Ao menos duas mulheres foram eleitas para cargos públicos. País era o último país no mundo a negar às mulheres o direito de voto.
Ao menos duas mulheres foram eleitas para cargos públicos na Arábia Saudita após ganharem assentos nos conselhos municipais de Meca e al-Jawf nas eleições de sábado (12). Os resultados preliminares foram anunciados por distritos locais e publicados na agência oficial saudita, segundo a Reuters. Estas são as primeiras eleições abertas a mulheres eleitoras e candidatas.
Uma delas é Salma Al Oteibi Hizab Bent, que ganhou um assento no Conselho Municipal Madrakah, cidade na região de Meca, o primeiro lugar sagrado do Islã , disse o presidente da Comissão Eleitoral, Osama Al Bar, ao relatar os primeiros resultados do pleito municipal. A outra é Hanouf bint Mufreh bin Ayad al-Hazimi, que ganhou um assento em al-Jawf, no norte da Arábia Saudita.
A Arábia Saudita, governada por uma versão rígida do Islã, é um dos países mais restritivos do mundo para as mulheres, que não têm direito de dirigir e precisam da aprovação de um homem para o trabalho ou viagens.
No sábado, os eleitores escolheram entre 6 mil homens e 900 mulheres, autorizadas a concorrer pela primeira vez, segundo a AFP. Todos eles aspiraram a um lugar nas 284 assembleias municipais compostas apenas por representantes eleitos, mas com potência limitada.
No seu distrito, Salma Al Oteibi Bent Hizab competiu com sete homens e duas mulheres, de acordo com Osama Al Bar.
“A participação das mulheres nos conselhos municipais” testemunha, entre outras coisas, “a preocupação e o interesse do Estado em envolver ainda mais esses conselhos no desenvolvimento do país”, acrescentou o presidente da Comissão Eleitoral local.
No país, as mulheres devem se vestir de preto da cabeça aos pés quando estão em público e necessitam da permissão de um membro masculino de sua família para viajar, trabalhar e se casar.
Para algumas, o simples fato de ter feito campanha já é uma vitória em si.
“Para dizer a verdade, eu não me candidatei para ganhar”, afirma Badreldin al-Sawari, uma pediatra do centro de Riad, que entrou na disputa por patriotismo e para provar que o Islã dá direito às mulheres.
“Os homens e as mulheres têm os mesmos direitos em muitos domínios”, assegura, com um verso do Alcorão como apoio, afirmando ter recebido muito apoio durante sua campanha.
Outras mulheres não tiveram uma experiência positiva.
Lujain Hathlul, uma ativista presa 2 meses após tentar, em dezembro de 2014, de entrar no país dirigindo seu veículo a partir dos Emirados Árabe Unidos, teve sua candidatura rejeitada.
Nassima al-Sadah, ativista dos direitos Humanos da cidade de Qatif (leste), indicou à AFP que também contestou na justiça a negação de sua candidatura.
Uma professora que vive no nordeste do país e que não quis ser identificada explica como sua candidata preferida foi excluída por acusações de religiosos.
“Teve que se retirar porque os religiosos disseram que uma mulher não pode participar das eleições. Não creio que as mulheres ganharão muito poder caso vençam”, lamenta.
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch saudou as eleições como um passo para uma maior participação das mulheres na vida política, sublinhando que “a Arábia Saudita continua a discriminar as mulheres através de uma miríade de leis, políticas e práticas”.
A situação dos direitos humanos no reino saudita, liderado pela família real dos Al-Saud, é acompanhada de perto por muitos países ocidentais e ONGs.
Um tímido processo de abertura começou sob o reinado do rei Abdallah (2005-2015), o predecessor de Salman, que em 2011 concedeu às mulheres sauditas o direito de voto e de elegibilidade.
Hossaini, otimista, espera que pelo menos 10% das candidatas conquistem um assento. Em seguida, acrescentou: “até mesmo uma vitória seria um progresso.”