Alagoas é um dos poucos estados que oferece aos portadores da Síndrome de Guillain-Barré o tratamento por plasmaférese, uma técnica de transfusão que permite retirar plasma sanguíneo de um doador ou de um doente. Isso se deve a um convênio pioneiro firmado entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e a Santa Casa de Misericórdia de Maceió, cujos maiores beneficiários são os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
Antes do convênio, os pacientes que sofreram de doenças neurológicas, como também a Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) e a mielite transversa, só conseguiram esse tipo de tratamento através de mandado judicial. E com o aumento dos casos de Guillain-Barré em Alagoas – que não é de notificação compulsória –, principalmente em cidade próximas a Bahia, a técnica vem sendo empregada para atender estes pacientes.
“Estamos trabalhando para que nenhum alagoano, usuário do SUS, acometido pela síndrome de Guillain-Barré venha a ficar sem atendimento. A assistência integral e humanizada é uma de nossas metas e estamos trabalhando para proporcioná-la, para que a recuperação seja eficaz e o paciente não fique com nenhuma sequela”, salientou a secretária de Estado da Saúde, Rozangela Wyszomirska.
Tratamento
Apesar do próprio Ministério da Saúde indicar a imunoglobulinas no tratamento desses enfermos, uma técnica que consiste na injeção de anticorpos contra os auto-anticorpos que estão atacando o revestimento do nervo [a bainha de mielina], a Sesau saiu na frente e oferece um tratamento ainda melhor: a plasmaferese. “Essa é uma técnica que se assemelha a hemodiálise, na qual é possível filtrar os anticorpos que estão atacando a bainha de mielina e devolver apenas aqueles que não oferecem risco à saúde do paciente”, explicou o hematologista Wellington Galvão, que foi contratado pela Sesau para realizar o tratamento.
Até dezembro, 43 portadores da doença receberam o tratamento, sendo cinco deles crianças entre quatro e oito anos. “Grande maioria estava no HGE [Hospital Geral do Estado], onde receberam o tratamento feito através da imunoglobulina. Só que nessa técnica, o tratamento dura em média seis meses, enquanto as sessões de plasmaferese já oferecem melhora na primeira sessão e são mais eficazes no combate as sequelas”, informou o hematologista.
Constatação
A contadora Larissa Ferreira de Melo Rocha, de 34 anos, foi uma das pacientes contempladas com o convênio. Ela desenvolveu a síndrome após sofrer uma virose muito intensa, ficando com a ponta da língua e face dormentes e sentindo formigamento na panturrilha e em duas horas não conseguia mais mover as pernas.
“Fui ao Ambulatório 24 Horas João Fireman, no Jacintinho, e me transferiram para o HGE, onde passei 16 dias internada e os médicos descobriram que se tratava de Guillain-Barré. Eu não sabia nem dizer o nome da doença direito. Mas após o iniciar a plasmaférese, tive a alegria de, com apenas 10 minutos, já conseguir mexer os dedos dos pés”, contou Larissa.
A síndrome
A Síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune que ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca parte do próprio sistema nervoso por engano. Isso leva à inflamação dos nervos, que provoca fraqueza muscular. Ela pode surgir após o portador ter superado uma intensa virose e o Ministério da Saúde confirmou que a infecção pelo Zika vírus pode provocá-la também.
“Esse dano provoca formigamento, fraqueza muscular e até mesmo paralisia. Costuma afetar mais frequentemente a bainha de mielina. Essa lesão é chamada de desmielinização e faz com que os sinais nervosos se propaguem mais lentamente. O dano a outras partes do nervo pode fazer com que este deixe de funcionar completamente”, declarou o médico, ao enfatizar que “quanto mais rápido procurar ajuda, mais rápida será a recuperação”.