A partir da próxima semana, Alagoas passa a integrar definitivamente o roteiro teatral do país. Entre os dias 31 de agosto e 21 de setembro, a capital do Estado, Maceió, será sede de uma das etapas do renomado Festival do Teatro Brasileiro, que percorre o Brasil há 17 anos levando espetáculos consagrados a públicos de todas as idades, com apresentações gratuitas.
O Festival conta com o patrocínio da Petrobras desde 2008 e funciona a partir do intercâmbio e integração das cenas teatrais dos Estados por onde passa. A capital alagoana, que participa do ciclo pela primeira vez, recebe oito grupos da cena paraibana, que circulam por diversos espaços a partir do dia 11. No entanto, muito mais que uma iniciativa de mão única, o Festival do Teatro Brasileiro traz em sua programação uma série de atividades voltadas para a formação de públicos, incentivo à formação de grupos teatrais, ciclo de dramaturgos, workshops e preparação de atores e roteiristas em potencial.
Em todos os seus passos, o Festival leva um estrito caráter pedagógico, com ações envolvendo estudantes de teatro, professores, alunos da rede pública de ensino e moradores de comunidades carentes das cidades-sede. Na avaliação do idealizador e coordenador-geral do Festival, Sergio Bacelar, a estrutura do FTB “confere ao festival o papel de complementação de uma política de Estado”.
As atividades do FTB têm início já no dia 31 de agosto, com uma oficina de grafite destinada a 15 jovens e adolescentes da Vila dos Pescadores, no bairro do Sobral. O curso se estende até o dia 4 de setembro, com carga horária de 20 horas. De 7 a 11 de setembro, também na Vila dos Pescadores, o FTB promove uma oficina de Hip Hop para 20 participantes.
Com apoio da Prefeitura de Maceió, por meio da Fundação Municipal de Ação Cultura (FMAC), o FTB integra as comemorações do aniversário de 200 anos da capital alagoana.
Espetáculos
O período de apresentações da etapa alagoana do Festival do Teatro Brasileiro começa no dia 11 de setembro, com o espetáculo Silêncio Total, do Piollin Grupo de Teatro. O monólogo é encenado há quase 30 anos pelo ator Luiz Carlos Vasconcelos, que atualmente dá vida ao personagem Bento na novela Além do Tempo, da Rede Globo. A apresentação acontece no Teatro Deodoro, às 20h.
No dia 12, a partir das 18h, o grupo Quem Tem Boca é pra Gritar apresenta o espetáculo de rua Cancão, Malazarte e Trupizupe. A encenação acontece no conjunto residencial Vila dos Pescadores, no bairro do Sobral. Ainda no dia 12, às 20h, no Teatro Jofre Soares, o ator veterano Fernando Teixeira, do Grupo de Teatro Bigorna, apresenta o monólogo Esparrela, um dos espetáculos mais premiados da cena paraibana, em cartaz há mais de 40 anos.
Após uma semana de atividades paralelas, o FTB retoma as apresentações para o público alagoano no dia 17, no Teatro Deodoro, onde a Agitada Gang – Grupo de Atores e Palhaços da Paraíba apresenta Como Nasce um Cabra da Peste. No dia seguinte, às 20h, o Milagre Brasileiro, do Coletivo de Teatro Alfenim, ocupa a Sala Preta do Espaço Cultural, na Praça Sinimbu. No dia 19, o período de apresentações do Festival de Teatro Brasileiro em Maceió será encerrado com o show do músico Chico César, DJ Chico Correia e o espetáculo de dança Nordestinidade, da Companhia de Projeções Folclóricas Raízes, na Praça Multieventos, na orla de Pajuçara, a partir das 18h.
Os ingressos serão distribuídos nos locais das apresentações, duas horas antes do início dos espetáculos.
Eixo pedagógico
Um importante eixo do FTB é ligado à educação. Visando a sustentabilidade e a formação de novas plateias em cada município, a atividade promoverá um mergulho na peça Flor de Macambira – texto de Rosyane Trotta e Ser Tão Teatro, livremente inspirado na obra Coronel de Macambira de Joaquim Cardozo, com a direção de Christina Streva.
Essa atividade de formação de plateia acontecerá em três movimentos, posteriores à seleção e capacitação de oito arte-educadores. Em um primeiro momento, os arte-educadores farão atividades de 2h/aulas com mais de 800 alunos de escolas públicas, de 11 a 14 anos, aplicando jogos. O objetivo do eixo pedagógico é ampliar os horizontes de percepção. As unidades da rede municipal selecionadas pelo FTB foram a Antídio Vieira, no Trapiche da Barra, e Silvestre Péricles, no Pontal da Barra.
O segundo momento do eixo pedagógico será a apreciação do espetáculo Flor de Macambira, que o Ser Tão Teatro apresenta especialmente para as escolas nos dias 17 às 9h e 18 às 14h30, no Ginásio de Esportes do Pontal da Barra. Depois dessa programação, os arte-educadores retomam o contato com os alunos para uma reflexão sobre o espetáculo.
