O caso Márcia Rodrigues Farias, encontrada morta em 14 de agosto num condomínio de luxo em Paripueira, teve, finalmente, uma conclusão. Segundo laudo pericial apresentado na tarde desta segunda-feira, 30, em coletiva à imprensa, a jornalista teria cometido suicídio.
Márcia era filha do delegado aposentado da Polícia Federal Milton Omena Farias, assassinado pelo neto, na última sexta-feira (27), após luta corporal.
O perito criminal Jeiely Ferreira disse à imprensa que foram achados na cena do crime quatro projéteis, três no piso do quarto e o último no colchão, compatíveis com os disparos feitos, dois contra a parede, como teste para a arma, e dois contra si mesma, em uma tentativa de auto-eliminação (suicídio).
Ainda de acordo com ele, as manchas de sangue encontradas no colchão e travesseiro, por projeção, e no chão, por gotejamento, reafirmam a versão de suicídio, e são compatíveis com as lesões de entrada e saída no corpo de Márcia, na cervical lateral direita (pescoço) e na área mamária esquerda (peito), de tiros desferidos de baixo para cima.
“O primeiro tiro que atingiu o pescoço da vítima não foi fatal, após um intervalo curto de tempo, ela disparou contra o próprio peito atingido o objetivo imaginado, seu próprio óbito”, explicou o perito.
O delegado Lucimério Santos, que compõe a comissão de investigação do caso, disse que uma testemunha relatou que pouco antes do crime, Márcia e o pai estavam em um carro, na frente da casa dele, prestes a sair para o almoço do Dia dos Pais e que de acordo com depoimento do pai, Márcia teria descido do carro para ir ao banheiro, o pai ficou no carro, e foi nesse momento ela se matou. A polícia explica que é possível que o pai não tenha ouvido os tiros como havia alegado. “É possível que ele realmente não tenha ouvido, pois estava dentro do carro, com rádio e celular ligados. A garagem também fica distante da casa”, ressaltou o delegado.
A respeito da contestação da família sobre a teoria de suicídio, o delegado disse respeitar a opinião da família, mas que a conclusão foi baseada em provas. “Lançamos mão de diversas técnicas de investigação e essa é a convicção da comissão de delegados”, disse.
Segundo a polícia, a arma pertencia ao pai de Márcia, que alegou que não sabia onde se encontrava. Questionado a respeito do depoimento dado na época do crime por um vizinho, oficial reformado do exército João Monteiro da Costa, que afirma ter entregue a arma a Milton Omena dias antes do crime, após ter levado-a para uma limpeza em Recife, a pedido do próprio Milton Omena, o delegado disse que ficou confirmado que os dois eram “inimigos capitais” e seu depoimento foi desacreditado.
Ainda segundo as investigações, no celular de Márcia foram encontradas conversas dela em que questionava o pai a respeito de R$ 136 mil em precatórios que ele receberia, mas que pelo tempo, a família também teria direito. “A mãe dela teria aconselhado ela não tocar no assunto com o pai para não criar confusão. Acredito que eles tenham debatido sobre o assunto, o que pode ter colaborado para que ela se sentisse mal em uma data festiva”, disse o delegado.
A polícia informou ainda que o laudo foi concluído sem o exame residuográfico, que serve para detectar vestígios de arma de fogo. Segundo a polícia, uma das perícias foi solicitada ao Instituto Nacional de Criminalística (INC), da Polícia Federal (PF), em Brasília, pois o Instituto de Criminalística (IC) de Maceió não possui o equipamento para este tipo de exame. Até o momento o resultado do exame não teria sido entregue por razão do equipamento utilizado estar quebrado e haver uma fila de espera de demandas de todos os estados do país, mas que o resultado deste exame não afetará o laudo final apresentado hoje. Não há previsão para que o resultado seja entregue.
“Ele merece morrer”
A respeito do caso da morte do avô, o delegado aposentado da Polícia Federal, Milton Omena Farias, assassinado pelo neto, de mesmo nome, na tarde da última sexta-feira (27), o delegado responsável pelas investigações preliminares, Tarcízo Vitorino, disse que a linha apresentada pela defesa do rapaz, de que ele teria agido em legítima defesa, deve ser confirmada pelo inquérito já instaurado.
De acordo com o delegado, além de apresentar ferimentos de defesa consistentes com a versão dada por ele em depoimento, o relato feito pelo jovem é crível e foi confirmado com as primeiras testemunhas já ouvidas, mas somente o laudo pericial irá confirmar.
“Em depoimento o Neto disse que foi à casa do avô para confrontá-lo sobre a culpa dele na morte da mãe [a jornalista Márcia Rodrigues]. Inicialmente, o neto haveria agredido o avô com um empurrão que reagiu já empunhando a faca. Em briga corporal o neto teria conseguido conter o avô com um golpe ‘mata leão’ e acabara ferindo-o na altura do peito e depois golpeando-o com murros no rosto”, explicou o delegado.
Após se acalmar, o jovem teria pedido por socorro a vizinhos e funcionários do condomínio, e ainda tentado ajudar o avô fazendo massagem cardíaca nele, que já estava em óbito, e, em nenhum momento se afastou da cena do crime ou reagiu à prisão. “Num primeiro momento ele estava muito alterado, demonstrando sinais de perturbação mental, e, de acordo com as primeiras pessoas que chegaram no local do crime, ele falava que o avô merecia morrer, depois de um tempo ele se acalmou e esperou calmamente a condução à delegacia”, contou.
Em depoimento colhido na delegacia no dia do crime o jovem, já mais calmo, explicou todo o ocorrido com coerência e em nenhum momento se contradisse ou mudou sua versão, mas também não demonstra arrependimento. Os advogados de Milton Omena Farias Neto acompanharam a coletiva, mas não falaram com a imprensa. No último domingo (29) eles pediram à justiça que o jovem respondesse pelo crime em liberdade, pedido negado pelo juiz Diogo de Mendonça Furtado após audiência de custódia no Fórum de Maragogi. Os advogados irão entrar com pedido de habeas corpus contra a decisão do juiz.
O inquérito sobre o assassinato do delegado da PF ainda vai ser concluído. O celular da vítima foi levado para a polícia analisar mensagens.
Coletiva cancelada
Questionado a respeito da coincidência da data do crime e do cancelamento da primeira coletiva de imprensa onde seria apresentada a conclusão do caso da jornalista Márcia Rodrigues, na última sexta-feira, 27, o secretário de Segurança Pública do Estado, Lima Júnior disse não haver possibilidade “do jovem ou de qualquer outra pessoa que não fizesse parte da comissão de investigação do crime ter tido acesso à conclusão do inquérito do caso antes da atual data” e que lamentava profundamente os fatos ocorridos.
Para ele também o suspeito não foi à casa do avô para vingar a morte da mãe. “Se ele diz que foi forçar o avô a confessar o crime, ele não sabia que havia a conclusão do inquérito. O que aconteceu lá foi luta corporal, onde inicialmente quem estava com a faca era o avô. A princípio, quem partiu para a agressão foi o avô. Se o neto tivesse ido vingar a morte, essa luta não teria acontecido”, comentou.