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Justiça manda ex-skinhead a júri por cortar e congelar tia em geladeira

Guilherme Oliveira foi preso por matar Kely Oliveira em 2015 em São Paulo. Acusação disse ele teve intenção de matá-la; defesa recorreu da decisão.

Reprodução / TV Globo / Polícia Civil

Reprodução / TV Globo / Polícia Civil

A Justiça de São Paulo decidiu levar a júri popular o ex-skinhead Guilherme Lozano Oliveira, de 23 anos, preso há um ano acusado de assassinar a própria tia, cortar o corpo dela e congelá-lo num freezer. A professora Kely Cristina de Oliveira tinha 44 anos.

O sobrinho agressor e a tia vítima moravam juntos no apartamento dela, na Rua Acapuzinho, na Vila Medeiros, Zona Norte da capital. Segundo a acusação, o motivo do crime teria sido uma discussão por conta da sujeira feita pela cachorra dele.

A data do julgamento, no entanto, ainda não foi marcada porque a defesa de Guilherme recorreu da decisão judicial de junho deste ano. Seus advogados alegam que o crime é culposo (sem intenção de matar) e não doloso (intencional). Nesse caso, Guilherme teria de ser julgado por um juiz e não por sete jurados.

“O pedido ainda não foi analisado”, disse ao G1 Denivaldo Barni Júnior, que, juntamente com o pai, Denivaldo Barni, são os advogados de Guilherme. “A gente pede no recurso a adequação da lei no caso específico, que esse homicídio é culposo e não doloso”, afirmou Barni Júnior. “Houve a culpa, mas não houve o dolo. Muito embora ele tenha dito a Justiça que matou, ele não teve a intenção. Disse que foi um acidente.”

Enquanto isso, está mantida a acusação de que Guilherme asfixou Kely e depois escondeu o corpo por quase dois meses. Ele responde por homicídio qualificado por motivo torpe, feminicídio e ocultação de cadáver.

“A Justiça o pronunciou para ir a júri, mas a defesa recorreu”, disse o promotor Sérgio de Assis, do 2º Tribunal do Júri, do Fórum de Santana, responsável por acusar Guilherme. “Meu entendimento é que ele teve intenção de matar.”

O representante do Ministério Público (MP) afirmou que espera a condenação do ex-skinhead. “A Justiça poderia aplicar uma pena bem próxima da máxima”, disse Assis. Pela lei brasileira, uma pessoa não pode ficar presa por mais de 30 anos por um crime.

Crime
O corpo de Kely só foi descoberto depois que o pai do ex-skinhead, o aposentado Marco Antônio Oliveira, 49, desconfiou do envolvimento do filho no desaparecimento da irmã, que ficou sumida por mais de um mês.

No dia 5 de agosto de 2015, Marco então acionou a Polícia Militar (PM) e apontou para Guilherme na rua. O jovem ainda tentou fugir de carro, mas bateu o veículo num poste e foi detido na esquina da Avenida Júlio Buono com a Rua Major Dantas Cortez. Em seguida, a viatura policial colidiu na traseira do automóvel do ex-skinhead.

No carro de Guilherme havia um adesivo com uma cruz. Segundo a polícia, a cruz é um símbolo usado por grupos neonazistas para representar a suástica. Isso seria um disfarce já que fazer apologia ao nazismo é crime. A polícia informou que ele integrava um grupo skinhead. Lutador de boxe e jiu-jitsu, Guilherme tinha poucos amigos.

Ainda de acordo com a PM, Guilherme confessou que ele e a tia discutiram e por isso a enforcou. Em seguida, segundo a PM, ele contou que cortou o corpo dela. Um machado foi apreendido com o ex-skinhead. Os pedaços do corpo foram colocados numa mala e em sacos plásticos, que acabaram guardados e congelados dentro de uma geladeira.

Para os policiais militares, Guilherme alegou que não teve a intenção de assassinar a tia, que a morte dela foi acidental. “Ele alegou que havia entrado em luta corporal com ela, que acabou morrendo”, disse a tenente Paula Helen Gouveia da Silva.

Defesa
Em agosto do ano passado em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, Guilherme declarou que se sentia um lixo após matar e esquartejar a tia em São Paulo. Ele alegou, porém, que a morte de Kely foi acidental.

“Ela sofria de bipolaridade. Tinha uma mudança de humor muito repentina. A gente começou uma discussão. Ela veio com a intenção de uma agressão e para tentar conte-la, eu dei um golpe de jiu-jitsu nela, chamado ‘mata leão’, para tentar acalmá-la, na intenção de desmaiá-la mas…”, contou Guilherme à época.

Punk morto
Não foi a primeira vez que ele esteve envolvido num assassinato. Ele já havia sido condenado pelo assassinato de um punk, morto a facadas em 2011, também em São Paulo. Na época em que era skinhead, ele esfaqueou e matou Johni Raoni Falcão Galanciak, 25.

De acordo com o site do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, em novembro de 2014, Guilherme foi condenado pela Justiça a 15 anos de prisão em regime fechado pela morte do punk Johni ocorrida em 3 de setembro de 2011, durante briga de gangues na Rua Cardeal Arco Verde, em frente ao Carioca Club, Pinheiros, na Zona Oeste. Como respondia ao processo em liberdade, ele não foi para a prisão, podendo recorrer solto da sentença.

Quando foi condenado em 2014 pelo assassinato do punk Johni, Guilherme foi acusado de ser skinhead e integrar um grupo neonazista que pregava a discriminação e intolerância a gays, negros, judeus e nordestinos. De acordo com a denúncia feita pelo Ministério Público, ele esfaqueou Johni e fugiu após matá-lo.

Ainda naquela ocasião, outro skinhead, Fábio dos Santos Medeiros, então com 21 anos, ficou ferido no confronto. A confusão entre os grupos rivais de punks e skinheads ocorreu na rua em frente ao Carioca Club, pouco antes da apresentação da banda de punk rock inglês Cock Sparrer.

Câmeras de segurança gravaram o conflito e ajudaram na identificação dos envolvidos na confusão. Guilherme foi condenado por homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e meio cruel).

Como respondia ao processo em liberdade, Guilherme não foi preso automaticamente após a condenação. Por decisão da Justiça, pode ficar em liberdade para recorrer da sentença condenatória solto. Pesquisa feita pelo G1 no site do TJ mostrou que a Justiça decidiu aplicar o cumprimento dessa pena ao ex-skinhead.