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Polícia quer ouvir manifestante que teve olho perfurado em ação da PM

Secretaria da Segurança procura universitária para que ela registre BO. Polícia Civil quer saber quem atingiu jovem que disse ter perdido visão.

Mel Coelho /Mamana Foto Coletivo

Mel Coelho /Mamana Foto Coletivo

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo vai procurar a jovem que teve o olho esquerdo perfurado por bomba disparada pela Polícia Militar (PM), durante ato contra o governo Michel Temer na quarta-feira (31), no Centro da capital paulista, para que ela registre boletim de ocorrência do caso.

De acordo com pessoas ligadas à pasta, a Polícia Civil precisa ouvir a estudante Deborah Gonçalves Fabri, de 19 anos, para investigar como a universitária se feriu. Somente assim, será possível tentar identificar e, eventualmente, responsabilizar quem a machucou. A jovem vai passar por exame de corpo de delito nesta sexta-feira.

“A SSP entrou em contato com a Universidade do ABC, onde estuda Deborah Fabri, para que sejam oferecidos os meios necessários para a localização dela e para que a Polícia Civil possa registrar o fato em que ela alega ter se envolvido e dar início às devidas investigações, uma vez que ela não registrou o boletim de ocorrência”, informa nota enviada ao G1 pela assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança.

A estudante postou no Facebook que ficou cega. “Oi pessoal estou saindo do hospital agora. Sofri uma lesão e perdi a visão do olho esquerdo mas estou bem. Obrigada pelas mensagens e apoio logo logo respondo todos!!!”

 Procurado pelo G1, o Hospital de Olhos Paulista, que atendeu e operou Deborah, informou que exames futuros vão determinar se ela perdeu a visão. Devido a gravidade do ferimento, as possibilidades de a universitária voltar a enxergar não são grandes.

“Pela extensão das lesões, o prognóstico visual é bastante reservado, bem grave. As chances são pequenas para recuperação da visão”, disse o doutor William Fidelix, diretor operacional do hospital.

De acordo com o boletim médico do hospital, a paciente “foi internada em nosso serviço às 2h37 do dia 1º de setembro de 2016, com trauma na região da face, escoriações nas pálpebras e região malar esquerda, e lesão perfuro contusa no olho esquerdo”. Deborah passou por cirurgia de urgência. O hopital também disse que “por ser tratar de um procedimento de alta complexidade oftalmológica, o prognóstico requer cuidados especiais”.

Ouvidoria
A Ouvidoria da Polícia de São Paulo informou à reportagem que pedirá para o Ministério Público (MP) apurar a ação da Polícia Militar (PM) que feriu Deborah.

“Vou acionar o Ministério Público para pedir que apure o crime de lesão corporal de natureza gravissima cometido por policiais contra essa garota. É preciso identificar o responsável por isso”, disse o ouvidor Julio Cesar Fernandes Neves.

Ele disse que também irá acionar a Secretaria da Segurança Pública (SSP) e a Corregedoria da PM para investigar a conduta dos policiais por suspeita de terem cometido outros excessos durante confronto com manifestantes.

Vídeos e fotos circulam na internet mostrando pessoas feridas no confronto entre policiais e manifestantes durante a caminhada do grupo contrário ao governo de Michel Temer (PMDB).

“É notório que houve excesso da PM. Basta analisar as imagens”, disse o ouvidor, que acha que o conflito poderia ter sido evitado. “É necessário que haja cautela de ambas as partes, principalmente da PM”.

Um vídeo postado na web mostra PMs cercando um dos dois fotógrafos detidos por suspeitas de atirarem pedras no ato e tirando dele um objeto, que em seguida é chutado pelo policial. Depois, alguém fala que a máquina fotográfica de um deles foi quebrada.

Nas imagens de um cinegrafista amador, um carro branco atropela um grupo de manifestantes. Uma jovem ficou ferida e é socorrida pelos colegas.

Fotografias compartilhadas nas redes sociais também mostram o resultado da intervenção policial: pessoas sangrando, com ferimentos pelo corpo. Um homem aparece com um curativo no olho esquerdo dentro da sala de um hospital.

G1 procurou as assessorias de imprensa do MP e da PM para comentarem o assunto e se tomarão medidas para apurar a conduta dos policiais durante o protesto. Até a publicação desta matéria, os órgãos não haviam se posicionado.

Na quinta, policiais e manifestantes divergiam quanto ao início do confronto durante o protesto, que também não teve os números de agentes e de ativistas divulgados oficialmente.

Manifestantes ouvidos pela reportagem relataram que a PM começou a atirar bombas de efeito moral para dispersar a manifestação. A Polícia Militar informou que interveio após “um grupo começar a incendiar montes de lixo e agredir policiais com pedras na Rua da Consolação”. O comunicado acrescenta que um PM “foi ferido e levado para atendimento médico”.

O confronto entre policiais e manifestantes deixou agências bancárias danificadas. De um lado, PMs lançavam bombas de gás e de efeito moral para dispersar a multidão. De outro, ativistas atiravam pedras contra os agentes e agências bancárias. A manifestação também incendiou entulho para fazer barricadas nas ruas e impedir a aproximação policial. Uma viatura da Polícia Civil foi danificada pelos manifestantes.

Protesto
Por volta de 20h, o grupo contrário ao impeachment deixou a frente do Masp e passou a caminhar em sentido da Rua da Consolação. A intenção foi descer até a Praça Roosevelt, no Centro. O outro grupo, que apoia a saída de Dilma, seguiu na Paulista. O sentido Consolação da Paulista foi liberado por volta de 20h20.

Às 20h30, a Polícia Militar jogou bombas em direção a manifestantes que colocaram fogo em lixo na Praça Roosevelt fazer barricadas. De acordo com a GloboNews, manifestantes chegaram a jogar rojões contra policiais da Força Tática da PM.

Bancos da região central tiveram vidraças quebradas pelos manifestantes. Na Praça da República, os manifestantes colocaram fogo em lixo e quebraram pontos de ônibus e vidraças de estabelecimentos comerciais.

Os manifestantes quebraram até uma viatura da Polícia Civil que estava estacionada na região da República. A Polícia Militar reagiu a provocações e passou a jogar bombas de gás e efeito moral contra grupo de manifestantes na Avenida São Luís com a Rua da Consolação.

Às 21h15, dois caminhões da Tropa de Choque chegaram à Praça da República. Os policiais desceram com armas pesadas para dispersar os manifestantes. Um caminhão com jatos d’água foi acionado para afastar o grupo de manifestantes.

Rojões foram lançados em meio aos policiais da Tropa de Choque na Avenida São João, que revidaram com bombas de gás. Às 21h40 os policiais do Choque entraram em caminhões da corporação e deixaram o Centro. Às 21h50 a estação República do Metrô, que ficou fechada durante a confusão, foi liberada.

Às 22h30, um grupo de manifestantes se reuniu e passou a subir a Rua da Consolação. Eles caminharam por meio dos veículos que desciam no sentido Centro da via. Perto do Cemitério da Consolação, policiais usaram bombas para impedir a chegada à Paulista.