Quando um novo tipo de banco surgiu no metrô da Cidade do México, ele foi considerado inapropriado, desconfortável e humilhante. Mas ele foi criado justamente para isso.
Com um encosto moldado como o torso do corpo de um homem e o assento como sua virilha, inclusive com um pênis, o banco faz parte de uma campanha #NoEsDeHombres (não é de homens, em espanhol) contra o assédio a mulheres no metrô.
Seu objetivo é conscientizar a população sobre o problema do assédio no sistema de transporte público.
Um aviso indica se tratar de um banco exclusivo para homens: “É desconfortável sentar aqui, mas isso não se compara à violência sexual a que mulheres estão sujeitas em suas viagens diárias”.
Um vídeo sobre a campanha já foi visto mais de 700 mil vezes no portal YouTube nos últimos dez dias.
As reações à iniciativa foram variadas. No comentários, há elogios, mas também críticas; muitos consideram a campanha “sexista” e injusta com os homens.
Rene Lopez Perez, diretora de pesquisa da Gendes, uma ONG mexicana que busca promover a igualdade de gênero e combater o assédio sexual, elogia a iniciativa.
Ela avalia se tratar de um problema sério no país, em torno da qual deveria haver mais debates. No entanto, ressalta que não se deve tratar qualquer homem como um assediador. “Não podemos estigmatizar todos os homens como violentos.”
Holly Kearl, fundadora do site Stop Street Harassment(Pare o Assédio nas Ruas, em tradução livre) nos Estados Unidos, avalia ser positivo que o foco do debate não esteja nas mulheres.
“Muitas vezes, as iniciativas em prol da segurança das mulheres se concentram no que elas devem ou não fazer, então, é um alento ver uma campanha criativa em que o foco esteja nos homens.”
O metrô da capital mexicana tem uma reputação ruim quanto às condições a que suas passageiras são submetidas.
Em 2014, uma pesquisa da empresa YouGov sobre assédio no transporte público em todo o mundo trouxe o metrô da Cidade do México como o pior em termos de assédio verbal e físico.
Ao longo dos anos, a cidade já testou diferentes estratégias para combater o problema. As composições têm vagões exclusivos para mulheres, por exemplo. O mesmo foi feito com ônibus.
Um coletivo de arte, o Las Hijas de Violencia (As Filhas da Violência), estimulou mulheres a reagir ao assédio tocando música punk e disparando canhões de confete.
No ano passado, o prefeito da cidade gerou polêmica ao propor uma nova estratégia, a de distribuir apitos que seriam usados por mulheres toda vez que se sentissem ameaçadas.
Críticos apontaram que o projeto não lidava com a origem do problema. “Se gritar não resolve, como isso (o apito) vai resolver?”, escreveu, na ocasião, a jornalista Andrea Noel no Twitter.
Muitas dessas iniciativas foram questionadas. A mexicana Ninde, que prefere não revelar seu nome completo, diz não acreditar que os vagões exclusivos funcionem; ela relata ter sido assediada dentro de um deles por um homem que ejaculou nela.
Ela tenta não usar o metrô atualmente, a não ser acompanhada. E diz que gostaria de ver iniciativas além do “banco com pênis”. “Isso parece ridicularizar o assédio sexual. Um assédio real não é assim. Fico um pouco revoltada que não haja medidas reais para acabar com esse problema.”