Representante da Agência Judaica no Brasil exalta valores democráticos em entrevista ao R7
O atual momento político e econômico vivido pelo Brasil tem contribuído de forma decisiva para o grande aumento de imigração de brasileiros judeus para Israel. Até 2013, o máximo de brasileiros que iam morar no país judaico foi de 220 por ano. Já em 2014, a quantidade aumentou 40%, chegando a 290 imigrantes e atingiu um pico, inédito nas últimas décadas, de 77% em 2015, quando 496 brasileiros se mudaram para Israel.
Em 2016 o ritmo segue o mesmo e não será surpresa se novo recorde for batido no fim do ano, atingindo o número de mil imigrantes. Em entrevista exclusiva para o R7, Revital Poleg, representante da Agência Judaica no Brasil, órgão do Estado de Israel, fala sobre esses números e sobre o papel da entidade, tão ou mais importante para as comunidades judaicas do mundo inteiro como consulados ou embaixadas. Tendo sido assessora do ex-primeiro-ministro Shimon Peres e ex-chefe de gabinete do presidente do Parlamento (Knesset), Revital também ressalta a importância dos valores democráticos para qualquer país.
Berço do Estado de Israel, a Agência Judaica foi fundada em 1929, quando o país estava sob o mandato britânico e, na ocasião, já que ainda não havia um Estado, tinha o papel de administradora de questões judaicas, inclusive as políticas e econômicas. Vários líderes de Israel já a chefiaram, como o ex-primeiro-ministro David Ben-Gurion. Com a proclamação do Estado de Israel, que completa 68 anos no sábado (14), a Agência passou a ter um papel essencialmente comunitário.
R7 – Qual é o papel da Agência Judaica junto a Israel e às comunidades judaicas do mundo inteiro?
Revital Poleg – A Agência Judaica é um órgão do Estado de Israel e trabalha no mundo todo com as comunidades judaicas locais. Não procuramos pessoas para fazer a chamada aliá (imigração para Israel), facilitamos a quem quiser. O papel Agência Judaica, sempre em integração com outras entidades judaicas, é trabalhar com os judeus dentro e fora de Israel para garantir a continuidade do Estado e isso passa por alimentar a ligação com o Estado de Israel, ter experiências no país, ajudar os interessados a conhecerem Israel e que Israel, e seus jovens, conheçam as comunidades do mundo que são uma só coisa.
R7 – Organizar a imigração de judeus para Israel é o principal objetivo da Agência?
RP – Não há um objetivo específico de imigração, você pode ser judeu no Brasil por toda a sua vida, ótimo para nós e para Israel: um bom brasileiro e judeu, um bom americano e judeu e assim por diante. A pessoa estar interessada em morar em Israel é uma decisão pessoal não estamos aqui para convencer ninguém. Mas se há o interesse, nosso papel é facilitar e dar a assistência necessária para que isso aconteça.
R7 – Que tipo de apoio o Estado de Israel, por meio da Agência Judaica, dá àqueles que vão morar no país?
RP – O Estado dá uma ajuda básica para o começo do caminho, que não é para resolver todas as necessidades da pessoa. Israel é definido como a casa do povo judeu e por esse motivo ajudamos e facilitamos a chegada no começo, mas depois as pessoas têm de encontrar trabalho, emprego, estudar dependendo da idade. Se for opção da pessoa ela pode no começo ir para um centro de absorção com custo subsidiado por seis meses.
R7 – Quais os critérios de ajuda para cada imigrante?
RP – Os critérios para cada um variam de acordo com a idade, número de pessoas, etc. Isto é definido lá em Israel. Em geral há uma assistência financeira modesta no começo e também há ajuda burocrática. Também damos apoio para o aprendizado do hebraico, até a pessoa começar a entender melhor a língua e o ambiente. Israel sempre diz: Bem-vindo, vamos facilitar os primeiros passos mas o resto é com você. Israel é um país de imigrantes, não é só de agora, e foi desta maneira que se constituiu.
R7 – Como a Agência tem visto o crescimento do número de imigrantes brasileiros para Israel?
RP – A imigração de brasileiros é muito apreciada em Israel e contribui com o país devido à qualidade dos que chegam. Ultimamente houve um aumento de brasileiros indo para Israel, é fato. Temos de entender que é uma decisão pessoal e que há vários motivos para situações de imigração. Cada pessoa e família tem um motivo diferente. Às vezes surgem circunstâncias que ajudam a pessoa a tomar uma decisão que estava na cabeça há algum tempo. Claro que a atual crise brasileira acabou contribuindo de alguma maneira para isso. Estamos tendo mais trabalho, mas estamos aqui para isso.
R7 – Qual a ligação do judaísmo e do Estado de Israel com a democracia?
RP – Para a Agência Judaica a democracia israelense é ligada a valores democráticos que são universais e buscamos passar isso aos jovens com atividades que simulam, por exemplo, uma sessão do Knesset (Parlamento). No judaísmo, sem que eu fale como autoridade religiosa, há muito de democracia. Na bíblia há passagens que falam de valores como “ama o teu próximo como a ti mesmo”. Não são valores somente judaicos, mas começaram com o judaísmo e valem para todo o ser humano. Também está escrito “não faça para os outros o que não queres que te façam”, nesta mesma linha. Na Guemará (livro de leis judaicas), se fala que a bíblia tem 70 caras, o que mostra muitas maneiras de analisar os temas, de praticar a vida religiosa e cultural do judaísmo, mostrando um pluralismo legítimo. Isso justamente é a democracia e são valores judaicos e democráticos.
R7 – Qual a importância dos evangélicos para o Estado de Israel?
RP – Os evangélicos são amigos de Israel e como amigos são muito importantes. Ajudam a divulgar o nome de Israel de uma maneira positiva pelo mundo afora e apreciamos muito esta amizade, que nos ajuda em nosso objetivo de nos relacionar com o mundo de uma maneira respeitosa e democrática.