O teste de um motor de foguete da Coreia do Norte no último fim de semana foi seguido pela usual propaganda estatal. Mas uma imagem do líder do país comemorando o feito, reproduzida acima, chamou atenção. Afinal, quem ousaria pular nas costas de Kim Jong-un – e por quê?
Realizado no último domingo, o teste foi considerado um sucesso, um “renascimento” da indústria de foguetes norte-coreana. E uma coisa é certa: Kim Jong-un estava feliz.
Observadores dizem que o homem misterioso não é uma figura política conhecida. Acredita-se que ele teve um papel importante no teste do motor e já havia interagido anteriormente com o líder norte-coreano, como mostraram outras fotos da sequência.
Michael Madden, analista especializado em assuntos norte-coreanos, diz que o uniforme indica se tratar de um oficial de patente intermediária da Força Estratégica do Exército do Povo da Coreia, a KPA, responsável pelos mísseis ofensivos do país.
Quase certamente a imagem é uma encenação, “mas não foi totalmente maquinada ou fabricada”, disse Madden, que trabalha no Instituto EUA-Coreia da Universidade Johns Hopkin, em Washington.
“Foi mais um sinal de permissão e encorajamento do que um momento completamente planejado por um assessor de imagem.”
Em outras ocasiões, filmes de propaganda norte-coreana mostraram cidadãos comuns sendo autorizados a se aproximar de Kim.
‘Amigável e jovial’
O principal objetivo da foto seria reforçar a imagem – para o público interno – de Kim como um jovial homem do povo.
Enquanto ele tenta passar uma imagem internacional de “intransigência”, em casa “a história é diferente”, observa o professor Jae-Cheon Lim, da Universidade de Seul, na Coreia do Sul.
“Sabemos que ele é muito severo com as elites quando não obedecem as suas ordens. Mas, em relação ao povo em geral, sua imagem é amigável e jovial.”
Isso é bem diferente do que ocorria com seus antecessores, que eram mais temidos do que amados.
“Ninguém ousaria fazer ‘cavalinho’ no pai dele ou no avô”, diz Madden.
O avô, Kim Il-sung, foi o líder da Coreia do Norte desde a fundação do país em 1948 até a data da sua morte, em 1994. Até hoje é chamado de “Presidente Eterno”.
O pai, Kim Jong-il, era chamado de “Líder Supremo” (e também de “Querido Líder”, “Comandante Supremo” e “Nosso Pai”), e a referência à sua figura estava presente em quase todas as esferas da vida diária norte-coreana, promovida por um ferrenho culto à personalidade que não admitia oposição.
Por isso, Kim Jong-il era considerado por muitos estrangeiros o chefe de Estado mais totalitário do planeta.
A foto tem ligação com a imagem que Kim Jong-un vem tentando cultivar – a de que é mais aberto e descontraído que seu pai.
“Ela transmite uma sensação de certa confiança política no seu governo e no seu comando do país. Se ele não se sentisse seguro, não teria autorizado a divulgação da imagem – ele iria parecer distante e frio.”
A foto também indica que Kim está bem de saúde.
Ele foi visto mancando e usando uma bengala em 2014, o que gerou especulações de que estaria sofrendo de gota. No fim do ano passado, voltou a mancar.
Seguindo o exemplo do futebol
Pular nas costas de um companheiro depois de uma vitória – ou seja, fazer um “cavalinho” – é uma comemoração vista mais frequentemente nos campos de futebol do que nas fotos de propaganda da Coreia do Norte.
Mas Kim Jong-un é famoso por adotar uma abordagem comum ao gerenciamento esportivo quando se trata dos programas de desenvolvimento de armas do país.
“Quando é realizado um teste, o pessoal civil e militar é orientado a se comportar como se estivesse numa competição esportiva – algumas vezes se ganha, em outras se perde”, explica Madden.
“Eles não ‘vencem’ ou atingem as exigências técnicas todas as vezes e, quando ‘perdem’, estudam seu desempenho e o que aconteceu.”
Apesar de toda a sua espontaneidade artificial, isso não quer dizer que Kim Jong-un não esteja feliz de verdade na foto.
O professor Lin destaca que ele tem bons motivos para comemorar o aparente sucesso do teste com o motor de foguete, que o deixa mais perto dos seus objetivos nucleares – e de parte do seu legado.
“Nos anais da propaganda norte-coreana, seu avô foi o libertador da Coreia durante uma guerra de guerrilha contra o Japão. Seu pai o sucedeu e manteve o regime mesmo diante da pobreza da população”, explica.
“Kim Jong-un tornou-se líder rapidamente e ainda não tem no currículo conquistas importantes.”
“Se a Coreia do Norte se tornar uma potência nuclear, esta será a sua conquista”, disse.