O arcebispo metropolitano de Maceió, Dom Antônio Muniz, voltou a denunciar a interferência de políticos e famílias do poder em comunidades terapêuticas em Alagoas. A denúncia ocorreu durante coletiva à imprensa na manhã desta quarta-feira, 4, na Cúria Metropolitana. Muniz se mostrou insatisfeito com o que ele chamou de perpetuação do poder de famílias de políticos que encontraram nas comunidades terapêuticas uma forma de interferência.
Na ocasião, Dom Muniz explicou as motivações que o levaram a assinar um decreto jurídico episcopal – no último dia 23 de dezembro – determinando normas de funcionamento e regulamentação das atividades de comunidades terapêuticas denominadas cristãs católicas.
O decreto do arcebispo foi publicado no mesmo dia que o então secretário da pasta responsável pelas comunidades – Jardel Aderico – emitiu uma carta melancólica a Renan Filho dando conta do seu afastamento. Na ocasião, o ex-secretário teria sido afastado da pasta por decisão do governador Renan Filho (PMDB) e por interferência do deputado federal Givaldo Carimbão (PHS).
A assessoria da Seprev se limitou a dizer que Carimbão e Jardel discordaram de questões fundamentais na pasta e que a nova indicação atenderia “critérios técnicos”.
Segundo Dom Muniz, a política de drogas deve ser tratada como política de Estado e não partidária. “A comunidade terapêutica tem que ser para o tratamento das pessoas que estão no mundo das drogas e não para a intenção de se perpetuar no poder, muito menos da utilização de palanque político de secretarias para determinar como deve ser a conduta nas casas”.
Ele destacou que a sua decisão, enquanto chefe da Igreja Católica Apostólica Romana em Maceió, foi tomada após uma reunião que durou mais de uma hora com o governador de Alagoas, Renan Filho. Segundo Muniz, Renan foi informado de toda a situação e que a igreja deve manter seu papel de veículo de diálogo e “não de subserviência”.
O arcebispo destacou que foi contrário à criação da secretaria responsável pelo gerenciamento e acompanhamento das atividades das comunidades terapêuticas no Estado. Segundo ele, a criação de uma secretaria demandaria maiores custos e gerência política.
Em relação ao decreto Muniz destacou: “essa decisão foi tomada após o fim de um processo político, quando se desmonta um palanque e já monta outra e as comunidades terapêuticas católicas e cristãs não podem contribuir com isso, se for assim vai perder toda a assistência eclesial e vai ter a assistência do político, do deputado que está ajudando. Que pinte da cor que eles querem, que coloque até o nome de quem está ajudando”, disparou.
Muniz destacou ainda que após a publicação do seu decreto jurídico episcopal as comunidades terapêuticas, inclusive protestantes, o procuraram e fizeram um manifesto que passa a ser assinado como Rede Cristã de Acolhimento atuando como mediadora, porém, em relação as denúncias de excessos e exageros em comunidades como torturas, tráfico e outras situações: “ficará por parte da imprensa que já vem denunciando a situação”.