O longo período de estiagem associado à alta dependência, na agricultura, do uso intensivo da água, tem levado os produtores rurais capixabas a sofrerem os maiores prejuízos financeiros das últimas décadas.
A produção, em dois anos caiu pela metade, num prejuízo estimado em R$ 3,6 bilhões. Levantamento da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag) realizado a pedido de A Gazeta aponta que, entre 2014 e 2016, houve queda acentuada em diversas culturas no Espírito Santo.
Foram elas: maracujá (72%), beterraba (50%), coco (45%), mamão (36%), cana-de-açúcar (30%) e café conilon (40%). Principal produto do agronegócio do estado, a produção do café conilon despencou de 9,949 milhões de sacas, em 2014, para 5,930 milhões de sacas, em 2016.
A preços correntes, a estiagem provocou prejuízo de cerca de R$ 2,2 bilhões aos cafeicultores capixabas.
Com queda na safra e nas vendas para o mercado externo, muitas empresas exportadoras e armazéns também estão fechando as portas e vários produtores têm erradicado as lavouras por falta de perspectivas de recuperação.
Para os especialistas nesse mercado, a safra e as vendas só devem voltar ao patamar de 2014 – um dos melhores períodos para essa cultura – em 2018 ou mesmo em 2019. E isso só vai acontecer se no período não houver mais nenhuma piora climática.
Com relação ao mamão, a queda foi de 36% em sua produção. Ou seja, 144 mil toneladas a menos. Linhares é o maior exportador da fruta no Brasil. Da cidade saem, todo mês, cerca de mil toneladas de mamão para a Europa, Estados Unidos e Emirados Árabes.
De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex), a quebra no município pode ser ainda maior do que a anunciada pelo IBGE, chegando a 70% nos últimos meses.
Na fruticultura em geral, a perda foi de 434 mil toneladas, de acordo com a Seag. Laranja, abacaxi, goiaba, maracujá e cacau também sofreram com a quebra na produção, o que representou uma retração no valor de produção em R$ 957 milhões.
No ramo das olerícolas, como tomate, cenoura, chuchu, inhame e gengibre, a perda foi de 78 mil toneladas, em 2015, e de 19 mil toneladas, em 2016, o que representou a redução de R$ 228 milhões em valor de produção.
O levantamento foi feito com base em estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e mostrou ainda que, na pecuária de leite, serão produzidos 30,4 milhões de litros a menos em 2016. A comparação sempre é com 2014.
Já a produção de pimenta-do-reino, apesar de ter crescido em 2016 numa comparação a 2014 – em função da expansão da área plantada – sofreu uma quebra de 5.171 mil toneladas em comparação com 2015, caindo de 13.863 para 12.768 toneladas neste ano.
Mais tecnologia
Diante da gravidade da situação, o próprio governo do estado já admite que atual modelo de utilização dos recursos hídricos “tornou-se insustentável”.
Na avaliação do secretário de estado da Agricultura, Octaciano Neto, o setor agrícola não precisará deixar de avançar em irrigação, mas terá que investir em sistemas mais eficientes, como o de gotejamento, e apostar na preservação dos recursos naturais.
“Também temos que desenvolver novas variedades, como de café conilon que resista com menos água, por exemplo. Hoje, nosso conilon aguenta bem viver com 1.100 milímetros de água por ano. Se nós tivéssemos um clone que aguentasse com 600 milímetros, com certeza nosso sofrimento nessa crise teria sido muito menor.”
Ainda de acordo com o secretário, as pesquisas nessa área estão bem avançadas. “O Incaper está desenvolvendo e vai lançar, a partir do ano que vem, variedades mais resistentes de café, que nas próximas secas serão mais tolerantes à escassez”, completa.