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PMs que fuzilaram carro com cinco jovens tinham preparado emboscada para traficantes

Carro foi fuzilado num dos acessos à comunidade da Lagartixa Foto: Roberto Moreyra / Roberto Moreyra

Os policiais militares do 41º BPM (Irajá) que fuzilaram um carro com cinco jovens no Complexo da Pedreira, na Zona Norte do Rio, no sábado, tinham preparado uma emboscada para pegar bandidos, segundo uma testemunha ocular do crime. O rapaz, de 18 anos, que é irmão de uma das vítimas, e pede para não ser identificado, pilotava uma moto que estava à frente do carro que foi metralhado num dos acessos à comunidade da Lagartixa, que integra a Pedreira. Na manhã desta segunda-feira, a PM anunciou a exoneração do comandante do batalhão de Irajá, tenente-coronel Marcos Netto, “em razão dos últimos lamentáveis acontecimentos”.

— O carro dos policiais estava apagado, com a sirene desligada. Eles começaram a atirar lá de longe e vieram andando. Eu reduzi a velocidade e consegui jogar a moto para trás de uma van, que acabou sendo atingida também. Mas o carro ficou na linha de tiro. O carro freou e nós começamos a gritar que era morador, mas os policiais não ligaram. Chegaram pertinho e continuaram a atirar à queima-roupa — conta o rapaz.

Segundo ele, os próprios policiais contaram a moradores que eles tinham sido avisados de que uma moto e uma escolta do tráfico estavam a caminho. Por isso, eles teriam preparado a embosacada para pegar os bandidos. Em depoimento à Polícia Civil, os militares disseram que estavam no local atendendo a uma ocorrência de carga roubada.

— Queriam atirar para matar mesmo. Estavam apagados, escondidos. Apareceram de surpresa — conta o jovem.

Ainda segundo a testemunha, a mãe de uma das vítimas chegou ao local logo após o crime. Quando ela tentou se aproximar, foi intimidada pelos policiais.

— Busquei minha mãe em casa. Ela ficou desesperada. Quis ver de perto, mas eles a empurraram, disseram para não se aproximar. Um dos policiais começou a xingar e chegou a dizer que ia atirar nela se ela desse mais um passo — diz.

O jovem estava junto com o grupo mais cedo, no Parque Madureira, principal área de lazer da Zona Norte do Rio. Eles saíram da comunidade por volta das 16h para curtir um show que estava programado para acontecer no parque. Saíram de lá por volta das 20h30m e voltaram para casa. Momentos depois, decidiram comprar o lanche numa lanchonete na Av. Pastor Martin Luther King. No retorno à casa, foram surpreendidos pelos PMs.

Policiais presos

Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20 anos, dirigia o Palio que foi fuzilado. Também estavam no carro Wesley Castro Rodrigues, de 25 anos, e os amigos Cleiton Corrêa de Souza, de 18 anos, Carlos Eduardo da Silva de Souza, de 16 anos, e Roberto de Souza Penha, de 16 anos.

Após o crime, quatro policiais do 41º BPM foram presos em flagrante por homicídio e fraude processual. Segundo a 39ª DP (Pavuna), os policiais militares Thiago Resende Viana Barbosa, Marcio Darcy Alves dos Santos e Antonio Carlos Gonçalves Filho foram presos em flagrante por homicídio doloso e fraude processual, e o policial Fabio Pizza Oliveira da Silva por fraude processual.

Eles já foram transferidos para o Batalhão Especial Prisional (Bep), antiga Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói, na Região Metropolitana. O grupo foi levado em viaturas do próprio 41º BPM. A ocorrência chegou à delegacia como auto de resistência, mas a Polícia Civil entendeu que foi fraude processual, quando a cena do crime é alterada.

Procurada sobre o relato da testemunha, a Polícia Civil se limitou a repetir a resposta que havia enviado no domingo, dia da prisão dos policiais militares:

“De acordo com a 39ª DP (Pavuna), os policiais militares Thiago Resende Viana Barbosa, Marcio Darcy Alves dos Santos e Antonio Carlos Gonçalves Filho foram presos em flagrante por homicídio doloso e fraude processual, e o policial Fabio Pizza Oliveira da Silva por fraude processual.

Ainda segundo a unidade, foi realizada perícia no local e os corpos de Roberto de Souza Penha, 16 anos, Carlos Eduardo da Silva de Souza, 16 anos, Cleiton Correa de Souza, 18 anos, Wilton Esteves Domingos Junior, 20 anos e Wesley Castro Rodrigues, 25 anos, foram encaminhados para exame de necropsia no IML. As armas dos policiais militares foram apreendidas e os veículos estão sendo periciados. Testemunhas estão sendo ouvidas”.

Já a Polícia Militar disse que se solidariza com as famílias na nota desta segunda-feira:

“A Assessoria de Imprensa esclarece que adotou as medidas pertinentes diante da natureza do fato. Os policiais já estão presos na Unidade Prisional da PM, em Niterói. Esses policiais responderão perante a Justiça Comum, e responderão também perante a Justiça Militar em IPM instaurado pela Corregedoria Interna da Polícia Militar. Além disso serão submetidos a Processo Disciplinar que poderá resultar na exclusão deles da Corporação. O Comando da PM lamenta o ocorrido e se solidariza com as famílias dos rapazes”.

Leia a nota completa sobre a exoneração do comandante

“O Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro exonerou na manhã desta segunda-feira (30/11), do comando do 41º BPM (Irajá), o Tenente Coronel Marcos Netto em razão dos últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo policiais sob o seu comando. As ações conflitam com as orientações do Comando da Corporação. A exoneração é resultado do esforço que a PMERJ vem desenvolvendo ultimamente no sentido de mudar padrões operacionais de Unidades em áreas conflagradas.

Assumirá o Comando do 41º BPM (Irajá), o Tenente Coronel Jorge Fernando de Oliveira PIMENTA, que atualmente comanda o 32º BPM (Macaé).”.

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