Parte desses alunos participará ainda de Cenas Curtas, uma ação de continuidade do projeto. Duas das escolas terão 30h/aula, onde serão transmitidas noções de dramaturgia. Seguidas de atividades de criação de textos cênicos, práticas de jogos e encenação. A ideia é estimular a formação de grupos de teatro nas escolas.
Residência Artística e Ciclo de Dramaturgos
Destinados a profissionais das artes cênicas, a partir deste ano o FTB passa a realizar núcleos de Residência Artística, que servirão como espaços para a troca de experiências entre grupos teatrais dos estados escolhidos e das cenas em cartaz, com a discussão sobre vivências práticas e diálogos teóricos. Em Maceió, o encontro será com o grupo paraibano Coletivo Alfenim e servirá também um mergulho nas linguagens metodológicas dos trabalhos cênicos adotados por cada grupo, pela busca do trabalho mais profissional dos artistas envolvidos e, paralelo a tudo isso que se concretize em crescimento, sobretudo, pessoal, social e cultural. A Residência Artística acontece no Espaço Cultural, na Praça Sinimbu, entre os dias 1º e 16 de setembro.
Outro eixo importante do festival é o Ciclo de Dramaturgos, que consiste na apresentação de autor da cena em cartaz, escolhido pela classe teatral da cidade-sede, sobre seus textos, criações e métodos criativos, além da proposta de exercícios aos inscritos. Para Maceió, estão confirmadas as presenças dos dramaturgos Paulo Vieira e Tarcísio Pereira.
Escritor, dramaturgo, ator, diretor e professor no Departamento de Artes da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Paulo Vieira participa do ciclo nos dias 12, 13 e 14 de setembro. Ele é autor de peças como Anayde (prêmios de Melhor Autor no XVII Festival Nacional de Teatro, em Campina Grande/PB e no XX Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa/PR – 1992), e Não Se Incomode Pelo Carnaval (prêmios Destaque em Dramaturgia na VI Mostra Estadual de Teatro e Dança, em João Pessoa, 1997; Destaque em Dramaturgia na IV Fenart, em João Pessoa, 1997, e Melhor Texto Original no VIII Festival Nacional de Teatro, em Anapólis/GO, 1998).
O diretor, ator, escritor, jornalista e publicitário Tarcísio Pereira, autor de mais de 30 peças, como a consagrada Caboré, A Ópera da Moça Feia, que já foi montada em Alagoas pela Cia. Nega Fulô. Recentemente, Tarcísio Pereira publicou o livro O Autor da Novela, com o qual ganhou o prêmio Bolsa Funarte de Criação Literária. Tarcísio estará em Maceió nos dias 19, 20 e 21 de setembro. O ciclo acontece entre os dias 12 e 14 de setembro, no Complexo Teatro Deodoro. Os interessados em participar da atividade podem se inscrever de forma gratuita pelo site www.festivaldoteatrobrasileiro.com.br/alagoas.
Histórico do FTB
O Festival do Teatro Brasileiro é um projeto de intercâmbio interestadual, singular no país, que a cada edição seleciona espetáculos de diferentes segmentos da produção cênica de um determinado Estado e os apresenta em outras cidades do país. Criado em 1999 em Brasília por Sérgio Bacelar, o FTB surgiu como Mostra de Teatro da Bahia. Na terceira edição, em 2002, assumiu a conotação nacional, mantendo o foco na cena baiana. A partir do ano seguinte, teve cada edição centrada na cena teatral de um estado.
O projeto já contemplou as Cenas Baiana, Pernambucana, Mineira, Cearense, Gaúcha, Paranaense e Cena DF, levando companhias e coletivos teatrais desses estados para apresentações de seus espetáculos para públicos de outros estados e regiões, promovendo um rico intercâmbio de norte a sul, em um vaivém cênico por capitais e outras cidades de todo o país. O festival chega a Alagoas depois de aportar em cidades do Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Ceará, Maranhão e Acre.
Em suas 16 edições anteriores, o FTB já realizou 631 apresentações de 179 espetáculos selecionados, com público superior a 245 mil espectadores. Um total de 44.900 crianças e jovens da rede pública de ensino participou das atividades educativas e cerca de 2.090 pessoas frequentaram as oficinas. Foram mais de 2.350 empregos temporários gerados até a edição de 2014. Em 2015, o FTB já passou pelos Estados do Pará e do Ceará e, depois da etapa alagoana, em outubro, segue para o Espírito Santo.
O Festival é apresentado pelo Ministério da Cultura e Petrobras e sua etapa alagoana tem o apoio cultural do SESC, Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba, Universidade Federal de Alagoas (Ufal), do Governo do Estado por meio da Diretoria de Teatros de Alagoas (Diteal), e da Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), com a co-realização pela Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC).