Lideranças religiosas cobram investigação de atentado no Benedito Bentes

Crime aconteceu durante uma festa de Cosme e Damião; Uma ialorixá foi atingida com um tiro nas costas

Izabelle Targino/Alagoas24horasConselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e lideranças religiosas pediram apoio ao Ministério Público

Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e lideranças religiosas pediram apoio ao Ministério Público

Integrantes do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e lideranças das religiões de matriz africana estiveram na sede 61ª Promotoria de Justiça da Capital para pedir que o promotor Flávio Gomes acompanhe as investigações do crime de intolerância religiosa, ocorrido em uma casa de axé, no Conjunto Frei Damião, no Benedito Bentes 2.

A tentativa de homicídio aconteceu no dia 25 de setembro, durante uma festa de Cosme e Damião em uma casa de axé na Avenida Mundaú, na casa do babalorixá pai Janerson de Oxum. Segundo a advogada do pai de santo, Kandysse Melo, era final de tarde quando um grupo de religiosos conversava na porta da casa e foram agredidos verbalmente por um grupo de evangélicos que passavam pelo local.

“Eles estavam na porta, quando os evangélicos passaram e começaram a usar expressões injuriosas contra eles, que responderam apenas axé. Ao ouvir a expressão do candomblé, um dos evangélicos disse ‘axé não, respeite o meu amém’. Neste momento, uma das pessoas que estava na porta da casa respondeu dizendo que respeitaria o amém dele se ele respeitasse seu axé. Um homem que estava no grupo foi embora dizendo que aquilo não ficaria assim, e voltou minutos depois na garupa de uma moto e atirou de espingarda doze no portão da casa. O tiro atravessou o portão e atingiu as costas da mãe Cristiane”, relatou a advogada.

Após ser atingida, a ialorixá foi levada para o hospital, onde passou dias internada e agora se recupera em casa.

De acordo com a presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Valdice Gomes, os integrantes do conselho e as lideranças religiosas querem agilidade na apuração do caso e uma resposta dos órgãos de segurança pública. Nessa quarta, o grupo esteve na Secretaria de Segurança Pública para cobrar as investigações e hoje pediram o acompanhamento do Ministério Público.

Izabelle Targino/Alagoas24horasPresidente do Conselho, Valdice Gomes, entregou uma petição ao promotor

Presidente do Conselho, Valdice Gomes, entregou uma petição ao promotor

“Queremos que p promotor Flávio Gomes acompanhe, porque este não é o primeiro caso de crime de intolerância religiosa que a gente não consegue respostas. Queremos resultados e punição. Há um descaso muito grande quando os crimes são de racismo e intolerância religiosa. A gente quer a investigação. Quem puxou o gatilho tem nome e CPF. Queremos a mesma prioridade que diversos outros casos têm do Estado”, disse a presidente do Conselho.

O dono da casa onde o crime aconteceu, Pai Janerson de Oxum, segundo a advogada, ainda não conseguiu voltar a abrir a casa sozinho. De acordo com Kandysse Melo, ele desenvolveu um estresse pós-traumático e está muito abalado.

Após ouvir os relatos, o promotor Flavio Gomes, titular da 61ª Promotoria, disse que vai solicitar a abertura do inquérito policial pelo 8º Distrito, responsável pela área e acompanhar. O promotor e também o presidente da Comissão de Defesa das Minorias da OAB Alagoas, o advogado Alberto Jorge, atendendo a uma solicitação das lideranças religiosas, marcou uma visita ao babalorixá pai Janerson de Oxum, para ouvir os relatos dele e de demais testemunhas do caso.

“Como ele está ainda muito abalado e se negando a sair de casa, o grupo então solicitou a minha ida até a casa dele. Acho muito importante a nossa presença, minha e do doutor Betinho, naquela comunidade, para que as pessoas entendam que intolerância religiosa é crime e que nós vamos cobrar as investigações. Vamos conversar com o pai Janerson e também com as pessoas que estiveram no dia do crime para ouvir os relatos”, disse o promotor.

A visita acontece na próxima segunda-feira (24), às 15h.

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