Algemado, acusado de abusar sexualmente de um adolescente de 15 anos, o padre Fabiano Santos Gonzaga falou com exclusividade a VEJA
O senhor é padre e é acusado de estuprar um adolescente vulnerável de 15 anos. Tem receio de apodrecer na cadeia?
Nem cheguei a pensar nisso.
Como o senhor se defende dessa acusação?
Não tinha como eu praticar sexo oral no garoto e ainda ejacular em sua boca uma vez que a sauna estava aberta ao público e sem tranca na porta.
Quando entrou na sauna, o garoto já estava lá?
Sim. Estavam ele e um senhor de mais ou menos 60 anos. O senhor saiu logo em seguida e o garoto me cumprimentou com os olhos. Eu perguntei o seu nome e se estava tudo bem. Ele me disse que estava hospedado na casa de um tio em Caldas Novas. Depois ele ficou parado me olhando. Achei ele estranho por não interagir e saí da sauna. Não fiquei lá dentro nem cinco minutos.
O que houve depois?
Estava sentando com os meus amigos e uma senhora loira me abordou dizendo: “seu nego safado. Não tem vergonha não?”. O menino veio em seguida com duas amigas da mãe. Ela gritava dizendo que o filho dela é doente e que eu não podia ter feito aquilo. Não entendi nada naquele momento. Fomos levados para a delegacia e o menino disse que eu tinha ejaculado na boca dele. Me senti constrangido e sem entender muito a história.
Quando tentou conversar com o garoto, percebeu que ele tinha algum tipo de deficiência?
Não. Eu só reparei que ele não me respondeu. Mas não deu para perceber nada.
O senhor se diz vítima de injustiça, mas tem cinco pessoas acusando você e a juíza não quis soltá-lo. Afinal, como o senhor se meteu nessa confusão?
Tentando pensar sobre isso, cheguei à conclusão que o menino ficou interessado em mim. Mas, como eu não correspondi, ele acabou inventando toda essa história por ter um retardo mental. A mãe tomou a história como verdadeira e já veio me acusando por eu ser minoria.
O que agravou a sua situação?
O fato de ser padre me complicou, pois há o estereótipo de que todo padre é tarado, pedófilo e gosta de criancinha.
A rigor, uma pessoa que está presa acusada injustamente de estuprar um menor vulnerável ficaria desesperada, mas percebo que o senhor está se defendendo tranquilamente. Essa sua postura não levanta uma dúvida sobre a veracidade da história que o senhor conta?
Na hora, eu não me desesperei porque não sabia direito o que estava acontecendo. Fui conduzido sem saber o motivo. Quando fui preso, aí sim, eu me desesperei.
O que o senhor está sentindo nesse momento?
Injustiçado pela situação e pela mídia. Humilhado porque as testemunhas estão faltando com a verdade e preocupado porque tenho família.
Consegue imaginar o que vai acontecer com o senhor daqui para frente?
Não. Mas tenho que provar a minha inocência. Não sei como isso vai acontecer.
Quando o senhor resolveu ser padre?
Desde pequeno. Quando era criança, ia à missa com uma prima e sentia um encantamento. Em seguida, virei coroinha e sacristão. Aos 18 anos entrei no seminário e fui ordenado padre aos 25.
Será que a sua carreira de padre acabou com esse escândalo sexual?
Não, até porque vou provar a minha inocência. Agora, fica difícil recuperar a ferida moral.
Diante de uma acusação tão grave como essa, é possível recuperar o respeito dos fiéis?
Sim, até porque a minha vida religiosa na paróquia mostra o contrário de tudo isso que estão me acusando.
Como o senhor processa essa situação no campo religioso?
Acho que é uma provação. Um momento triste, doído e dolorido.
Se o tempo voltasse atrás, o que o senhor faria diferente?
Eu não estaria naquele clube.
Que mensagem o senhor quer mandar aos seus fiéis?
Orem por mim.