Vania Basílio teve surto, foi transferida de cela e passará por avaliação. Direção do presídio alega que suspeita também está com medo de detentas.
A suspeita de matar o ex-namorado durante ato sexual, Vania Basílio Rocha, de 18 anos, foi transferida de cela e deve passar por uma avaliação psiquiátrica após apresentar um comportamento estranho no Presídio Feminino de Vilhena (RO). A direção da unidade diz que algumas detentas estão com medo da jovem.
Segundo a Polícia Civil, Vania matou Marcos Catanio Porto, de 26 anos, na casa da vítima no dia 30 de dezembro. A mulher foi presa em flagrante e confessou: “Queria matar alguém. Fiquei olhando olho no olho até ele morrer”.
Ao G1, o diretor do presídio, Flávio Miranda, disse que os agentes plantonistas perceberam que Vania parecia estar em surto. “Ela estava falando sozinha com palavras desconexas e rasgou o lençol de se cobrir”, comentou.
A direção da unidade explica que a mulher foi colocada em uma cela mais próxima da carceragem, onde continua sozinha, e deve ser avaliada por uma psiquiatra para depois ser transferida para cela com outras presas. A data da avaliação ainda não foi marcada.
“Nossa equipe pediu uma avaliação com a médica e, após a opinião clínica, veremos como proceder com a mudança. As outras presas estão ressabiadas com essa mudança. Estão com medo dela, e ela está com medo das presas”, afirmou o diretor.
De acordo com o diretor de segurança da unidade, Jair Stiipp, atualmente, Vania está em uma cela sozinha, no processo chamado de triagem. “As presas ficam dez dias na triagem para depois serem enviadas para uma cela normal. Ela está sozinha porque não teve outras mulheres presas depois dela”, garantiu.
Família não vai pagar advogado
A mãe de Vania ainda não consegue entender o que levou a filha a cometer o homicídio. Preferindo não se identificar, a mãe disse ao G1 na terça-feira (5) que a família não pretende pagar advogado para ela. “Acho justo ela pagar pelo que fez”, diz.
Com a aparência abatida, a mãe contou que Vania sempre apresentou comportamento normal e a família está sofrendo por causa do crime. A mulher falou que levou materiais para a filha, no presídio feminino, e que não irá abandoná-la.
“Sou a mãe dela. O que puder fazer por ela, nós faremos. Eu amo ela incondicionalmente. Ela é minha filha, mas acho justo ela pagar pelo que fez. Ela não tem advogado. O advogado será do estado, pois não vou contratar advogado”, enfatizou.
Polêmica no Facebook
Uma das publicações de Vania mais comentadas no Facebook é o texto de um blog que tinha como título: “eu não fui uma má namorada, você que me tornou”. Após ser presa e confessar que matou o ex-namorado, usuários criticaram a postagem. “Imagina se fosse boa”, escreveu um jovem. “Louca, psicopata, parece que estava possuída pelo demônio”, acrescentou outro usuário. A postagem foi feita dois dias antes do crime.
Meses antes de matar o ex-namorado, Vania declarou que o amava em uma postagem no Facebook. Ela publicou uma foto no perfil em outubro de 2013. Em 2 de junho de 2015, Marcos comentou: “Ti amo muito”. No dia seguinte, a vendedora respondeu: “te amo, mais ainda”.
Vania disse em entrevista na delegacia, que namorou com Marcos por nove meses, mas que estavam separados há dois meses.
Saudades
No perfil de Tim, como o ex-namorado de Vania era conhecido, amigos e familiares se dizem revoltados e tristes com o crime. Dezenas de postagens de saudades e homenagens foram publicadas. “Poxa, primo, quanta crueldade. Meus pêsames”, disse um primo.
Durante o velório de Marcos, no dia 31, o irmão da vítima, Alberto Catanio Porto, de 28 anos, falou da saudade do irmão. “Não dá para acreditar que isso aconteceu. Na hora, só pensei em socorrer meu irmão. Ela terá que prestar contas com Deus. É uma cena que nunca vou esquecer. Agora fica só a saudade e as lembranças boas”, lastima.
Conforme a família, Marcos trabalhava como editor de vídeo, mas atualmente recebia seguro desemprego. Ele morava sozinho em uma casa e Alberto morava nos fundos, no mesmo quintal. Segundo o irmão, em 2016 eles pretendiam voltar para a cidade de Pimenta Bueno (RO), onde moram o restante dos parentes.
Últimas palavras
No velório de Marcos, no dia 31 de dezembro, Mauricio Jacob contou que estava na casa onde ocorreu o crime. “Ele morreu nos meus braços. ‘Ela é louca’ foram as últimas palavras dele. Perdi um irmão”, lamentou o amigo da vítima. Mauricio lembrou que após chegar na residência, Vania foi para o quarto com Marcos.
Depois de algum tempo, Mauricio e o irmão da vítima, Alberto, ouviram gritos de socorro. “Arrombamos a janela, pois a porta estava fechada. Quando entramos, ele segurava o braço dela com a faca. Arranquei a faca da mão dela e joguei longe. Ela sumiu, e o Tim foi caindo para trás, falando que ela era louca”, contou Mauricio, emocionado.
Após o crime, Vania se escondeu no banheiro, onde ficou até a chegada da Polícia Militar. A mulher foi presa em flagrante por homicídio qualificado, pois usou de meios que dificultaram a defesa da vítima, segundo a Polícia Civil.
Crime
Após ser presa, ainda na delegacia, Vania relatou ao G1 que planejou o crime. Segundo ela, três nomes de possíveis vítimas foram colocados em uma lista: um amigo, um “ficante” e o ex-namorado. Na noite de terça-feira (29), ela ligou para os dois primeiros, que não puderam vê-la, pois estavam com a família.
Na manhã do dia 30, Vania ligou para Marcos alegando que queria se despedir, pois iria embora para outro estado. Ela então colocou uma faca de cozinha dentro da bolsa e foi para a casa da vítima, que havia aceitado receber a visita. O casal foi então para o quarto e, durante as preliminares sexuais, ela esfaqueou o ex-namorado.
“Eu queria matar uma pessoa só, dos três. Eu tapei o olho dele. Aí peguei a faca e meti nele. Ele reagiu e veio para cima de mim e eu fui para cima dele também. Eu enforquei ele, e aí comecei a meter [facadas] em outras partes do corpo dele. Daí ele gritou socorro e a porta estava trancada. O irmão dele quebrou a janela. Quando o irmão dele entrou ele já estava quase morrendo. Fiquei olhando olho no olho até ele morrer”, narrou.
Investigação
Na ocasião, o delegado Fábio Campos resumiu o depoimento de Vania. “Ela diz que sentiu vontade de matar alguém e poderia ser qualquer um dos três. Disse que não usa drogas e que nunca fez tratamento psiquiátrico. Observamos que ela tem traços de sociopata”, explicou Campos.
Segundo a polícia, após passar por exame de corpo de delito, Vania foi levada para o presídio feminino de Vilhena, onde está à disposição da Justiça.