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‘Houve negligência’, diz MP sobre rompimento de barragens em MG

Um documento do Ministério Público (MP) a que o Jornal da Globo teve acesso nesta segunda-feira (9), afirma que havia risco de rompimento das barragens da mineradora Samarco em Mariana, na região central de Minas Gerais. Segundo promotor de Justiça do Meio Ambiente, Carlos Eduardo Ferreira Pinto, a tragédia “não foi um acidente tampouco fataliade”.

“Não foi acidente. Não foi fatalidade. O que houve foi um erro na operação e neligência no monitoramento”, disse Carlos Eduardo Ferreira Pinto.

De acordo com o documento, “o contato entre a pilha de rejeitos e a barragem não é recomendado por causa do risco de desestabilização do maciço da pilha e da potencialização de processos erosivos”.

A Minerador Samarco não se pronunciou sobre a afirmação do promotor.

3ª vítima

A terceira vítima do rompimento das duas barragens foi identificada nesta segunda. Ocorpo, encontrado na cidade de Rio Doce, a quase 100 km de distância do local do acidente, é de Waldemir Aparecido Leandro, de 48 anos. Ele trabalhava na Geocontrole, terceirizada da mineradora. Além de Waldemir, também já foram identificados os corpos de Cláudio Fiuza, 40, e Sileno Narkievicius de Lima, 47.

Nesta segunda, mais um corpo foi encontrado, próximo a Barra Longa, a 70 km de Bento Rodrigues. Ainda não há informações sobre sexo ou idade da vítima.

A partir desta terça (10), a Samarco dará licença remunerada a 85% de seus 3.000 trabalhadores, tanto da unidade de Germano (MG), onde ocorreu o rompimento das barragens de Santarém e Fundão, quanto de Ubu (ES), onde funciona o usina de pelotização do minério de ferro.

Segundo a empresa, os 15% restantes do efetivo vão permanecer trabalhando na apuração das causas do rompimento das barragens e no atendimento às pessoas atingidas.

Atividades embargadas
A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais informou nesta segunda que todas as atividades da Samarco na região de Bento Rodrigues, em Mariana, estão suspensas desde a última sexta (6).

A empresa não poderá operar na mina de Gernamo, de onde extrai minério de ferro, até que repare todos os danos causados pelo rompimento das barragens. Durante esse período, a Samarco só poderá fazer ações emergenciais, que minimizem o impacto do rompimento e previna novos danos.

Em comunicado no domingo, a Samarco já havia anunciado que, assim que acabar os estoques de minério em Ubu, as atividades na usina também serão suspensas.

Danos
O rompimento das barragens causou uma enxurrada de lama que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, e a mancha segue pelo Rio Doce em direção ao Espírito Santo, onde deve chegar na madrugada desta terça, segundo previsão do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).

As cidades se preparam para a chegada da lama. Em Linhares, a foz do Rio Doce começou a ser aberta, na manhã desta segunda, no distrito de Regência, para dar vazão à lama.

Além de Linhares, Baixo Guandu e Colatina também serão afetadas. Em Colatina, a captação no Rio Doce ficará suspensa por tempo indeterminado e a população está estocando água.

O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) acionou a Samarco para que distribua água e monitore o Rio Doce no Espírito Santo. A empresa terá que apresentar um Plano de Monitoramento e Reparação para as cidades do estado.

No Espírito Santo e em Minas Gerais, o Ministério Público Estadual abriu inquérito civil para apurar os responsáveis pelo acidente, que já é considerado o maior desastre ambiental em MG.

Buscas
O Corpo de Bombeiros ainda busca por 24 pessoas que estão desaparecidas – 11 funcionários da Samarco e 13 moradores de Bento Rodrigues, sendo cinco crianças.

Nesta terça, chegam ao local do acidente cães do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina que vão ajudar na busca por desaparecidos. A ajuda é em retribuição ao auxílio que Minas Gerais deu ao estado do Sul nas enchentes de 2008.