Com o mandato cassado há uma semana, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi hostilizado ao menos duas vezes nos últimos cinco dias. Em ambas as ocasiões, Cunha estava em trânsito de uma cidade para a outra. No episódio mais recente, o peemedebista foi alvo de um protesto, ontem, dentro de um avião, enquanto pegava um voo do Rio de Janeiro para São Paulo.
Nesta segunda-feira, enquanto guardava os pertences no bagageiro para fazer a ponte aérea, Cunha foi interpelado por uma mulher. “Senhor Eduardo Cunha, muito obrigada por roubar o Brasil inteiro. Estamos todos gratos. Desejo que o senhor apodreça na cadeia. Não é justo a sociedade conviver com uma figura como o senhor”, disse ela na fala, seguida de aplausos dentro do voo. Cunha não respondeu às agressões. Os vídeos com as imagens foi publicado por passageiros nas redes sociais. Até as 21h, tinha mais de 3,5 mil compartilhamentos.
Na última semana, o ex-presidente da Câmara dos Deputados foi hostilizado por passageiros que estavam no aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, na sexta-feira, quatro dias depois da cassação. Cunha se dirigia ao voo que pegou para ao Rio de Janeiro. Na sala de embarque, o peemedebista foi bastante vaiado, mas também tietado por alguns que passavam.
O ex-deputado ouviu gritos de “golpista” e “ladrão”, mas recebeu elogios por ter deflagrado o processo de impeachment, que acarretou na saída do PT do governo, após 13 anos no poder. Cunha foi cassado na última semana por 450 votos a favor e somente 10, contrários no processo por quebra de decoro parlamentar. O ex-deputado foi acusado de ter mentido à CPI da Petrobras, em março do ano passado, quando negou ter contas no exterior. Meses depois, o Ministério Público Federal divulgou provas de que Cunha tinha contas.
A queda do peemedebista ocorreu depois de o ex-parlamentar ser alçado à condição de presidente todo-poderoso da Câmara dos Deputados. No comando da Casa desde fevereiro de 2015, Cunha conseguiu dar o próprio ritmo a votações importantes. E alvo do processo no Conselho de Ética desde outubro de 2015, o peemedebista conseguiu aplicar uma série de manobras que fizeram o caso durar 10 meses e ser o mais longo já analisado pelo colegiado.
Além de ter tido o mandato cassado, Cunha se tornou réu em duas ações no Supremo Tribunal Federal e responde outras sete, ao menos. Devido à perda do foro privilegiado, a maioria dos processos tramitará na Justiça Comum. Na última semana, o relator da Lava-Jato no STF, Teori Zavascki, remeteu ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba, a ação em que Cunha é réu por ter contas no exterior usadas para o recebimento de pelo menos R$ 5 milhões em propina. A outra ação, a de número 982, em que Cunha responde por recebimento de R$ 5 milhões de propina em um negócio com navios-sonda, foi remetida ao Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro (TRF-RJ).