– Quando em uma sociedade reina a desconfiança generalizada nas instituições encarregadas de aplicar a lei, sobretudo contra a corrupção, sendo regra a impunidade;
– Quando uma nação, em lugar de colocar em prática um dos mais belos programas da humanidade fundado na trilogia Liberdade, Igualdade e Fraternidade (da Revolução Francesa burguesa, que até Marx disse que foi civilizatória), elege como estilo de desenvolvimento não a maximização das instituições inclusivas, sim, “a não erradicação das estruturas viciadas que permitem a certas elites, bem posicionadas no aparelho do Estado, locupletarem-se à custa da grande maioria da sociedade” (V. Mota, Folha Ilustríssima: 4/10/15: 4);
– Quando, nas democracias liberais, se percebe que a liberdade prometida (nas constituições) não passa de uma liberdade formal (na lei), que protege mesmo (exclusivamente) os que têm o poder de cortar as cabeças dos adversários (na Revolução Francesa, por exemplo) ou de manter a maioria na precariedade ou na indigência;
– Quando se sabe que a maior revolução em favor da igualdade (da União Soviética) destruiu as liberdades das pessoas e criou uma classe dirigente privilegiadíssima, que transformou a prometida igualdade para os proletários em racionamento;
– Quando se sabe que Stálin traiu Marx, fazendo uma história torta (Marcio Tavares D’Amaral), feroz e violenta contra os dissidentes, pouco ou nada avançando na igualdade;
– Quando se sabe que pela fraternidade nem uma revolução sequer foi feita, apesar de sermos todos irmãos, iguais (porque somos humanos) e diferentes (porque cada um é cada um), que deveríamos, justamente por isso, conviver sob o regime da tolerância;
– Quando se luta pela igualdade não para conquistar o que não se tem, mas para se opor à usurpação da que é conatural à nossa existência humana (Marcio Tavares D’Amaral);
– Quando não interrompemos uma parte indecente da história (narrada por Heráclito, Aristóteles etc.) e ainda hoje temos que admitir que continuamos nascendo naturalmente livres ou naturalmente escravos (condenados à escravidão perpétua);
– Quando somos usurpados em nossa liberdade em virtude do cerceamento que ainda nos impõem por razões de classe, gênero, cor, procedência ou preferências afetivas;
– Quando muitos nem sequer forças têm para lutar pela liberdade e os que lutam o fazem não para ampliá-la, sim, para reduzir a sua indevida usurpação, nem sempre reconhecida pela Justiça;
– Quando não temos consciência de que a democracia, para ser o que ela promete, tem que combinar representação eletiva legítima (não “comprada”), fiscalização do eleito e intensa pressão social (Marcio Tavares D’Amaral);
– Quando a própria noção de humanidade entra em risco porque, os que podem (1%), assumem uma deliberada cegueira frente a todos os outros, aos animais, à natureza e ao uso devido da tecnologia;
– Quando vemos os “empresários da violência” explorando crianças como soldados (de grupos religiosos radicais) ou como protagonistas de um tráfico ilícito;
– Quando a satisfação (e felicidade) do humano já não depende do seu coração, dos seus sonhos ou ideais, sim, exclusivamente do quanto (de dinheiro) que lhe oferecem;
– Quando o honrado sai sempre perdendo (Marta Altolaguirre);
– Quando aceitamos “que se converta a verdade em mentira e a injustiça em justiça utilitarista [em favor de alguns privilegiados]” (Judivan Vieira);
– Quando uma imensa operação policial (tipo Lava Jato) tem o mesmo efeito de uma maré baixa, que nos permite ver (de porteiros a chefes de poderes) quem estava tomando banho sem calção (Warren Buffet);
– Quando tudo isso acontece, estamos diante de um povo, de uma nação ou de uma sociedade…*