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Conheça a polêmica força policial que atua no Vale do Silício

(Foto: Ilustração)

A estreia do filme Steve Jobs, uma nova biografia cinematográfica do fundador da Apple, morto em 2011, chamou atenção para algo ainda mais controverso do que história da empresa – a forma como opera uma unidade especial da polícia que atua no Vale do Silício, centro de empresas de tecnologia na Califórnia.

Entre os episódios polêmicos da vida de Jobs está seu confronto com o site de tecnologia Gizmodo – que, em 2010, publicou fotos de um protótipo do iPhone esquecido por um empregado da Apple em um bar de San Francisco.

A Justiça acabou interferindo no assunto, ordenando uma revista na casa de Jason Chen, um dos repórteres do site, e o confisco de computadores e servidores.

Finalmente, o Gizmodo devolveu o smartphone à Apple e os responsáveis pela publicação ficaram livres de acusações.

No entanto, a maneira como a polícia entrou na casa de Chen – durante a noite e derrubando a porta – causou inquietação entre alguns jornalistas que, na época, cobriam a indústria de tecnologia na região.

O episódio também levantou questionamentos sobre o modo de agir da unidade policial que realizou a operação, conhecida como Regional Enforcement Allied Computer Team (Equipe Informatizada Conjunta de Segurança Regional, em tradução livre) ou REACT, na sigla em inglês.

O REACT foi criado oficialmente em 1997 com o objetivo de enfrentar os crimes cibernéticos dos quais são vítimas as companhias de tecnologia do norte da Califórnia.

Seus integrantes pertencem a grupos de segurança locais, estatais e federais, incluindo agentes do FBI, e contam com a assessoria de empresas e especialistas do Vale do Silício.

Quando o caso Apple vs. Gizmodo ocorreu, alguns meios de comunicação sugeriram que a Apple teria algo a ver com a revista na casa de Jason Chen, mas tanto a empresa quanto o REACT negaram.

O jornalista Joe Wicox, do site Betanews, disse que a operação parecia que “alguém estava mandando uma mensagem para a imprensa sobre o que acontece quando se obtém informação e produtos que pertencem a uma grande corporação”.

Em declarações à BBC Mundo, um porta-voz do REACT negou que o grupo tenha atuado segundo as diretrizes de alguma companhia de tecnologia.

Apesar disso, organizações como a União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) já questionaram a ligação desta unidade de polícia com as principais empresas do Vale do Silício – como Apple, Microsoft ou Ebay – dando a entender que elas recebem uma atenção maior que outras empresas ou indivíduos.

Há quem acredite que esta ligação se deve ao fato de que as grandes empresas contavam com representantes no comitê de direção do REACT, que tinha as funções de compartilhar informações e analisar tendências de cibercrimes.

Além disso, segundo a imprensa americana, nos últimos anos algumas unidades de polícia locais receberam doações em dinheiro e material de informática de algumas empresas de tecnologia da região.

Independência

“Nunca nos deram nenhuma diretriz sobre como temos que fazer nosso trabalho ou sobre que crimes temos que investigar”, disse à BBC Mundo Tom Flattery, fiscal adjunto do condado de Santa Clara e membro do REACT.

“Investigamos os crimes dos quais as empresas de tecnologia são vítimas porque esta é nossa missão.”

“(As empresas) São vítimas de delitos e seus casos são investigados como quaisquer outros (…). A insinuação de que, em alguma ocasião, a indústria de tecnologia teve algum tipo de papel nisso não é correta.”

Flattery diz que o comitê de direção do REACT, no qual as empresas do Vale do Silício tinham representantes, já não existe.

“Agora nos comunicamos com elas através de organizações profissionais, como a Associação de Investigação de Crimes de Alta Tecnologia, da qual vários de nossos agentes são membros, assim como representantes da indústria tecnológica.”

Segundo o fiscal, um dos principais trabalhos do REACT é o de “treinar os membros das unidades policiais locais para que eles sejam capazes de conduzir investigações sobre cibercrimes”.

Ele afirma ainda que, nos últimos anos, o número de denúncias de grandes empresas caiu, “talvez porque tenham melhorado seus mecanismos internos de segurança”.

David G. Townsend,especialista em segurança e agente do REACT entre 2000 e 2002, afirma que a unidade faz um trabalho um trabalho “delicado e confidencial”.

“Eles não podem dar detalhes dos casos nos quais trabalham ou das empresas envolvidas, porque suas investigações poderiam ser prejudicadas”, disse à BBC Mundo.

“Para muitas dessas empresas não seria bom se soubessem que elas sofreram algum incidente (de segurança).”

“Essa é a razão pela qual elas muitas vezes contratam os serviços de empresas privadas de investigação, para que os casos não se tornem públicos”, diz.

Towsend acredita que “é importante que as empresas do Vale do Silício estejam em contato com REACT para ficarem atualizadas sobre o tipo de cibercrimes que detectam internamente”.

“Sem essa assessoria, o REACT não teria toda a informação que necessita para fazer seu trabalho”.

Quando o caso de Steve Jobs contra o Gizmodo ocorreu, em 2010, Joseph D. McNamara, que foi chefe da polícia da cidade californiana de San José durante mais de uma década, afirmou que a ligação entre as empresas e as unidades de segurança “é sutil”.

“Para aprender a capturar os criminosos, a polícia não tem outro remédio senão pedir ajuda às empresas que criam e vendem a tecnologia com a qual, em muitas ocasiões, os crimes são cometidos”, disse McNamara ao jornal americano Seattle Times.

“É essa conexão que pode criar dependência.”

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