rompe com todas as estruturas que temos. Na medida em que ela começa a transformar as instituições é inevitável que comecemos a exercer nossos hábitos democráticos cada vez mais no plano digital”, diz Santiago.

“Acho que as novas gerações, as gerações online, sem dúvida têm uma responsabilidade à medida que vai crescendo vai gerando uma mudança que não seja replicar ou repetir as mesmas formas das gerações que hoje estão no poder”, diz Santiago.

Eu Voto
A plataforma desenvolvida por Santiago começa a aparecer em outras cidades. Grupos em cerca de 20 países manifestaram a vontade de incorporar o software, que é livre e gratuito. No Brasil, a ferramenta foi base para a a criação do aplicativo Eu Voto, lançado em abril para a participação dos eleitores de São Paulo. Até agora o aplicativo conta com 715 usuários cadastrados e 11 projetos de lei que passaram pela curadoria dos organizadores e foram colocados em discussão.