Advogado de senador diz que não conhece documentos e não comentará.
As investigações da Operação Lava Jato apontam que o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) recebeu, entre 2010 e 2014, R$ 26 milhões como pagamento de propina por contratos firmados pela BR Distribuidora.
Para investigadores, há indícios de que parte do dinheiro desviado tenha sido usado por Collor para compra de carros de luxo em nome de empresas de fachada. Alguns desses automóveis foram apreendidos pela Polícia Federal na Operação Politeia, um desdobramento da Lava Jato, realizada em 14 de julho.
O advogado Fernando Neves, que defende o senador Fernando Collor, afirmou que não comentará porque não obteve acesso a documentos da investigação.
A defesa de Collor apresentou um pedido ao Supremo Tribunal Federal para que os carros apreendidos na Politeia sejam devolvidos, entre os quais uma Ferrari, um Porsche e um Lamborghini que estavam na Casa da Dinda, residência oficial na época em que o atual senador era presidente da República.
O pedido de Collor ainda será analisado pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo.
Conforme a apuração, os carros não estão em nome de Collor, mas sim, em nome de empresas de fechada.
Dois carros são propriedade da Água Branca Participações, empresa de Collor que, conforme investigadores, não tem funcionários e é usada para lavagem de dinheiro.
As investigações também apontam que as prestações do financiamento do Lamborghini estão atrasadas.
Para a cúpula da Lava Jato, os pagamentos pararam em razão da operação porque, segundo os investigadores, a propina parou de ser distribuída. Já existe, inclusive, um processo na Justiça de São Paulo para reaver o bem em razão da inadimplência.
Em depoimentos dados em acordos de delação premiada, outros investigados relataram que o senador Fernando Collor recebeu pessoalmente dinheiro vivo resultante do esquema de corrupção na Petrobras.
Antes de o dinheiro chegar às mãos do ex-presidente da República, afirmaram esses delatores, a quantia teria circulado em um carro-forte de uma empresa de valores e em carros blindados.
As informações repassadas pelos delatores ainda estão sendo investigadas na Lava Jato. O acordo firmado por eles prevê redução de pena em troca de narrar fatos que possam colaborar para investigações – há possibilidade de anulação em caso de mentira.
Auxiliar do doleiro Alberto Youssef, Rafael Ângulo disse que entregou dinheiro vivo a Collor no apartamento dele, em São Paulo – R$ 60 mil em notas de R$ 100.
No último dia 14, em discurso no plenário do Senado logo depois de ter os carros apreendidos, Collor se disse “humilhado”e afirmou que a Operação Lava Jato “extrapolou todos os limites do estado de direito, extrapolou todos os limites constitucionais, extrapolou todos os limites da legalidade”.
Na ocasião, ele classificou a Politeia de “espetaculosa” e “midiática” e acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de ter orquestrado a operação para vinculá-lo ao esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
Perfil de Collor
Aos 41 anos, Collor tornou-se, em 1989, o mais jovem presidente da história do país, com mais de 35 milhões de votos. Mas em 1992 uma série de denúncias abalaram seu governo e sua liderança.
Em setembro daquele ano, um pedido de impeachment foi entregue à Câmara, que o aprovou em apenas duas horas de votação. Collor foi afastado do cargo, e o vice, Itamar Franco, assumiu em 2 de outubro.
Collor perdeu os direitos políticos por oito anos, e partiu para Miami.
Em dezembro de 1994, ele foi absolvido pelo STF da acusação de corrupção passiva no esquema Paulo César Farias, o PC.
Em 2006, 14 anos depois da queda, voltou à vida política ao ser eleito senador por Alagoas. Em abril de 2014, o STF considerou não haver provas suficientes para condenar o parlamentar pelo crime de peculato – uso do cargo público para desvio de recursos.
Investigados
Collor é um dos 48 políticos investigados por suspeitas de participação em fraudes na Petrobras, pela Operação Lava Jato. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, protocolou em 3 de março de 2015 no STF pedidos de abertura de inquérito para investigar políticos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras. São 28 pedidos de abertura de inquérito referentes a 54 pessoas.