Uma das iguarias mais sofisticadas entre os frutos do mar apreciados no litoral brasileiro, a ostra começa a entrar nos cardápios dos melhores restaurantes de Maceió e arredores com um diferencial: o processo de depuração que garante a pureza do produto. O beneficiamento é resultado de um projeto da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid), juntamente com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), que implementaram uma unidade de depuração em Coruripe. Atualmente, a unidade atua com o beneficiamento da produção de cinco comunidades diferentes do litoral sul, como a Palateia, um dos mais preservados manguezais do Nordeste, que fica na Barra de São Miguel.
Lá, a ostreicultura exige dedicação. Em geral, os moradores percorrem trilhas alagadas a bordo de canoas rústicas em meio à vegetação nativa até a área de cultivo, onde é preciso acompanhar o desenvolvimento de cada ostra. Depois os frutos do mar são encaminhados para a unidade de beneficiamento em Coruripe. A depuração consiste na filtragem e purificação do molusco. As ostras permanecem no depurador por aproximadamente 48 horas antes de serem comercializadas, imersas na água do mar filtrada, tratada com luz ultravioleta, cloração, filtração, oxidação com baixa concentração de cloro, eliminando os riscos de contaminação por bactérias, vírus e outros microrganismos que são comuns nesse produto, evitando os riscos do consumo. Habitante de águas marinhas ou salobras – como dos mangues – as ostras tem alto valor nutritivo, por conter fósforo, cálcio, ferro e várias vitaminas. A ostra ainda conta com alta concentração de proteína, contribuindo para manter os sentidos aguçados. São suaves e levemente doces quando coletadas do fundo de manguezais e de gosto mais acentuado do que aquelas oriundas do mar.
No próximo dia 01 de novembro, as Associações de Produtores, juntamente com o SEBRAE/AL, IABS, UFAL e SEAGRI/AL promovem um seminário gratuito na Barra de São Miguel com foco em apresentar o processo de depuração e discutir produção, comercialização e inserção do produto de forma mais expressiva nos menus alagoanos. As inscrições vão até 26/10 através do site: www.iabs.org.br. Um dos palestrantes é o chef Jonatas Moreira, do Restaurante Akuaba, que hoje é um dos principais clientes da Depuradora e vai apresentar o seu case. Hoje, a casa tem inclusive um aquário com as ostras do projeto.
A coordenadora do projeto, Marcela Pimenta, acredita que o ingrediente tem um grande potencial e pode ajudar a fortalecer o turismo gastronômico no estado. A especialista lembra que Maceió já tem sido projetada nacionalmente por conta da sua vocação culinária, por conta de chefs premiados e uma singular combinação de ingredientes tradicionais do mar, do sertão e das lagoas. “A ostra agrega muito valor aos nossos cardápios já diversos. Estamos promovendo a conexão direta entre os chefs e os produtores de comunidades inseridas em belos ecossistemas. O turista certamente se sente privilegiado de conhecer a cultura local, através da nossa gastronomia”, explica. No verão, o Ninquim, na Barra de São Miguel, oferece as ostras cultivadas por comunidades do Litoral Sul “in natura” ou gratinadas na beira da lagoa. Outra casa da Barra que deve começar a servir as iguarias em breve é o Macuípe.
Ao todo 150 famílias são envolvidas no projeto. Marcela Pimenta afirma que um dos focos é melhorar o impacto econômico e social da atividade através da agregação de valor. “O conceito do projeto é amplo, envolvendo desde a questão da sustentabilidade ambiental, o padrão de qualidade sanitária do produto, um modelo de negócio social e a inclusão produtiva dos moradores”, emenda a analista do IABS. Até o mês de maio de 2016, mais de 112 mil reais já foram distribuídos para a comunidade através do programa que originou também a construção de um modelo de gestão comunitária e subsidiou estratégias diferenciadas que melhoraram a comercialização e a inserção do produto nos mercados turístico e gastronômico. A expectativa do IABS é ampliar cada vez mais a comercialização de ostras, melhorando assim a possibilidade desenvolvimento das famílias envolvidas.