Em estudo, mosquito comum que circula no Rio não transmite zika

Mosquitos Culex de quatro regiões da cidade foram coletados para testes. Cientistas utilizaram células de primatas para confirmar resultados.

IOC/FiocruzAmostras colhidas de mosquistos comuns de Copacabana

Amostras colhidas de mosquistos comuns de Copacabana

Um estudo feito por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) demonstrou que mosquitos Culex (pernilongo ou muriçoca, como são conhecidos popularmente) de quatro regiões do Rio de Janeiro não são capazes de transmitir o vírus da zika.

Os ovos e larvas dos mosquitos foram coletados nos bairros de Copacabana, Jacarepaguá, Manguinhos e Triagem, de janeiro a março deste ano.

Depois que os insetos se tornaram adultos, foram alimentados com sangue infectado por duas linhagens do zika encontradas na cidade do Rio de Janeiro e separados em gaiolas. Os grupos foram analisados aos 7, 14 e 21 dias após receber o vírus. As seguintes partes do corpo foram analisadas: abdômen/tórax, cabeça e saliva.

Para chegar ao resultado, as amostras coletadas dos Culex passaram pela técnica RT-PCR, que é capaz de detectar e quantificar o material genético do vírus, e pela análise em células Vero, recomendada para identificar se o zika está ativo e habil para causar infecção em vertebrados. Foram mais de mil amostras analisadas, referentes a 392 mosquitos.

A participação dos mosquitos “comuns” na transmissão do vírus da zika é uma das hipóteses para a rápida transmissão no Brasil e no mundo. Os resultados foram publicados nesta terça-feira (6) na revista internacional “Plos Neglected Tropical Diseases”. Após toda a pesquisa, não foram encontradas partículas infectantes do vírus na saliva dos insetos que poderiam ser expelidas no momento da picada.

A pesquisa também comparou a evolução do zika no organismo dos mosquitos Aedes e Culex. De acordo com o entomologista Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários e coordenador do estudo, apenas dois mosquitos Culex coletados apresentaram o vírus, com um nível de infecção milhares de vezes menor do que o encontrado nos mosquitos Aedes.

Em maio deste ano, os mesmos pesquisadores publicaram uma outra pesquisa que confirmou o mosquito Aedes aegypti como o principal vetor da doença, além de encontrar indivíduos da espécie naturalmente infectados. O Instituto Pasteur de Paris é parceiro da pesquisa publicada desta terça.

Outros estudos

A capacidade de transmissão de uma doença deve mudar de acordo com a linhagem viral e o genótipo do inseto, explica Lourenço.

Em estudo feito por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, publicado em julho deste ano, foi detectada a presença natural do zika nos mosquitos Culex quinquefasciatus da cidade do Recife. Esse grupo de cientistas anunciou, por meio de experimentos de laboratório, que a presença do vírus foi verificada nas glândulas salivares dos mosquitos comuns.

Na análise feita em Pernambuco, a técnica RT-PCR quantitativa também foi utilizada e determinou a presença no vírus na saliva. A análise em células Vero, que diz se o vírus é habil para causar infecção em vertebrados, foi feita apenas pelos pesquisadores do Rio. Estudos adicionais estão em andamento.

No México, pesquisadores da Universidade do Texas Medical Branch, dos Estados Unidos, identificaram somente mosquitos Aedes naturalmente infectados pelo zika. Nenhum mosquito “normal” foi naturalmente infectado. Os resultados foram publicados no “The Journal of Infectious Diseases”.

Já especialistas da Universidade de Wisconsin, também dos Estados Unidos, obtiveram um resultado parecido: após testes laboratoriais realizados com a linhagem asiática do zika (mesma que circula nas Américas), constatou-se que mosquitos da espécie Culex pipiens são incapazes de transmitir o vírus.

Fonte: G1

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