Funkeiro de 20 anos foi baleado durante show em Campinas, em julho/2013. Advogada diz que 'família cobra respostas', mas cita esforços em apurações.
As investigações sobre o assassinato do músico Daniel Pedreira Sena Pelegrine, o MC Daleste, foram encerradas pela Polícia Civil sem conclusões sobre a autoria e motivação do crime. Ele foi baleado em Campinas (SP) quando fazia um show no bairro San Martin, em julho de 2013. Ao G1, o pai da vítima, Rolland Pelegrine, lamentou e disse que “a dor é forte”, enquanto a advogada da família se diz indignada, mas cita esforços da corporação para buscar esclarecimentos.
Em nota enviada divulgada nesta semana, a Secretaria da Segurança Pública do estado (SSP) confirmou que o inquérito foi relatado à Justiça, em dezembro de 2015, pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Antes disso, o caso também era tratado sob sigilo.
A pasta não respondeu quantos depoimentos foram ouvidos nas apurações, centralizadas pelo órgão na capital paulista desde abril de 2014. À época, houve uma troca no comando do Departamento da Polícia Judiciária (Deinter-2) e as investigações sobre as chacinas que deixaram 12 vítimas em Campinas, em janeiro daquele ano, também foram enviadas do Setor de Homicídios do município (SHPP) ao departamento, com a promessa de “oxigenar” os trabalhos.
O Setor de Comunicação do Deinter-2 alegou que a polícia fez todas as “diligências que estavam ao alcance”, incluindo a visualização dos vídeos disponíveis. “Não obstante, não foi possível, naquele momento, chegar ao esclarecimento do delito”, informa texto da assessoria.
Em 2013, o delegado que presidia o inquérito, Rui Pegolo, disse à reportagem que a corporação havia recebido 100 denúncias nos cinco dias posteriores ao crime, sem indicação de suspeitos.
Uma reconstituição simulada sobre o assassinato também foi realizada por peritos do Instituto de Criminalística (IC). Na ocasião, eles concluíram que os disparos foram feitos a 40 metros de distância do palco onde estava o cantor de 20 anos, e teriam partido de área ao lado de uma casa à época em construção – perto de um matagal por onde o suposto criminoso deve ter fugido do local.
O Tribunal de Justiça do estado (TJ-SP) informou que os autos, a pedido do Ministério Público, foram arquivados pela 1ª Vara Criminal de Campinas em abril deste ano. Eles permanecem assim até que, eventualmente, “novas provas sejam apresentadas ou ocorra a prescrição”. A assessoria de imprensa do MP confirmou que o pedido de arquivamento foi feito em fevereiro.
O pai de Daleste, Rolland Pelegrine, afirmou à reportagem que se sente desorientado com a falta de um desfecho para o caso ocorrido há quase três anos. “Como pode uma coisa dessa? A gente fica sem saber o que fazer na verdade. Tenho esperança, a gente fica meio desorientado, a dor é muito forte. Não vai aliviar [esclarecimento], mas a gente fica no escuro”, explicou.
A advogada que representa a família da vítima, Patrícia Vega, considerou que o caso foi o mais investigado entre os que já trabalhou durante a carreira. Ela destacou que aproximadamente 50 testemunhas foram ouvidas pela polícia, e diversas linhas sobre a motivação foram analisadas – incluindo crime passional e também a possibilidade de “morte encomendada por um desafeto”.
“Eu fico muito indignada, a família cobra respostas. Infelizmente não chegaram a nenhuma hipótese para elucidar o crime, que é cercado de nuances e situações duvidosas”, frisou. Ela explicou que, apesar da quantidade de espectadores no show e número de vídeos gravados no momento do disparo, nenhum nome foi apontado pelas testemunhas aos investigadores do caso.
“Tem que ter alguma coisa crível. Todo mundo diz que chegou a ouvir alguma coisa, mas ninguém chega para o delegado ou promotor de Justiça e dá um nome. Crime perfeito não existe, alguma coisa deve ter sido deixada para trás”, avaliou Patrícia ao dizer que mantém esperança na solução do caso.
“Em algum momento vai escapar quem foi o autor”, ponderou a advogada da família. Segundo ela, o caso será imediatamente reaberto caso haja novas informações sobre o assassinato.
Daleste foi atingido por dois tiros, um de raspão na área da axila direita e outro que entrou pelo lado esquerdo do corpo e atingiu estômago, fígado e pulmão. Ele se apresentava para aproximadamente três mil espectadores durante show no San Martin, em Campinas.
O músico chegou a ser socorrido ainda consciente pelos próprios amigos, entretanto, não resistiu aos ferimentos e morreu no Hospital Municipal de Paulínia (SP). Daleste morreu após ter anemia aguda causada pela perda de sangue, de acordo com laudo do Instituto Médico Legal (IML).
Produtor que contratou o funkeiro para o show em Campinas, Rogério Rodrigues de Oliveira contou à polícia que o cantor pediu para ser fotografado no carro, quando era levado ao hospital. Segundo ele, Daniel Pelegrine esperava se recuperar dos ferimentos e “brincar” com o fato de levar um tiro e resistir.
Ao lado de MC Léo e MC Gui, o jovem paulistano ajudou a popularizar o subgênero conhecido como funk ostentação e ganhou fama a partir de hits como “Gosto mais do que lasanha” e “Mais amor, menos recalque”. Uma fanpage do cantor no Facebook é seguida por 346 mil internautas.