Paul Verlaine celebrou o clitóris em seu poema “Printemps”, de 1889, como um “brilhante botão rosa”, mas graças à pesquisadora sociomédica Odile Fillod, estudantes franceses compreendem agora que ele se parece mais com um bumerangue de alta tecnologia. O primeiro clitóris 3D do mundo, que possui fonte aberta e é anatomicamente correto, vai ser usado para a educação sexual nas escolas francesas, do ensino primário ao secundário, a partir deste mês.
Com ele, os alunos vão aprender que o clitóris é composto do mesmo tecido que o pênis. Que ele é dividido em cruras ou pernas, bulbos, prepúcio e uma cabeça. E que a única diferença entre um clitóris e um pênis é que a maior parte do tecido erétil feminino é interno – e que muitas vezes ele é mais longo do que o masculino, tendo em torno de 20 cm.
“É importante que as mulheres tenham uma imagem mental do que está realmente acontecendo em seu corpo quando elas são estimuladas”, diz Fillod. “No entendimento do papel fundamental do clitóris, uma mulher pode parar de sentir vergonha, ou que ela é anormal se a relação sexual pênis-vaginal não for satisfatória para ela – tendo em conta os dados anatômicos, este é o caso para a maioria das mulheres”, revela.
“Também é importante saber que o equivalente de um pênis em uma mulher não é uma vagina, é seu clitóris. Mulheres têm ereções quando estão excitadas, só que não podemos ver porque a maior parte do clitóris é interna. Eu queria mostrar que os homens e as mulheres não são fundamentalmente diferentes”, explica.
Ativismo do clitóris
Fillod estava trabalhando com os criadores de uma série de web TV anti-sexista para criar um vídeo de educação sexual moderno quando percebeu que o órgão não era apresentado corretamente nos livros escolares. Isto a levou a desenvolver o seu modelo 3D no Fab Lab, da Cité des Sciences et de L’Industrie, em Paris.
O modelo 3D de Fillod chegou bem na hora. Em junho deste ano, o Haut Conseil à l’Egalité, um órgão do governo francês que monitora a igualdade de género na vida pública, publicou um relatório condenatório sobre o estado da educação sexual na França. O relatório revelou que a educação sexual no país é repleta de sexismo. Diretrizes oficiais atuais afirmam que os rapazes são mais “focados na sexualidade genital”, enquanto as meninas “dão mais importância ao amor”.
O ativismo do clitóris está em alta na França no momento. O grupo feminista Osez Le feminisme tem lutado contra o silêncio em torno do órgão desde 2011. Em Nice, um grupo de feministas pró-sexo, Les Infemmes, criou uma fanzine de “contra-cultura sensual”, chamada L’Antisèche du Clito ou o Guia do Clitóris para Idiotas. Há desenhos engraçados como um “Clitóris Punk”, “Clitóris Drácula” e “Clitóris Freud”, bem como fatos sobre o órgão.
Mistério desconhecido até pouco tempo atrás
O médico australiano Helen O’Connell é frequentemente creditado como sendo a primeira pessoa a mostrar a anatomia completa do órgão para o mundo moderno, em 1998. Na verdade, a realização pertence à artista e ativista Suzann Gage, que percebeu, ao olhar para imagens do clitóris usadas para ilustrar um livro chamado “Uma Nova Visão do Corpo de Uma Mulher”, em 1981, que as melhores informações vinham de livros de medicina do século 19, quando os desenhos anatômicos eram feitos baseando-se em cadáveres. Assim, imagens do clitóris podem ter existido por um longo tempo, mas, percebendo que ele não desempenhava nenhum papel direto na reprodução, a medicina preferiu ignorá-lo.
Fillod tem esperanças que os médicos, bem como professores, usem sua escultura para aprender – e ensinar – a verdade sobre o corpo feminino. “A França tem a reputação de ser sexualmente sofisticada, mas muitas vezes isso é a respeito da sexualidade masculina.” No entanto, ela é otimista sobre o futuro. “Ao entender que elas têm um sistema erétil assim como os homens, eu acho que as mulheres vão começar a experimentar mais. Elas vão entender que o prazer não é uma mágica que apenas um parceiro sabe dar”.