Executivos da empreiteira Odebrecht começaram a assinar nesta quarta-feira (23) acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) no âmbito da Operação Lava Jato. A TV Globo apurou que 78 executivos da empresa devem assinar, individualmente, os acordos.
Após a assinatura dos acordos, os executivos passarão a prestar depoimentos ao MPF para confirmar as informações e os documentos que foram repassados nos termos de confidencialidade – espécie de pré-delação que antecede a assinatura do acordo de delação premiada.
Por envolverem dezenas de executivos, os depoimentos devem levar mais de um mês, uma vez que cada um deve ser ouvido individualmente.
A previsão é que os acordos só sejam enviados para homologação do Supremo Tribunal Federal (STF) no ano que vem.
A delação da Odebrecht é tida, no meio político, como a de maior potencial para provocar enorme impacto nas investigações.
Isso porque os executivos citaram mais de 200 nomes de políticos de diversos partidos.
Dentre os nomes citados estão o de políticos que concorreram à Presidência da República, governadores, senadores e deputados, além de politicos locais, com força em sua região.
Planilha
Em março deste ano, a Polícia Federal encontrou planilhas que mostram doações feitas pela Odebrecht a mais de 200 políticos de 24 partidos.
Os documentos foram apreendidos na residência do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Junior, que foi preso temporariamente na 23ª fase da Operação Lava Jato e liberado posteriormente pela Justiça.
De acordo com as tabelas, os repasses foram feitos pela empreiteira para as campanhas municipais de 2012 e para as eleições de 2010 e de 2014.
À época, não era possível afirmar que se tratavam de doações legais de campanha ou feitas por meio de caixa 2, já que os documentos não detalham se os valores, de fato, foram repassados e se foram pagos em forma de doação oficial.
Nas tabelas que relacionam o nome de políticos, os valores repassados ultrapassariam os R$ 55 milhões.
Gravação divulgada em maio mostrou o ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB-AP) afirmando que eventuais delações premiadas de executivos da empreiteira Odebrecht eram “uma metralhadora de [calibre] ponto 100”.
Setor de propina
Ao longo das investigações, o MPF descobriu a existência do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht – departamento cuja finalidade era pagamento de propina, de acordo com investigadores.
Após a descoberta do “setor de propinas”, a PF elaborou um relatório apontando que a Odebrecht pagou vantagens indevidas em diversas obras, como as do metrô de Ipanema, no Rio, da Linha 4 do metrô de São Paulo, em construções de presídios, penitenciárias e casas de custódia no Rio, em obras do Porto de Laguna (SC), do Aeroporto Santos Dumont, do autódromo de Jacarepaguá e das piscinas olímpicas do Pan-Americano de 2007, no Rio.
No relatório, também foram listados codinomes de possíveis beneficiários, sem ligá-los a obras. Investigadores não disseram a quem se referem os codinomes.