Mãe e padrasto de jovem de Brasília estão desempregados.
Um colégio particular de Brasília decidiu premiar o garoto Lucas Yuri Bezerra, que devolveu uma carteira com R$ 1,6 mil achada no lixo mesmo com os pais desempregados, com uma bolsa de estudos integral no ensino médio. O garoto de 16 anos não descansou até devolver o valor ao dono, mesmo sem ter pista nenhuma de quem ele era. O incidente aconteceu no dia 11 de agosto, em Samambaia.
“Na situação atual do país, ele é um sinal de esperança para toda a sociedade brasileira”, disse. “Buscamos, junto com a excelência acadêmica, formar pessoas abertas à comunhão e à transcendência, favorecer a experiência e a assimilação de um conjunto de valores universais, a fé na dignidade da pessoa humana e em sua marca divina.”
Demitida um dia antes de o filho achar a carteira no caminho da escola, a ex-profissional de marketing Cíntia Marques da Silva conta que chorou de felicidade ao ver o primogênito dar exemplo de honestidade. Ela também disse acreditar que o retorno que o menino teve, com o reconhecimento da atitude, tem sido “bem melhor” do que se ele tivesse agido de forma diferente.
“Eu nunca teria condição de pagar. A mensalidade está entre R$ 800 e R$ 1,2 mil. Eu sinto que valeu muito a pena, principalmente para ele. Vale muito a pena ser honesto. Ele foi muito bem recompensado, muito bem reconhecido”, afirma a mãe.
“O sonho dele sempre foi estudar em uma escola particular. Ele ficou louco com os laboratórios. Com certeza ele vai se dedicar mais às aulas. Ele já está preocupado, ‘mãe, e se eu não conseguir tirar nota tão boa?’. Está ansioso”, completa Cíntia.
Lucas Yuri achou a carteira no caminho para o Centro de Ensino Fundamental 312. Inquieto durante a aula, chamou a atenção da professora, que recomendou que ele procurasse a coordenação da escola. O dinheiro pertencia a um pedreiro aposentado, que por engano deixou o item no lixo quando saía para levar a mulher ao médico.
“Quando aconteceu, imaginava que era algo comum. Nunca imaginei que daria essa repercussão toda. Fiquei muito orgulhosa. Toda vez que eu lembro, tenho vontade de chorar. Tive muito trabalho para criar ele. Fui mãe solteira, eu o tive muito nova. Muitas coisas eu que aprendo com ele. Vê-lo tomando uma atitude dessas é muito legal”, afirmou.
Cíntia conta que o menino nasceu de um relacionamento que ela teve na adolescência. Ela chegou a morar com o pai dele, com quem teve outra menina, mas decidiu encerrar a união depois de descobrir que foi traída. A família passou necessidade, e a mulher decidiu voltar para a casa dos pais com as crianças.
“Deixei de comer algumas vezes para dar para ele”, lembra a desempregada. “A gente passou muita coisa nessa vida, mas o Lucas sempre foi um menino muito bom. Trabalha desde o ano passado. Entrava às 5h30 e nunca reclamou. E não quer que a irmã trabalhe, quer que ela só estude. Ele me dá muito orgulho, é uma bênção.”
O garoto estuda pela manhã e trabalha no período da tarde, de segunda à sexta, como auxiliar administrativo de um hospital. Ele recebe meio salário mínimo pelo trabalho, além de pouco mais de R$ 200 de pensão dos avós paternos. Sonhando em ser militar ou engenheiro, o menino se diz surpreso com a reação das pessoas à atitude de devolver o dinheiro.
“Na verdade, assim, fico um pouco triste por ser algo que vire notícia. Queria que fosse algo mais frequente. Algumas pessoas estão surpresas por eu ter feito isso, mas eu não entendo, não é motivo para isso”, declarou ao G1. “Quando eu vi o dinheiro, imediatamente eu pensei na situação financeira da minha mãe e do meu padrasto, mas em momento algum eu pensei em tirar aquele dinheiro para mim. Não era meu.”
Lucas chegou a ser criticado por colegas, que o chamaram de “burro” por ter devolvido os R$ 1,6 mil. A mãe diz que o menino ficou triste com a situação e que por isso se esforçou durante o dia para animá-lo.
“Ele perguntou se eu me decepcionei por ele ter devolvido. Passei o dia inteiro lembrando do olhar dele, por causa do xingamento dos colegas. Aquilo me doeu. Mandei mensagem dizendo que eu tinha muito orgulho dele”, conta.
Bom exemplo
Lucas Yuri Bezerra, de 16 anos, achou a carteira no caminho da escola. Dentro havia R$ 1,6 mil, o orçamento de uma oficina mecânica e um telefone anotado, mas nenhum documento. “Achei que alguém tivesse jogado fora. Dei para o meu amigo brincando. Ele acabou jogando para cima, também brincando. Quando ela subiu é que a gente viu o dinheiro. Ele catou e saiu correndo, dizendo que era dele. A gente conversou, e eu o convenci a devolver.”
A coordenadora Rivânia de Araújo ajudou o menino a encontrar o dono quase dez horas depois que a carteira foi achada. O pedreiro aposentado Benício Eleutério, de 66 anos, acabou deixando a carteira no lixo quando saía para levar a mulher ao médico. Ela sofre de problemas no joelho e anda com dificuldades.
De volta em casa, ele lembra de ter se desesperado ao não encontrar o dinheiro. “Fiquei louco sem saber o que fazer, porque não tinha mais nenhum tostão. Fiquei pensativo”, diz. “[Quando buscou a carteira na escola] Fiquei muito feliz de ver que ainda tem gente boa no mundo, porque a gente vê muita gente que não presta. Mas ainda tem gente que vale muito. Esse dinheiro é essencial, era tudo o que eu tinha.”
A devolução aconteceu na escola, e Eleutério acabou descobrindo que Lucas é neto de um amigo. A avó do garoto, Docarmo Alexandre da Silva, se disse orgulhosa da postura dele.
“Achei um gesto muito bonito, fiquei muito emocionada. Não esperava outra coisa dele, ele é um menino muito abençoado”, declarou ao G1.
Mesmo tendo três irmãos e com a mãe e o padrasto desempregados, Lucas diz que em momento algum cogitou ficar com os R$ 1,6 mil.
“O dinheiro não era meu. Então não era certo. Mesmo que eu não achasse o dono, eu não conseguiria gastar. Simplesmente não era meu. Não podia gastar, mesmo sem saber. Se eu gastasse, sentiria que eu tirei o dinheiro de alguém”, explica. “Fiquei realmente preocupado de não achar.”
A coordenadora Rivânia de Araújo conta que questionou colegas do jovem e que poucos disseram que teriam a mesma atitude que a dele. “Muitos disseram que não entregariam, até porque não tinha documento.”
“[A sensação é de] Dever cumprido. A gente está vendo só notícia ruim da nossa periferia, aqui emSamambaia, e quero crer que, como o Lucas Yuri, têm muitos Lucas aqui na escola”, completou a coordenadora.