Há quase um século, o Brasil se projeta no mercado internacional como um tradicional produtor de bens de capital incluindo máquinas-ferramenta. Portanto, o país é detentor de uma vasta experiência na criação e produção de máquinas e equipamentos de alta qualidade e desempenho, competindo com os mais exigentes mercados internacionais.
Isso é um fato. De outro lado, sabemos que a economia de um país não pode depender, somente, da produção e exportação de seus produtos primários. A sua riqueza está, além da exploração e comercialização de suas abundantes commodities, na produção de bens duráveis que agregam valor, por meio da aplicação de tecnologia e inovações.
Assim, chamamos a atenção para o fato de a indústria de máquinas-ferramenta brasileira estar capacitada para atender a quase totalidade das necessidades de produção no país, com elevado conteúdo tecnológico.
Por outro lado, essa indústria, também, conta com o fornecimento de máquinas-ferramenta importadas, quer seja para atender picos de demanda ou para suprir equipamentos com características não produzidas no país. Neste último caso, existem os “ex-tarifários”, que desoneram as suas importações. A importação de máquinas-ferramenta deve ser entendida como um canal aberto, porém dentro de um ambiente econômico sadio, tendo como base um câmbio justo e em condições comerciais isonômicas como aquelas aplicadas nos países dos seus concorrentes internacionais.
A demanda futura por máquinas-ferramenta da média e alta tecnologia no país será enorme, uma vez que o seu parque de máquinas instalado conta com uma idade média de aproximadamente 17 anos contra 5 a 8 anos nos países altamente industrializados. Isto significa que os investimentos das indústrias de manufatura no país serão muito intensos no decorrer dos próximos anos.
Para tal, o governo federal deve persistir no estímulo à modernização do parque de máquinas no país, incentivando a sua indústria de bens de capital, por meio de financiamentos, como a linha FINAME PSI do BNDES, e da implantação de novos projetos, como o Modermaq, idealizado pela ABIMAQ, para a substituição de máquinas-ferramenta sucateadas por novas de moderna tecnologia e de alto rendimento. Com isso, obter-se-ão maiores ganhos de produtividade, de qualidade e de rentabilidade, com crescimento das exportações.
É inadmissível imaginar-se um país de dimensões continentais gigantescas e uma população com mais de 200 milhões de habitantes, como o Brasil, sem uma indústria pujante de bens de capital e, em particular, de máquinas-ferramenta. É uma questão de segurança nacional para um país ter a sua própria indústria de máquinas-ferramenta, a fim de garantir a manufatura de bens duráveis para o seu consumo e para as suas exportações.
* Alfredo Ferrari é engenheiro mecânico e vice-presidente da Câmara Setorial de Máquinas-Ferramenta e Sistemas Integrados de Manufatura (CSMF)