As irmãs Michele e Lidiane, mineiras de Campanário, Vale do Mucuri, e a amiga Thayane, do Espírito Santo, estavam desaparecidas desde fevereiro
As três brasileiras que estavam desaparecidas desde fevereiro em Portugal foram encontradas mortas na manhã desta sexta-feira dentro de um barril com água, no pet shop onde trabalhava o namorado de uma delas, a mineira de Campanário, no Vale do Mucuri, Michele Santana Ferreira, de 28 anos, que estava grávida de três meses. A irmã dela, Lidiane Neves Santana, de 16, e a amiga das duas, Thayane Milla Mendes, de 21, que era de Nova Venécia (ES), também foram mortas. As três moravam em Cascais, uma vila no distrito de Lisboa. As mães das vítimas ficaram em choque com a notícia.
“Minha filha estava grávida de três meses. Quer dizer: ele matou a milha filha, o próprio filho e as outras duas”, disse a mãe de Michele e Lidiane, a auxiliar de serviços gerais Solange Santana Leite, de 50, referindo-se ao companheiro de Michele, também brasileiro, que trabalhava no pet shop e fugiu para o Brasil logo depois do sumiço das vítimas, tido como principal suspeito. “A minha ficha ainda não caiu. Perder um filho já é triste, perder dois é pior ainda”, lamentou a mãe.
Solange conta que estava numa rede social e uma amiga de Portugal mandou três fotos das vítimas. “Eu quis saber o motivo das fotos e ela pediu meu contato telefônico, que ia me ligar na hora. Ela falou para mim, encontraram três corpos, dentro de um barril com água, no pet shop, onde trabalhava o rapaz que morava com minha filha”, disse Solange, que recebeu, pela internet, reproduções de reportagens sobre o encontro dos corpos. A mãe entrou com outra amiga que mora em Portugal, que confirmou as mortes.
A informação, segundo a mãe, é que o companheiro da filha, que está no Brasil, telefonou para uma amiga dele em Portugal e confessou o triplo homicídio, indicando o local dos corpos. “A amiga fez uma denúncia anônima para a polícia”, disse Solange. Logo depois de receber a notícia do crime, um filho de Solange que mora em Governador Valadares, Vale do Rio Doce, recebeu a notícia da Polícia Federal.
“Eu tinha esperança de encontrar minhas filhas vivas. Vou ver com meu advogado o que precisa fazer para trazer os corpos para o Brasil. Minha amiga de Portugal pediu autorização para cremar os corpos, pois fica mais fácil para trazer”, disse Solange.
Michele morava em Portugal há oito anos e convidou a irmã, Lidiane, para ir morar lá também, o que aconteceu em meados de novembro passado. Em janeiro, a amiga Lidiana, Thayane Milla Mendes, de 21, também viajou para Lisboa. Com exceção de Michele, as outras duas garotas ainda estavam em situação irregular na Europa.
A mãe de Thayane, Tânia Mendes, ficou em estado de choque ao saber da morte da filha. Ela passou mal e precisou ser levada para um hospital de Nova Venécia. O Itamaraty informou que não foi comunicado oficialmente da identificação dos corpos e que acionou o Consulado do Brasil em Portugal para buscar mais informações com as autoridades locais.
ENTENDA O CASO
O desaparecido das mulheres foi uma história confusa e com muitos personagens, que mudou de rumo em fevereiro deste ano, quando Dinai Alves Mendes, namorado de Michele, que também morava em Lisboa há vários anos, se tornou o único interlocutor entre Solange e as filhas. O dia 11 de fevereiro de 2016 foi o último em que Michele respondeu a mãe pelo WhatsApp.
Solange nunca acreditou que era Michele que respondia suas mensagens no Facebook, no começo de fevereiro, porque a filha passou a digitar de uma maneira diferente da que sempre fez. Ao mesmo tempo, Michele falava de situações que eles estavam vivendo depois que Lidiana e Thayane chegaram, e não sabia explicar, com clareza, os conflitos que fizeram com que Thayane saísse da casa e fosse passar quatro dias com outras amigas que também moram em Portugal. A filha ainda comentou sobre ter perdido um bebê e que o namorado queria muito ter um filho e estava deixando-a irritada, pedindo para que ela emagrecesse para ter mais saúde para isso.
No dia 19 de fevereiro, depois de tentar contato com as filhas inúmeras vezes, Solange conseguiu falar com Dinai, por meio do WhatsApp. Ele disse que iria procurar pelas mineiras para tentar diminuir a preocupação de ex-sogra, mas que elas haviam se mudado para Londres. Nessa conversa, ele promete ligar com novas informações e, em certo momento, acrescenta: “a senhora sabe que não sou tão ruim assim”. Entretanto, somente no dia 21 ele respondeu, dizendo que conseguiu falar com Michele e que pediu para que ela ligasse para a mãe, além de confirmar que as meninas estavam em Londres. Dinai terminou a conversa dizendo-se feliz por elas estarem bem. Depois disso, nunca mais respondeu aos chamados da mãe de Michele e Lidiana.
A desconfiança de Solange com relação ao ex-genro ficou maior quando ela descobriu que, no dia 23 de fevereiro, portanto, dois dias depois de terem conversado pela última vez, ele retornou para o Brasil, para a cidade de Novo Cruzeiro, onde morava antes, sem avisar aos amigos e parentes das mulheres.No dia 23 de março, Solange prestou depoimento na Polícia Federal de Governador Valadares. De acordo com ela, o mesmo fez Dinai, ao ser convocado pela PF de Belo Horizonte.